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Jardim das Delícias



Quarta-feira, 29.01.14

Abbado Para Sempre

 

Desde a morte de Arturo Toscanini, o Teatro de La Scala de Milão, sempre que morre um director, realiza um concerto com a sua obra preferida. Assim, anteontem, dia 27, com a sala vazia e as portas abertas, o teatro e o povo de Milão prestaram homenagem a Claudio Abbado (a gravação do som foi feita só no teatro, daí a sua ausência no início do vídeo)

 

O maestro Daniel Baremboim dirigiu a orquestra na marcha fúnebre da 3ª. Sinfonia de Beethoven "Eroica"

 

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por Augusta Clara às 21:00

Quarta-feira, 29.01.14

Vanka - Anton Tchékhov

 

Anton Tchékhov  Vanka

 

 

(Nikolaj Tchékhov, seu irmão)

 

 

Anton Tchékhov nasceu em 29 de Janeiro de 1860

   Vanka Júkov, rapaz de nove anos, entregue ao mestre sapa­teiro Aliákhin para aprendiz três meses atrás, na noite de Con­soada não se foi deitar. Quando por fim os patrões e os oficiais saíram para a missa do galo, tirou do armário do mestre um fras­co de tinta e uma pena com aparo enferrujado e, pondo à sua frente uma folha de papel amarrotada, resolveu-se a escrever. Antes de rabiscar a primeira letra, passou várias vezes os olhos assustados pelas portas e janelas, olhou de esguelha para um ícone escuro, de ambos os lados do qual se estendiam as estantes com as formas e alargadeiras, e deu uns suspiros entrecorta­dos. O papel estava em cima de um banco, e Vanka de joelhos à frente dele.

«Meu querido avô Konstantin Makáritch! — começou. — Pois escrevo-te esta carta. Desejo-te um Natal feliz e que Deus te não falte com nada. Não tenho pai nem mãe, só me restas tu.»

Vanka desviou os olhos para a janela escura, onde brilhava té­nue o reflexo da vela, e imaginou ao vivo o seu avô Konstantin Makáritch, guarda da noite dos senhores Jivariov. É um velho pequenito, franzino, mas ágil e remexido como tudo, dos seus sessenta e cinco anos, sempre de cara risonha e olhos meio bê­bedos. Dorme de dia, na cozinha dos criados, ou chalaceia com as cozinheiras, mas de noite, bem agasalhado num tulup amplo de pele de ovelha, faz a ronda da quinta a estalar com a matraca. Seguem-no, de cabeças baixas, a velha cadela Kachtanka e o cãozinho Eiró, chamado assim pela sua cor negra e por ter um corpo comprido de doninha. Este Eiró é extraordinariamente respeitoso e meigo, olha com o mesmo enternecimento tanto pa­ra conhecidos como para estranhos, mas não é digno de crédito. O seu feitio respeitoso e submisso esconde a mais jesuítica das malícias. Ninguém como ele para se aproximar à sorrelfa e fer­rar uma perna, se introduzir na geleira dos víveres ou roubar uma galinha ao campónio. Por mais de uma vez lhe mancaram as patas de trás, por duas vezes esteve à morte por enforcamen­to, todas as semanas o sovavam quase até à morte, mas ressus­citava sempre.

Agora, calhando, está o avô à beira do portão, pisca os olhos para as janelas encarniçadas da igreja da aldeia e, batendo com as botas de feltro, chalaceia com as criadas. Matraca à cinta, dei­xa cair, gaiteiro, as mãos nas ancas, encolhe-se de frio e, rindo os seus risinhos de velho, ora belisca a criada de quarto, ora a cozinheira.

- Vai uma pitada de rapé? — diz ele, oferecendo a taba­queira às mulheres.

As mulheres cheiram e espirram. O avô fica indescritivelmente enlevado, desfaz-se em casquinadas de riso alegre e grita:

— Boa vai ela, raparigas!

Também dão a cheirar o rapé aos cães. A Kachtanka espirra, sacode o focinho e, ofendida, afasta-se. O Eiró, por deferência, não espirra e dá ao rabo. Ora, o tempo está magnífico. O ar é cal­mo, transparente e fresco. A noite é escura, mas vê-se a aldeia to­da com os seus telhados brancos e as volutas de fumo a erguerem-se das chaminés, as árvores prateadas de sincelo, os montes de neve. Todo o céu está juncado de estrelas piscando alegremente, e a Via Láctea distingue-se com tanta nitidez como se tivesse sido lavada e esfregada com neve antes das festas...

Vanka suspirou, molhou a pena e continuou escrever.

«Pois eu ontem fui puxado de rojos com sova a acompanhar. O mestre arrastou-me para o pátio pelo cabelo e deu-me uma surra com o tirapé, porque eu estava a embalar o berço do bebé deles e adormeci sem querer. Também há tempos a patroa me mandou descamar o arenque e como eu comecei pelo rabo ela pegou no arenque e esfregou-me o focinho dele na cara. Os ofi­ciais gozam comigo, mandam-me à taberna buscar vodka e que roube pepinos aos patrões e o mestre bate-me com tudo o que lhe calha à mão. E não há nadinha para comer. De manhã é pão, ao almoço papas, à noite outra vez pão, e quanto ao chá e à so­pa de repolho os patrões é que mamam tudo sozinhos. Também me mandam ir dormir para o vestíbulo, e quando o bebé deles chora eu não durmo nada porque tenho de embalar o berço. Meu querido avô, por esta te peço por Deus misericordioso que me leves daqui para fora, aí para a casa da aldeia, que não aguento mais aqui... Por esta te envio os meus cumprimentos e hei-de sempre rezar a Deus por ti, tira-me daqui senão ainda morro...»

Vanka fez um trejeito com a boca, esfregou os olhos com o punho surrado e soluçou.

«Pois eu é que te vou ralar o rapé — continuava —, rezar por ti e. se fizer alguma, podes dar-me uma malha das valentes. Se achas que não há aí trabalho para mim, pois eu vou pedir por amor de Deus ao feitor para me deixar limpar-lhe as botas, ou vou com o pastor em vez do Fedka. Meu querido avô, não pos­so mais, eu aqui estou para morrer. Já quis ir para a aldeia a pé, mas não tenho botas e tenho medo do frio. Quando for grande hei-de agradecer-te isto tudo, dar-te de comer e defender-te de todos, e quando morreres rezo pela tua alma como rezo pela mãezinha Pelagueia.

Pois Moscovo é uma cidade grande. Todas as casas são de se­nhores e os cavalos são a mato, mas não há cá ovelhas e os cães são mansos. Aqui a rapaziada não faz a ronda com a estrela, e deixam ninguém cantar no coro da igreja e uma ocasião vi na vidraça de uma loja que vendem anzóis logo com fio e tudo, e para toda a raça de peixe, muito bons mesmo, e até há um an­zol que aguentava bem um bagre de arroba. E também vi lojas onde há espingardas como essa aí do amo, acho que a cem rublos cada uma... Ora, nos talhos há tetrazes e perdizes, e lebres, mas em que sítios as caçam, disso os lojistas não querem falar.

Meu querido avô, quando os amos aí fizerem a árvore de Na­tal com prendas, tira para mim uma noz dourada e guarda-a no baú verde. Pede-a à menina Olga Ignátievna, diz-lhe que é cá para o Vanka.»

Vanka suspirou convulsamente e outra vez ficou com o olhar espetado na janela. Recordava que era sempre o avô quem ia buscar a árvore à floresta e levava consigo o neto. Tempos feli­zes! O avô rascanhava da garganta, o frio de rachar como que rascanhava também, e Vanka, olhando para eles, não deixava de os imitar. Agora o avô, antes de cortar o abeto, fuma o cachim­bo, cheira sem pressas o rapé, brinca com o Vaniuchka transido de frio... Os abetos novos, cobertos de geada, estão imóveis à espera — qual deles vai morrer? De repente, como uma flecha, voa pela neve uma lebre... O avô, então, grita:

— Agarra, agarra... agarra! Ah, diabo sem rabo!

A árvore derrubada era levada pelo avô para casa dos amos. e lá punham-se a enfeitá-la... Nesse serviço, atarefava-se mais do que todos a menina Olga Ignátievna, preferida do Vanka. Era ainda viva a Pelagueia, mãe de Vanka, que servia em casa dos senhores como criada de quarto, e Olga Ignátievna dava rebu­çados ao Vanka e, por capricho, ensinava-o a ler e a escrever, a contar até cem e mesmo a dançar a quadrilha. Mas, quando Pe­lagueia morreu, mandaram o órfão Vanka viver para a cozinha dos criados, com o avô, e da cozinha para Moscovo, para o sa­pateiro Aliókhin...

«Anda cá buscar-me, querido avô — continuava Vanka —. peço-te por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo que me leves daqui. Tem pena de mim, que sou um órfão desgraçado, todos me batem e rapo muita fominha, e é tanta a saudade que nem sei dizer, choro sempre. Há dias o mestre atirou-me com uma for­ma à cabeça, eu caí e custou muito a voltar a mim... A minha vi­da é uma vida perdida, pior do que a de um cão... Também por esta envio os meus respeitos à Aliona, ao Egorka zarolho e ao cocheiro e não dês a ninguém a minha concertina. Este teu neto muito amigo que nunca te esquece e se despede de ti, e vem buscar-me, meu querido avô.»

Vanka dobrou a folha em quatro e meteu-a no envelope, com­prado na véspera por um copeque... Pensou um pouco, molhou a pena e escreveu o endereço:

 

Para a aldeia do avô

 

Depois coçou a cabeça, pensou mais um bocado e acrescen­tou: «Para Konstantin Makáritch». Contente por não o terem impedido de escrever, pôs o gorro e, sem vestir a pelicinha, só em camisa, correu para a rua...

Os rapazes do talho, a quem tinha perguntado na véspera, disseram-lhe que as cartas se metiam nos marcos do correio e depois eram levadas para todo o lado pelas troikas da malaposta com cocheiros bêbados e guizos barulhentos. Vanka correu até ao marco mais próximo e enfiou a preciosa carta na ranhura...

Embalado por doces esperanças, passada uma hora já dormia profundamente... Sonhava com o fogão. No catre do fogão está sentado o avô, descalço, com as pernas ao pendurão, e lê a car­ta às cozinheiras... Ao lado do fogão anda o Eiró a dar ao rabo...

 

(in Contos de Tchékhov Vol. I, Relógio d'Água)

 

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por Augusta Clara às 18:00

Quarta-feira, 29.01.14

Sobrevivente da Deportação - Marguerite Duras

 

Marguerite Duras  Sobrevivente da Deportação

 

 

 

O texto que irão ler por Garance tem por título: «Sobrevivente da Deportação».

Encontrei-o num caderno, uma espécie de diário intemporal, que mantinha durante o período final da guerra.

Não se trata de um texto político, é apenas um texto. Sem qualquer qualificação. Creio tê-lo escrito para não mais me esquecer do seu conteúdo. Não esquecer aquilo em que um homem se pode tornar, que é possível infligir-lhe. E o amor que permanentemente é possível dedicar-lhe. Aqui, era o caso. Este texto apareceu há alguns anos, na revista feminina Sorcières, anónimo, sem a minha assinatura. Porque me parecera inconveniente, quase indecente, reclamar-me sobrevivente para testemunhar o horror fundamental do nosso tempo: os campos de concentração alemães. Atrevo-me agora a revelar que fui a autora daquele texto. Creio poder dizê-lo sem retirar absolutamente nada à sua generalidade, à mensagem universal por ele veiculada.

Também me pareceu que, a ser lido e ouvido em público, este texto deveria sê-lo em locais como este, aqui, esta noite. Exactamente aqui. Porque aqui se reúne a milhares e milhares de outros testemunhos idênticos, escritos ou não, que viram ou não a luz do dia.

 

 

«(...) Se ele tivesse comido desde o regresso do campo, o estômago  ter-se-ia feito em pedaços com o peso da comida, ou então esse peso ter-se-ia apoiado sobre o coração que, ao contrário, se tornara enorme dentro da caverna que era o seu corpo magro: batia tão depressa que era impossível contar as pulsações, era impossível falar propriamente em bater quando mais parecia que tremia sob o efeito do horror. Não, se comesse morreria. Ora ele não poderia sobreviver se não comesse (...).

A luta com a morte iniciou-se rapidamente. Era necessário lidar com ela com delicadeza, com tacto, com cuidado. Ela cercava-o por todos os lados. Mas, mesmo assim, havia ainda um meio de chegar até ele, nada de especial, essa plataforma que nos permitia comunicar com ele, mas mesmo assim a vida existia nele, como se fosse um espinho. A morte tomava-o de assalto. 39,5 no primeiro dia. Depois 40. Depois 41. A morte esfalfava-se. 41: o coração vibrava como as cordas de um violão. 41, sempre, mas continua a vibrar. O coração vai parar, pensa­mos. Sempre 41. A morte bate à porta, com grandes pancadas, mas o coração permanece surdo. Não é possível, o coração vai parar. Não. (...)

Papas, dissera o médico, dadas com uma colher de café. Davam-lhe papas seis ou sete vezes por dia. Uma colher de café de papas era o suficiente para o sufocar, agarrava-se às nossas mãos, aspirava e recaía no leito. Mas ia engolindo. Do mesmo modo, pedia para ir à casa de banho umas seis ou sete vezes por dia. Soerguiam-no, pegando-lhe por debaixo dos joelhos e pelas axilas.

Devia pesar entre trinta e sete e trinta e oito quilos: os ossos, a pele, o fígado, os intestinos, o cérebro, os pulmões, tudo incluído. Trinta e sete quilos repartidos por um corpo de um metro e setenta de altura. Pousavam-no na sanita, em cujo bordo havia uma pequena almofada: a pele estava dilacerada nos sítios em que as articulações a roçavam. (Na pequena judia de dezassete anos da Rua do Templo, os cotovelos romperam-lhe a pele dos braços, sem dúvida devido a sua pouca idade e à fragilidade da pele; a articulação está fora do corpo em vez de estar dentro, mostra-se nua, limpa, e ela não sofre nem das articulações nem do ventre, do qual foram retirando um a um, em intervalos regulares, todos os seus órgãos genitais.) Uma vez sentado na sanita, ele faz de uma só vez, num glu-glu enorme, inespe­rado, desmesurado. Aquilo que o coração se retraía de fazer, o ânus não conseguia reter, soltando todo o seu conteúdo. Tudo ou quase tudo nele soltava o seu conteúdo, mesmo os dedos que já não seguravam as unhas, que as soltavam, por sua vez. Quanto ao coração, esse retinha o seu conteúdo. O coração. E a cabeça. Fluida, mas sublime, solitária, destacava-se daquela pilha de ossos, emergia, recordava-se, contava, reconhecia, reclamava. Falava. Falava. A cabeça comunicava com o resto do corpo através do pescoço, como acontece habitualmente com todas as cabeças, mas nele as dimensões do pescoço eram de tal modo reduzidas — uma mão aberta era suficiente para o envolver — o seu aspecto era a tal ponto ressequido, que nos interrogávamos sobre como seria possível que a vida passasse por ali, se uma simples colher de papas custava a engolir e o sufocava. Através do pescoço, viam-se-lhe as vértebras em relevo, as carótidas, os nervos, a faringe e o pulsar do sangue: a pele transformara-se em mortalha de cigarro. Tudo o que fazia era aquela coisa viscosa, verde escura, que borbulhava, merda, como ninguém vira ainda. Quando acabava de fazer, voltavam a deitá-lo, e ali ficava ele, aniquilado, de olhos semicerrados, durante horas (...).

Durante dezassete dias, o seu aspecto não se modificou. Era algo de inumano. Qualquer coisa que estava separada de nós por algo mais que a febre, a magreza, os dedos sem unhas, as cicatrizes das pancadas dos SS. Davam-lhe papas amarelas vivas como alimento, que saíam dele verde-escuras, como se acabassem de sair de um pântano. Mesmo depois de fechar a sanita, ouviam-se as bolhas rebentando à superfície. Peganhentas e viscosas, faziam lembrar um imenso escarro. A partir do momento em que saíam do seu corpo, o quarto enchia-se de um odor que não era o da putrefacção, o do cadáver — embora o seu corpo tivesse já algo de cadáver — mas o de um húmus vegetal, o odor das folhas mortas, das madeiras pouco espessas. Tratava-se de um odor sombrio e espesso como o reflexo daquela noite espessa de que ele emergia e que nunca viríamos a conhecer. (Encostada às persianas, observava a rua lá em baixo e, como as pessoas ignoravam o que se passava no quarto, sentia desejos de lhes revelar que, aqui em cima, estava um homem que regressara vivo, dos campos alemães.}

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por Augusta Clara às 15:00

Quarta-feira, 29.01.14

As praxes e a tradição - Carlos Esperança

 

Carlos Esperança  As praxes e a tradição

 

 

   As associações de estudantes estão contra o fim das praxes, tal como os carteiristas, se lhes dessem guarida mediática, estariam contra a proibição de assaltos. Foram precisas várias mortes, no que pareceu ser um ritual iniciático de acesso ao sinédrio das praxes, para que a opinião pública e a comunicação social lhes dessem a merecida atenção e a inexorável reprovação.

As autoridades académicas e policiais devem estar à altura da tragédia que matou jovens na praia do Meco. Só a dimensão foi maior do que acontece anualmente e mais débil a cumplicidade que afastou do espaço mediático graves incidentes de outros anos.  

Em primeiro lugar ninguém pode ser juiz em causa própria. As praxes não podem ser uma reminiscência do foro académico que, por razões de classe, tornava inimputáveis os estudantes. Não podem eximir-se ao escrutínio da opinião pública, à ação da polícia e ao veredito dos tribunais.

Quem viu as cenas da RTP, filmadas com autorização de vítimas e algozes, em cenas de uma degradação e baixeza moral, que indignariam o mais boçal dos marginais, não pode remeter-se ao silêncio e pactuar com a manutenção de tradições de refinada degradação ética, cívica e social.

Não foi por acaso que o salazarismo acolheu as praxes. Eram escolas de quadros servis que exoneravam a honra e promoviam a obediência. Depois do 25 de Abril, quando os ideais galvanizaram a juventude, pareciam condenadas ao sumiço como um arcaísmo deprimente. Ressurgiram com o regresso da velha direita ao poder e agravaram-se com a entrega do ensino superior à especulação comercial.

O mais alto dirigente académico, da mais antiga universidade portuguesa, presidente da direção-geral da Associação Académica «acredita que deve haver regulação para não haver abusos» e nem sequer admite a eventual extinção.  Pelo contrário, acha «difícil impor limites a uma coisa que já tem séculos de tradição». É destas cabeças que saem os futuros governantes, que não desmerecerão os atuais.

Uma tradição pode ser boa ou má mas, justificar o que quer que seja com a tradição não é de um universitário, é de um mentecapto. É de quem não sabe e jamais pensou que a escravatura, a pena de morte, a tortura e todas as ignomínias já foram e continuam a ser uma tradição que urge erradicar.

Eles não sabem nem sonham que, cada vez que alguém se deixa aviltar, planta em si os germes que hão de florescer em futuras humilhações, com que se vingam.

 

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por Augusta Clara às 11:00

Quarta-feira, 29.01.14

Justiça brasileira mantém prisão para Kangamba

 

Justiça brasileira mantém prisão para Kangamba

 

 

Publicado em Maka Angola, 22 de Janeiro de 2014

 

 

   Em Dezembro passado, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, Brasil, decidiu sobre o pedido de liberdade provisória (habeas corpus) requerido pelo general angolano Bento dos Santos “Kangamba”, acusado de tráfico internacional de mulheres para prostituição e cárcere privado.

A decisão, que reforça o mandado de captura contra o requerente, foi publicada há dias no diário electrónico da referida instituição, para conhecimento público.

Os advogados de defesa do general Kangamba, Paulo José Iasz de Morais e Rebeca Bandeira Buono, apresentaram os seguintes argumentos:

A Justiça Federal Brasileira seria incompetente para processar e julgar o general por, alegadamente, não ter havido fraude ou coacção no recrutamento das prostitutas brasileiras, para além do que estas não se manifestavam vulneráveis. Logo, os advogados aduziram não ter havido tráfico internacional de pessoas.

Bento Kangamba nunca esteve no Brasil e, por isso, não teria cometido crime contra cidadãos brasileiros nesse país.

O acusado goza de imunidade diplomática: “é general do governo e casado com a sobrinha do Presidente de Angola, o que afastaria a competência da Justiça Brasileira para a investigação dos fatos a ele imputados”.

O juiz que decretou a sua prisão terá manifestado repulsa quanto aos factos narrados contra o acusado. Na lógica dos advogados, essa repulsa foi uma manifestação de parcialidade por parte do juiz.

Com base na suposta incompetência da justiça brasileira para julgar o caso e nas imunidades diplomáticas do general, os advogados solicitaram também a anulação do processo-crime contra Bento Kangamba.

 

A Conduta

Segundo a justiça brasileira, Bento Kangamba, actual membro do Comité Central do MPLA, formou e liderou uma quadrilha, entre angolanos e brasileiros, “há pelo menos sete anos”. O gangue é acusado de ter praticado os crimes de “favorecimento à prostituição, com fins de lucro”, de tráfico internacional de pessoas para a exploração sexual e de rufianismo – designação atribuídas às práticas de quem lucra ou se sustenta, no todo ou em parte, com a prostituição alheia.

Os factos recolhidos pela investigação brasileira indicam que, de Julho de 2008 a Agosto de 2013, o general financiou toda a actividade da referida quadrilha, incluindo o transporte e alojamento das prostitutas brasileiras que se deslocavam a Angola, África do Sul e Portugal, conforme as ordens de Kangamba.

 

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por Augusta Clara às 08:00



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