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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Primo Levi Se isto é um homem
(texto de Primo Levi - nascido em 31 de Julho de 1919 em Turim - interpretado por Dino Becagli, acompanhado pela música composta por John Williams para o filme A Lista de Schindler)
nelle vostre tiepide case,
voi che trovate tornando a sera
... il cibo caldo e visi amici:
Considerate se questo è un uomo
che lavora nel fango
che non conosce pace
che lotta per mezzo pane
che muore per un si o per un no.
Considerate se questa è una donna,
senza capelli e senza nome
senza più forza di ricordare
vuoti gli occhi e freddo il grembo
come una rana d'inverno.
Meditate che questo è stato:
vi comando queste parole.
Scolpitele nel vostro cuore
stando in casa andando per via,
coricandovi, alzandovi.
Ripetetele ai vostri figli.
O vi si sfaccia la casa,
la malattia vi impedisca,
i vostri nati torcano il viso da voi.
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A guerra que elas não entendem
Nota: Chegou-me assim de várias pessoas e subscrevo.
É difícil comentar esta fotografia…
“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.”
El escritor recuerda con ternura el nacimiento de su hijo
Publicado em El Cultural.es no dia 30 de Julho de 2013
Un viaje placentero de la memoria me lleva hasta una habitación blanca en la que me veo esperando junto a otros hombres nerviosos que fuman o se estrujan las manos. Veo que también tengo un libro, pero no leo, tampoco me interesan los periódicos y revistas que hay en una mesa de centro, y cuando llevo ahí casi dos horas, una mujer vestida de blanco dice mi nombre, la sigo, mi compañera yace en una cama con gesto agotado y junto a ella un pequeño ser, con rostro de monje asiático mueve las manos y deja oír su voz.
"Es nuestro hijo" susurra, y tomo en mis brazos a ese pequeño ser que ahora tiene cuarenta años y suele mirarme con la misma expresión de la primera vez.
Luis Sepúlveda (Ovalle, Chile, 1949) se convirtió, tras la publicación de 'Un viejo que leía novelas de amor' (1992) en uno de los escritores latinoamericanos más leídos en todo el mundo. Sufrió prisión durante la dictadura de Pinochet y posteriormente abandonó el país. El exilio le llevó a Europa, donde ha ido publicando la mayoría de sus novelas y relatos, entre los que destacan 'Mundo del fin del mundo' (1994); 'Nombre de torero' (1994), su primera novela negra; 'Patagonia Express' (1995), un libro de viajes; el cuento 'Historia de una gaviota y del gato que le enseñó a volar' (1996); 'Historias marginales' (2000), 'Hot line' (2002), y 'La sombra de lo que fuimos' con el que obtuvo el Premio Primavera 2009.
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Boaventura de Sousa Santos O previsível pode acontecer
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Publicado no Nº. 1064 da revista Visão de 25 a 31 de Julho de 2013
A última cambalhota do Presidente da República (PR) mostra que o País atravessa um momento de irracionalidade tal que torna tudo imprevisível. Os decisores políticos não são irracionais, mas as condições em que se resignam a operar obrigam-nos a agir como se fossem. Para serem coerentes, as decisões políticas têm de ter um só ponto de referência. Em democracia, esse ponto é a vontade dos cidadãos, e os conflitos decorrem das diferentes interpretações dessa vontade. Atualmente, em vez de um há dois pontos de referência: a vontade dos cidadãos e a vontade dos mercados financeiros. Nas condições presentes, as duas são inconciliáveis. O PR disse numa semana que era fácil conciliá-las e, na seguinte, que só a vontade dos mercados conta. Um decisor deste tipo acabará por «ser decidido» por fatores que o ultrapassam e que não pode prever. Dada a irracionalidade instalada, tais fatores, vistos de fora, são afinal os mais previsíveis. Vou-me referir a alguns deles.
1. Em condições de tutela internacional, quem decide não é quem diz decidir e quem tem poder para decidir não revela motu próprio os limites do seu poder. Por isso, as alternativas ou a capacidade de manobra concretas só se revelam aos que se dispuserem a questionar a tutela. Tal questionamento implica, neste caso, ter a vontade dos cidadãos como único ponto de referência. Se tal questionamento ocorrer, será possível prever uma agenda concreta pautada pelo facto de o que há meses era evidente apenas para os dissidentes ser hoje evidente para todos os governantes europeus.
A saber: as políticas de austeridade estão a conduzir ao desastre a Europa e não apenas os países do sul; nos EUA, donde veio a ortodoxia económica e financeira que nos domina, o Estado não tem qualquer problema em intervir na economia sempre que o mercado descarrila; a dívida, no seu atual montante, é impagável; é técnica e politicamente complicado mas possível recomprar parte da dívida abaixo do valor nominal com total proteção da dívida que não pode ser tocada; o mesmo se diga de uma moratória ao pagamento do serviço da dívida enquanto durar uma negociação com os credores; a mutualização europeia da dívida já está em curso e deve ser aprofundada; várias condições do memorando da troika têm de ser alteradas em função das mudanças macroe-conómicas; em diferentes momentos foi isto que fizeram outros países sufocados pela dívida, nomeadamente a Alemanha; é de todo legal que o Estado acione os poderes que a crise lhe conferiu (depois de lhe tirar muitos outros); assim, o Estado, ao recapi-talizar alguns bancos, tornou-se o acionista maioritário e pode acionar os poderes que tal posição lhe confere, sem extrapolar do direito privado; o Estado pode introduzir por essa via alguma política industrial com crédito direcionado para as PMEs e certos setores da indústria.
3. O capital financeiro pressiona os Estados mas não o faz de modo uniforme. O poder executivo tende a ser mais vulnerável, logo seguido do Parlamento. Já os tribunais, e, em especial, o Tribunal Constitucional, são mais imunes a tais pressões. Os despedimentos na função pública e os cortes nas pensões são inconstitucionais e é de prever que o TC não se demita da sua função de último garante da coesão social e da democracia consagradas na Constituição.
4. O mais imprevisível pode, de repente, tornar-se o mais previsível. Refiro--me à revolta dos cidadãos nas ruas e nas praças, inconformados com a indignidade a que as instituições e os governos os sujeitam. Não há nenhuma sociedade que não conheça a palavra Basta!
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Herberto Helder
(Adão Cruz)
e eis súbito oiço num transporte público:
as luzes todas acesas e ninguém dentro de casa:
sete ou nove metros de labaredas,
e nem um grito, um sussuro, uma palavra:
só a casa ocupada pela grandeza da estrela,
a grandeza primeira
(in Servidões, Assírio & Alvim)
Mia Couto O viajante clandestino
(Mojca Fo)
- Não é arvião. Diz-se: avião.
O menino estranhou a emenda de sua mãe. Não mencionava ele uma criatura do ar? A criança tem a vantagem de estrear o mundo, iniciando outro matrimónio entre as coisas e os nomes. Outros a elas se semelham, à vida sempre recém-chegando. São os homens em estado de poesia, essa infância autorizada pelo brilho da palavra.
- Mãe: avioneta é a neta do avião?
Vamos para a sala de espera, ordenou a mãe. Sala de esperas? Que o miúdo acreditava que todas as salas fossem iguais, na viscosa espera de nascer sempre menos. Ela lhe admolestou, prescrevendo juízo. Aquilo era um aeroporto, lugar de respeito. A senhora apontou os passageiros, seus ares graves, sotúrnicos. O menino mediu-se com aquele luto, aceitando os deveres do seu tamanho. Depois, se desenrolou do colo materno, fez sua a sua mão e foi à vidraça. Espreitou os imponentes ruídos, alertou a mãe para um qualquer espanto. Mas a sua voz se arfogou no tropel dos motores.
Eu assistia a criança. Procurava naquele aprendiz de criatura a ingenuidade que nos autoriza a sermos estranhos num mundo que nos estranha. Frágeis onde a mentira credencia os fortes.
Seria aquele menino a fractura por onde, naquela toda frieza, espreitava a humanidade? No aeroporto eu me salvava da angústia através de um exemplar da infância. Valha-nos nós.
O menino agora contemplava as traseiras do céu, seguindo as fumagens, lentas pegadas dos instantâneos aviões. Ele então se fingiu um aeroplano, braços estendidos em asas. Descolava do chão, o mundo sendo seu enorme brinquedo. E viajava por seus infinitos, roçando as malas e as pernas dos passageiros entediados. Até que a mãe debitou suas ordens. Ele que recolhesse a fantasia, aquele lugar era pertença exclusiva dos adultos.
- Arranja-te. Estamos quase a partir.
- Então vou despedir do passaporteiro
A mãe corrigiu em dupla dose. Primeiro, não ia a nenhuma parte. Segundo, não se chamava assim ao senhor dos passaportes. Mas só no presente o menino se subditava. Porque, em seu sonho, mais adiante, ele se proclama:
- Quando for grande quero ser passaporteiro.
E ele já se antefruía, de farda, dentro do vidro. Ele é que autorizava a subida aos céus.
- Vou estudar para migraceiro.
- És doido, filho. Fica quieto.
O miúdo guardou seus jogos, constreito. Que criança, neste mundo, tem vocação para adulto?
Saímos da sala para o avião. Chuviscava. O menino seguia seus passos quando, na lisura do alcatrão, ele viu o sapo. Encharcado, o bicho saltiritava. Sua boca, maior que o corpo, traduzia o espanto das diferenças. Que fazia ali aquele representante dos primórdios, naquele lugar de futuros apressados?
O menino parou, observente, cuidando os perigos do batráquio. Na imensa incompreensão do asfalto, o bicho seria esmagado por cega e certeira roda.
- Mãe, eu posso levar o sapo?
A senhora estremeceu de horror. Olhou vergonhada, pedindo desculpas aos passantes. Então, começou a disputa. A senhora obrigava o braço do filho, os dois se teimavam. Venceu a secular maternidade. O menino, murcho como acento circunflexo, subiu as escadas, ocupou seu lugar, ajeitou o cinto. Do meu assento eu podia ver a tristeza desembrulhando líquidas missangas no seu rosto. Fiz-lhe sinal, ele me encarou de soslado. Então, em seu rosto se acendeu a mais grata bandeira de felicidade. Porque do côncavo de minhas mãos espreitou o focinho do mais clandestino de todos os passageiros.
(in Cronicando, Caminho)
John Pilger Como estamos empobrecidos, aburguesados e silenciados – e o que fazer acerca disso
Conheço o meu carteiro há mais de 20 anos. Consciencioso e bem-humorado, ele é a encarnação do serviço público no seu melhor aspecto. Noutro dia, perguntei-lhe: "Por que é que você se posta frente a cada porta como um soldado numa parada?"
"Novo sistema", respondeu. "Já não me pedem para simplesmente postar as cartas através da porta. Tenho de abordar cada porta de um certo modo e enfiar as cartas através dela de um certo modo".
"Porquê?"
"Pergunte-lhes".
Do outro lado da rua estava um jovem solene, com prancheta na mão, cujo trabalho era seguir carteiros e ver se eles cumprem as novas regras, sem dúvida como preparativo para a privatização. Eu disse ao seguidor de carteiros que o meu era admirável. A sua cara permaneceu imutável, excepto por um momentâneo piscar confuso.
Em "Admirável mundo novo revisitado", Aldous Huxley descreve uma nova classe condicionada à normalidade que não é normal "porque eles estão tão bem ajustados ao nosso modo de existência, porque sua voz humana foi silenciada tão prematuramente nas suas vidas, que nem mesmo lutam ou sofrem ou desenvolvem sintomas como acontece com o neurótico".
A vigilância é normal na Era da Regressão – como revelou Edward Snowden. Câmaras por toda a parte são normais. Liberdades subvertidas são normais. A discordância pública efectiva é agora controlada pela polícia, cuja intimidação é normal.
A corrupção de nobres palavras como "democracia", "reforma", "bem-estar" e "serviço público" é normal. Primeiros-ministros que mentiram abertamente acerca de lobbystas e objectivos de guerra são normais. A exportação de armas britânicas no valor de 4 mil milhões de libras [€ ], incluindo munições para controle de multidão, para o estado medieval da Arábia Saudita, onde a apostasía é um crime capital, é normal.
A destruição deliberada de instituições públicas eficientes e populares, como a Royal Mail, é normal. Um carteiro já não é mais um carteiro, a fazer o seu trabalho decente; ele é um autómato a ser observado, um ítem de formulário a ser assinalado. Huxley descreveu esta regressão como insana e o nosso "perfeito ajustamento àquela sociedade anormal" como sinal de loucura.
Estaremos nós "perfeitamente ajustados" a isto? Não, ainda não. O povo defende hospitais do encerramento, o Reino Unido íntegro força agências bancárias a fecharem e seis corajosas mulheres escalam o mais alto edifício da Europa para mostrar a devastação provocada no Árctico pelas companhias de petróleo. Aqui, a lista começa a desvanecer-se.
No festival de Manchester deste ano, a épica peça "A máscara da anarquia", de Percy Bysshe Shelley – com todos os 91 versos escritos em cólera após o massacre de Lancashire, em 1819, do povo que protestava contra a pobreza – é uma peça teatral aplaudida e absolutamente divorciada do mundo externo. Em Janeiro último, a Comissão da Pobreza da Grande Manchester revelou que 600 mil habitantes de Manchester estavam a viver em "extrema pobreza" e que 1,6 milhão, ou aproximadamente a metade da população da cidade, estavam "a deslizar para pobreza mais profunda".
A pobreza foi aburguesada (gentrified). O Parkhill Estate, em Sheffield, era outrora um edifício de habitação pública – pouco apreciado por muita gente devido ao seu brutalismo Le Corbusier, à fraca manutenção e falta de instalações. Com o programa Heritage Grade II, ele foi renovado e privatizado. Dois terços das velhas habitações renasceram como apartamentos modernos vendidos a "profissionais", incluindo designers, arquitectos e um historiador social. No gabinete de vendas podem-se comprar canecas e almofadas de designer. Esta fachada não apresenta nem um indício de que, devastada pelos cortes de "austeridade" do governo, Sheffield tem uma lista de espera para habitação social de 60 mil pessoas.
Parkhil é um símbolo dos dois terços da sociedade que é a Grã-Bretanha de hoje. O terço aburguesado vai bem, alguns deles extremamente bem, um terço luta para sobreviver a crédito e o resto desliza para a pobreza.
Embora a maioria dos britânicos seja da classe trabalhadora – que se considere desse modo ou não – uma minoria aburguesada domina o parlamento, a administração superior e os media. David Cameron, Nick e Ed Milliband são os seus autênticos representantes, com apenas diferenças técnicas menores entre os seus partidos. Eles estabelecem os limites da vida e do debate político, ajudados pelo jornalismo aburguesado e da indústria da "identidade". A maior transferência de sempre da riqueza, para cima, é um dado. A justiça social foi substituída pela "justeza" ("fairness") sem significado.
Enquanto promove esta normalidade, a BBC concede um prémio de quase um milhão de libras a um funcionário superior. Embora se considere como o equivalente nos media à Igreja da Inglaterra, a corporação agora tem uma ética comparável àquela das companhias de "segurança" G4S e Serco as quais, diz o governo, cobraram a mais por serviços públicos dezenas de milhões de livros. Em outros países isto se chama corrupção.
Tal como a liquidação das companhias de água, gás, água e das ferrovias, a venda do Royal Mail está a ser obtida com subornos e a colaboração da liderança sindical, pouco importando o seu protesto vocal. Ao abrir a sua série de documentários de 1983, "Questions of Leadership", Ken Loach mostra líderes sindicais a exortarem as massas. Os mesmo homens são mostrados a seguir, mais velhos e enfeitados, adornados com arminho na Casa dos Lordes. Na recente homenagem pelo Aniversário da Rainha, o secretário-geral da [central sindical] TUC, Brendan Barber, recebeu o seu título de nobreza.
Por quanto tempo os britânicos podem assistir aos levantamentos por todo o mundo e pouco mais fazer do que chorar o defunto Partido Trabalhista? As revelações de Edward Snowden mostram a infraestrutura de uma polícia de estado a emergir na Europa, especialmente na Grã-Bretanha. Contudo, o povo está mais consciente do que nunca; e os governos temem a resistência popular – razão pela qual os que dizem a verdade são isolados, caluniados e perseguidos.
Mudanças grandiosas quase sempre começam com a coragem de pessoas que põem em causa suas próprias vidas contra todas as adversidades. Não há outra saída agora. Acção directa. Desobediência civil. Infalível. Leiam Percy Shelley – "Vocês são muitos; eles são poucos". E tenham êxito.
O original encontra-se no New Statesman e em johnpilger.com/...
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