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Jardim das Delícias



Sexta-feira, 30.11.12

Ilusão cruel - José Goulão

 

José Goulão  Ilusão Cruel

 

 

 

(Pablo Picasso)

 

O suspiro de alívio resultante do cessar-fogo em Gaza proclamado através do mundo pelo irmão muçulmano que preside ao Egipto, com o ámen da senhora Clinton e o habitual encolher de ombros do primeiro ministro de Israel, é uma ilusão com pés de mentira e cenário de manobras estratégicas cada vez mais complexas e, por via disso, de consequências seguramente mais imprevisíveis.

Uma ilusão que é cruel para os que voltarão a ser as principais vítimas quando ela tragicamente se desfizer – os habitantes de Gaza e os palestinianos em geral.

Calaram-se temporariamente as armas mas o que aconteceu para além da pompa e circunstância do anúncio? Israel prometeu que não bombardeia Gaza, que não comete mais execuções extra judiciais de dirigentes do Hamas e que irá ampliar a disponibilidade de movimentos dos cidadãos do território; o Hamas compromete-se a não lançar mísseis contra o território israelita. Ambos os lados garantem que continuam com os dedos no gatilho, o primeiro-ministro israelita ameaça que se houver quebra da trégua a resposta será mais violenta ainda, mas o problema de fundo subsiste: o criminoso e asfixiante bloqueio à Faixa de Gaza, que até o conservadoríssimo primeiro-ministro britânico Cameron qualifica como “prisão a céu aberto”.

O que aconteceu como reflexo de mais este episódio de uma guerra sem termo, além da liquidação de 185 habitantes de Gaza, famílias inteiras, algumas dezenas de crianças e da destruição de mais edifícios num território em escombros?

Aconteceu que o novo poder da Irmandade Muçulmana no Egipto se tornou figura de pleno direito da chamada “comunidade internacional”, respeitável mediador como foi durante décadas o agora proscrito Mubarak, e que para tal recebeu o diploma do regime norte-americano, que é quem tem, como se sabe, a última palavra nestas coisas. Bem… talvez essa palavra já seja a penúltima porque Benjamin Netanyahu continua a dispor de todas as facilidades para dizer – sobretudo fazer – mais qualquer coisa.

A passagem do poder islamita no Egipto neste teste interessava a muita gente. Principalmente à administração norte-americana, que mantém na prática o status quo em relação ao segundo maior aliado na região e logo numa altura em que o ramo sírio da Irmandade Muçulmana recebeu, ainda que de maneira disfarçada, a chefia da coligação anti-Assad fabricada no Qatar para chegar a Damasco. Interessa, e muito, a Israel, que vê sufragados os acordos “de paz” de Camp David pelos islamitas egípcios e fica com o inimigo Hamas sujeito a influências de dois islamismos antagónicos – Egipto e Irão – e de costas cada vez mais voltadas para o governo palestiniano de Ramallah.

Com este episódio em Gaza aconteceu também que a iniciativa do presidente palestiniano Mahmud Abbas de pedir de novo o reconhecimento da Palestina na ONU ficou soterrada nas ruínas geradas pelos acontecimentos. Tal iniciativa passará a ser lida à luz de uma torrente de novos e velhos dados que servirão de alibi determinante para os que não querem aceitar essa declaração – e que são também os que decidem em derradeira instância.

Quando o cessar-fogo for quebrado, o que acontecerá inevitavelmente porque a continuação do bloqueio o garante, o megafone mediático mundial encarregar-se-á de ditar quem foi, ilibando o mediador egípcio e permitindo a Benjamin Netanyahu, se disso necessitar para fins eleitorais, o recomeço dos bombardeamentos, das execuções e também a invasão terrestre, que continua a estar operacional.

Para a “comunidade internacional”, de consciência tranquila devido aos denodados esforços diplomáticos feitos, a segurança, a dignidade e a liberdade dos cidadãos de Gaza, o direito legítimo dos palestinianos a terem o seu Estado podem e devem continuar adiados, como sempre. Nada mais natural porque eles são os culpados de tudo o que lhes acontece, não é isso que dita a inquestionável verdade oficial?

 
22/Novembro/2012

 

[*] Jornalista

 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .  

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por Augusta Clara às 16:00

Sexta-feira, 30.11.12

Carta Aberta a Passos Coelho

 

 

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro,

 

Os signatários estão muito preocupados com as consequências da política seguida pelo Governo.

 

À data das últimas eleições legislativas já estava em vigor o Memorando de Entendimento com a Troika, de que foram também outorgantes os líderes dos dois Partidos que hoje fazem parte da Coligação governamental.

 

O País foi então inventariado à exaustão. Nenhum candidato à liderança do Governo podia invocar desconhecimento sobre a situação existente. O Programa eleitoral sufragado pelos Portugueses e o Programa de Governo aprovado na Assembleia da República, foram em muito excedidos com a política que se passou a aplicar. As consequências das medidas não anunciadas têm um impacto gravíssimo sobre os Portugueses e há uma contradição, nunca antes vista, entre o que foi prometido e o que está a ser levado à prática.

 

Os eleitores foram intencionalmente defraudados. Nenhuma circunstância conjuntural pode justificar o embuste.

 

Daí também a rejeição que de norte a sul do País existe contra o Governo. O caso não é para menos. Este clamor é fundamentado no interesse nacional e na necessidade imperiosa de se recriar a esperança no futuro. O Governo não hesita porém em afirmar, contra ventos e marés, que prosseguirá esta política - custe o que custar - e até recusa qualquer ideia da renegociação do Memorando.

 

Ao embuste, sustentado no cumprimento cego da austeridade que empobrece o País e é levado a efeito a qualquer preço, soma-se o desmantelamento de funções essenciais do Estado e a alienação imponderada de empresas estratégicas, os cortes impiedosos nas pensões e nas reformas dos que descontaram para a Segurança Social uma vida inteira, confiando no Estado, as reduções dos salários que não poupam sequer os mais baixos, o incentivo à emigração, o crescimento do desemprego com níveis incomportáveis e a postura de seguidismo e capitulação à lógica neoliberal dos mercados.

 

Perdeu-se toda e qualquer esperança.

 

No meio deste vendaval, as previsões que o Governo tem apresentado quanto ao PIB, ao emprego, ao consumo, ao investimento, ao défice, à dívida pública e ao mais que se sabe, têm sido, porque erróneas, reiteradamente revistas em baixa.

 

O Governo, num fanatismo cego que recusa a evidência, está a fazer caminhar o País para o abismo.

 

A recente aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável, que não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão, é de uma enorme gravidade, para além de conter disposições de duvidosa constitucionalidade. O agravamento incomportável da situação social, económica, financeira e política, será uma realidade se não se puser termo à política seguida.

 

Perante estes factos, os signatários interpretam – e justamente – o crescente clamor que contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo, sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República, poupando assim o País e os Portugueses ainda a mais graves e imprevisíveis consequências.

 

É indispensável mudar de política para que os Portugueses retomem confiança e esperança no futuro.

 

PS: da presente os signatários darão conhecimento ao Senhor Presidente da República.

 

Lisboa, 29 de Novembro de 2012

 

MÁRIO SOARES

ADELINO MALTEZ (Professor Universitário-Lisboa)

ALFREDO BRUTO DA COSTA (Sociólogo)

ALICE VIEIRA (Escritora)

ÁLVARO SIZA VIEIRA (Arquiteto)

AMÉRICO FIGUEIREDO (Médico)

ANA PAULA ARNAUT (Professora Universitária-Coimbra)

ANA SOUSA DIAS (Jornalista)

ANDRÉ LETRIA(Ilustrador)

ANTERO RIBEIRO DA SILVA (Militar Reformado)

ANTÓNIO ARNAUT (Advogado)

ANTÓNIO BAPTISTA BASTOS (Jornalista e Escritor)

ANTÓNIO DIAS DA CUNHA (Empresário)

ANTÓNIO PIRES VELOSO (Militar Reformado)

ANTÓNIO REIS (Professor Universitário-Lisboa)

ARTUR PITA ALVES (Militar reformado)

BOAVENTURA SOUSA SANTOS (Professor Universitário-Coimbra)

CARLOS ANDRÉ (Professor Universitário-Coimbra)

CARLOS SÁ FURTADO (Professor Universitário-Coimbra)

CARLOS TRINDADE (Sindicalista)

CESÁRIO BORGA (Jornalista)

CIPRIANO JUSTO (Médico)

CLARA FERREIRA ALVES (Jornalista e Escritora)

CONSTANTINO ALVES (Sacerdote)

CORÁLIA VICENTE (Professora Universitária-Porto)

DANIEL OLIVEIRA (Jornalista)

DUARTE CORDEIRO (Deputado)

EDUARDO FERRO RODRIGUES (Deputado)

EDUARDO LOURENÇO (Professor Universitário)

EUGÉNIO FERREIRA ALVES (Jornalista)

FERNANDO GOMES (Sindicalista)

FERNANDO ROSAS (Professor Universitário-Lisboa)

FERNANDO TORDO (Músico)

FRANCISCO SIMÕES (Escultor)

FREI BENTO DOMINGUES (Teólogo)

HELENA PINTO (Deputada)

HENRIQUE BOTELHO (Médico)

INES DE MEDEIROS (Deputada)

INÊS PEDROSA (Escritora)

JAIME RAMOS (Médico)

JOANA AMARAL DIAS (Professora Universitária-Lisboa)

JOÃO CUTILEIRO (Escultor)

JOÃO FERREIRA DO AMARAL (Professor Universitário-Lisboa)

JOÃO GALAMBA (Deputado)

JOÃO TORRES (Secretário-Geral da Juventude Socialista)

JOSÉ BARATA-MOURA (Professor Universitário-Lisboa)

JOSÉ DE FARIA COSTA (Professor Universitário-Coimbra)

JOSÉ JORGE LETRIA (Escritor)

JOSÉ LEMOS FERREIRA (Militar Reformado)

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA (Professor Universitário-Lisboa)

JÚLIO POMAR (Pintor)

LÍDIA JORGE (Escritora)

LUÍS REIS TORGAL (Professor Universitário-Coimbra)

MANUEL CARVALHO DA SILVA (Professor Universitário-Lisboa)

MANUEL DA SILVA (Sindicalista)

MANUEL MARIA CARRILHO (Professor Universitário)

MANUEL MONGE (Militar Reformado)

MANUELA MORGADO (Economista)

MARGARIDA LAGARTO (Pintora)

MARIA BELO (Psicanalista)

MARIA DE MEDEIROS (Realizadora de Cinema e Atriz)

MARIA TERESA HORTA (Escritora)

MÁRIO JORGE NEVES (Médico)

MIGUEL OLIVEIRA DA SILVA (Professor Universitário-Lisboa)

NUNO ARTUR SILVA (Autor e Produtor)

ÓSCAR ANTUNES (Sindicalista)

PAULO MORAIS (Professor Universitário-Porto)

PEDRO ABRUNHOSA (Músico)

PEDRO BACELAR VASCONCELOS (Professor Universitário-Braga)

PEDRO DELGADO ALVES (Deputado)

PEDRO NUNO SANTOS (Deputado)

PILAR DEL RIO SARAMAGO(Jornalista)

SÉRGIO MONTE (Sindicalista)

TERESA PIZARRO BELEZA (Professora Universitária-Lisboa)

TERESA VILLAVERDE (Realizadora de Cinema)

VALTER HUGO MÃE (Escritor)

VITOR HUGO SEQUEIRA (Sindicalista)

VITOR RAMALHO (Jurista) -que assina por si e em representação de todos os signatários)

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por Augusta Clara às 14:00



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