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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
A descodificação de uma obra de arte, ainda que parcial, pode ser um fenómeno redutor que empobrece a obra.
Pode mesmo limitar ou até anular a sua própria hermenêutica, isto é, a força indutora das capacidades interpretativas.
(Adão Cruz)
Henry e June
(um filme sobre a ligação entre os escritores Henry Miller e Anaïs Nin)
- com Maria de Medeiros no papel de Anaïas Nin -
Ontem no Porto
(escola profissional "Árvore")
Perspectivas -Performances a partir da obra, pinturas e poemas de Adão Cruz
direcção Carlos Silva interpretação Ana Luísa Oliveira, Ana Rita Moreira, Bárbara Gomes, Bruno Maruqes, Diana Machado, Diogo Borges, Diogo Santos,
Diogo Almeida, Elisabete Campos, Flávia Nogueira, Inês Barros, Mariana
Barbosa, Miguel Nogueira, Patrícia Barreto, Paula Oliveira,
Raquel Magalhães, Sara Marques, Sarah Jane, Tânia Pinto, Sara Lopes, Xavier Belinha [ alunos do 3º ano do curso de dança do balleteatro escola profissional ]
Como o próprio Adão Cruz relatou:
A minha amiga Augusta Clara teve as gentileza de criar este post, no sentido de avisar que, devido ao mau tempo, a apresentação do espectáculo não se faria no Passeio das Virtudes, mas na Avenida dos Aliados. De facto, o espectáculo foi concebido para ser apresentado ao ar livre, mas teve de se confinar a uma sala, o que, segundo o coreógrafo Carlos Silva lhe retirou algum impacto. Mas foi bonito! Envio algumas imagens.
Fernando Venâncio O Efeito sépia
Palavras em desuso, mofo, prazos de validade e um jogo com risco
No seu blogue, o escritor J. Rentes de Carvalho lembrava, há tempos, um Guia de Lisboa, que ele mesmo elaborara. Um livro, afirmava, «como se dizia antigamente, "profusamente ilustrado"». Pois nem mais. Esse «profusamente» caiu, de facto, em desuso. Hoje cheira um tanto a mofo, ou a tempos em que o Mundo ainda batia certo.
A história do idioma mostra essa consciência de desgaste lexical, e tem particular graça ver autores quinhentistas, eles mesmos hoje datados, a citar vocábulos «que se diziam antigamente». Mais graça ainda têm os doutrinários setecentistas que declararam «desusadas» várias palavras que continuam de perfeita saúde.
Um léxico arcaizante, se usado com medida e critério, pode conferir à escrita algum charme. Certo anacronismo funciona bem, sobretudo quando misturado a elementos último grito. Mas há um risco: o de este calculado jogo escapar aos vindouros, se é que os contemporâneos dão ainda pela marosca.
Mas há advérbios de limitado uso que vivem melhor, e até com boas perspetivas. Vale isto para «porventura» (em Cardoso Pires, «altura pouco propícia para conversações demoradas e porventura controversas»). Vale também para esse expressivo «acaso» (em Vergílio Ferreira, «Sabia acaso o homem o milagre que destruía?»; em Manuel Alegre, «Acaso poderia ter escolhido outro caminho?»).
Uma coisa é certa: algumas palavras hoje correntes vão prestar-se, mais cedo do que imaginamos, a subtis, ou humorados, efeitos sépia, que as salvarão de desaparecerem logo de vista. A outras, ninguém irá lançar-lhes a mão a tempo. Só nunca saberemos quais. Fernando Venâncio
(in LER, Livros & Leituras, Nº. 113, Maio 2012)
Hoje no Porto
ATENÇÃO: Em razão do mau tempo, o espectáculo realiza-se na Avenida dos Aliados, Edifício AXA, 5º piso, hoje à mesma hora
Perspectivas - Performances a partir da obra, pinturas e poemas de Adão Cruz
A escola artística "Arvore", no contexto das comemorações do seu aniversário, apresenta "Perspectivas" realizado com base na obra de Adão Cruz
LOCAL PASSEIO DAS VIRTUDES | 27 SET | 18H30
direcção Carlos Silva interpretação Ana Luísa Oliveira, Ana Rita Moreira, Bárbara Gomes, Bruno Maruqes, Diana Machado, Diogo Borges, Diogo Santos, Diogo Almeida,
Elisabete Campos, Flávia Nogueira, Inês Barros, Mariana Barbosa, Miguel Nogueira, Patrícia Barreto, Paula Oliveira, Raquel Magalhães, Sara Marques, Sarah Jane, Tânia Pinto, Sara Lopes, Xavier Belinha [ alunos do 3º ano do curso de dança do balleteatro escola profissional ]
duração 25' aprox
José Eduardo Agualusa Encantamentos
(Adão Cruz)
No primeiro dia de setembro de 2010 entrei na Livraria da Travessa, no Leblon, no momento em que o poeta Ferreira Gullar apresentava Em alguma parte alguma. As cadeiras estavam todas ocupadas. Havia dezenas de jovens sentados no chão. No momento em que me sentei, uma moça ergueu a mão:
- Para que serve a poesia?
Esta é uma daquelas questões que, cedo ou tarde, todos os poetas enfrentam. A resposta mais frequente, mais falha de imaginação e de verdade, assegura que a poesia não serve para nada. Alguns poetas, em especial os portugueses, acrescentam a seguir que também a vida não serve para nada, etc.
Felizmente, Ferreira Gullar tinha uma boa resposta. Muitos anos antes, exilado no Chile, durante o Governo de Salvador Allende, costumava almoçar, aos sábados, com um grupo de outros expatriados sul-americanos. Ao seu lado, sentava-se habitualmente um economista argentino, namorado de uma bela morena brasileira. O economista não tinha outro assunto que não fosse o da sua especialidade. Até que um dia a morena o abandonou. No sábado seguinte o economista chegou triste e desmazelado. Sentou-se, e só falou de poesia. «Quando a morena vai embora», concluiu, triunfante, Ferreira Gullar, «a economia não serve para nada. Nenhuma ciência nos ajuda. Só a poesia nos pode salvar».
Na origem, a poesia era uma disciplina da magia. Servia para encantar. Continua a ser assim, embora, no sentido literal, poucas pessoas ainda exercitem essa antiquíssima arte. Uma tarde, em Benguela, conheci uma das derradeiras praticantes. Almoçava com amigos, e amigos de amigos, num desses quintalões antigos, carregados de frutos, e de boa sombra, da cidade das acácias rubras. A determinada altura escutei um sujeito referir-se a uma tal Dona Aurora:
- A velha receita poesias.
- Recita - corrigi.
O homem, um oficial do exército, encarou-me, irritado:
- Não senhor! Receita! Dona Aurora receita poesias. Resolve problemas de amor, amarrações, mau-olhado, tudo com versinhos.
Fiquei interessado. Anotei o endereço da curandeira num guardanapo e na manhã seguinte bati-lhe à porta. Dona Aurora morava na Restinga, num casarão, em madeira, muito maltratado. A velha senhora, miúda, muito magra, vestia de cor de rosa. Toda a sua força parecia residir na cabeleira, a qual mantinha uma vigorosa rebeldia juvenil. Convidou-me a entrar. Móveis dos anos 50, muito gastos. Estantes carregadas de livros velhos. Aproximei-me. Poesia, e mais poesia: Florbela, Camões, Vinicus, José Régio, Sophia, Drummond, Manuel Bandeira, tudo misturado, num bem-aventurado desrespeito a fronteiras políticas, estéticas e ideológicas. «O meu marido sempre gostou de poesia», justificou-se: «Eu, menos. Foi só depois dele morrer, há 30 anos, que descobri o poder dos versos.»
Acontecera um pouco por acaso - contou. Uma tarde deu-se conta de que certos sonetos parnasianos (os mais trabalhosos) a ajudavam a vencer a insónia. Mais tarde, que João Cabral de Melo Neto, a partir de «O cão sem plumas», era muito eficaz no combate à cefaleia. Pouco a pouco foi desenvolvendo um método. Combatia a prisão de ventre lendo alto a Sagrada Esperança. Mantinha o quintal livre de ervas daninhas, percorrendo-o, ao crepúsculo, enquanto soprava devagar «O guardador de rebanhos».
Numa cidade pequena não tardou que tais excentricidades lhe trouxessem, primeiro inimigos, e depois devotos seguidores e pacientes. Hoje, ela recebe a todos, ricos e pobres, na sala onde me recebeu a mim. Ouve as suas queixas, levanta-se, percorre as estantes, e regressa com a solução. «Quem me procura mais são mulheres querendo reconquistar o coração dos maridos. Recomendo que lhes murmurem, enquanto dormem, algum Neruda, as vezes Camões, outras Bocage.»
Dona Aurora não aceita dinheiro pelos serviços prestados. «Não sou eu quem cura», explicou-me, «é a poesia».
(in LER, Livros & Leitores, Nº. 113, Maio 2012)
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Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...