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Jardim das Delícias



Quinta-feira, 02.01.14

A Verdade do Poeta - Dulce Pontes

 

Dulce Pontes  A Verdade do Poeta

 

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por Augusta Clara às 21:00

Quinta-feira, 02.01.14

"À velocidade da inquietação - Amadeo de Souza Cardoso"

 

Documentário emitido pela RTP2

 

Nota: a exposição no Centro de Arte Moderna termina no dia 19 deste mês

 

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por Augusta Clara às 16:00

Quinta-feira, 02.01.14

Os nomes às coisas - Jorge Silva Melo

 

Jorge Silva Melo  Os nomes às coisas

 

 

   Não digam nada a ninguém, é uma vergonha, mas há meses (anos) que não compreendo nada do que as pessoas (não é uma nem dus duas, são quase todas) me dizem. Entra-me um colaborador no escritório e, à queima-roupa, atira: "Eles à partida deixam aquilo lá", enigmática sentença que logo um outro funcionário interrom­pe me dizer: "Basicamente, elas não conseguem resolver isso".

E os dias seguem-se comigo transpirando neste pesadelo de pronomes, tentando não mostrar nervosismo, explodindo às vezes de uma ira digna de Eurípides e a perguntar sem fim nem recomeço: "Elas quem?", "Isso, o quê?", "Lá, onde?"

E confesso, desanimado, que deixei de perceber a quem toda esta gente se refere, quem são os "eles" de que falam, se emissários do Papa, se primas da província que todos temos. E quanto ao "lá", imagino que se trata de um lugar entre o Tejo e o Guadiana, mas o certo é que pode ser perto do Volga.

Tenho, há meses, anos até, sebastiânicas saudades dos nomes. Como era simples o tempo em que as pessoas diziam frases (que agora me soam a pura poesia): "A Joana deixou o livro americano do Heiner Müller na sua secretária" ou "O Trindade não consegue reduzir os primeiros orçamentos do projecto Strindberg".

Não que os pronomes e outras abstracções — que em tempos foram belas conquistas do espírito humano, o caminho da língua — não sejam úteis à comunicação. São. Mas suspeito que moda recente, ou uma recente deficiência, atirou às urtigas os nomes que inventámos para as coisas (mas porquê?). E passámos todos a fingir que comunicamos num segundo grau, com pronomes, advérbios e outras figuras antigamente refinadas e agora apenas generalização espúria. Porquê? pergunto. Por que é que me vêm com o "à partida"? E eu, quando isto se refere a conversas com ministérios, adivinho sempre os temíveis funcionários acocorados em posição de partida para uma olimpíada de análises. Porquê "basicamente" a propósito do mais pequeno lenço de papel ou feijão enlatado? Porquê "eles ou elas" se não se estipulou no início da conversação a quem nos referíamos? Não é só aí que o pronome pode entrar na dança das conversas, quando o nome já não é indispensável? Por que é que os nomes (das pessoas, das coisas) se sumiram nas sarjetas da língua?

E suspeito — é a minha inveja, é... — que toda esta gente se en­tende uns com os outros, e que só eu, minoritário e imbecil, faço fi­gura de anão rezingão a insistir numa explicação mais nominal.

Mas não será mais funda esta anedota? Já há tempos me queixo por estarem os gestos tão ausentes da ficção portuguesa, de como os objectos foram atirados para uma inexpressividade cinzenta nos pal­cos onde só entram as grandes emoções gerais, coração e tripas sem uma única chávena de chá. Não nos afundamos numa cultura sem nomes, sem coisas, sem pessoas, sem referente? Num limbo da inex­pressividade?

Não é precisamente esse o impasse em que se arrasta há anos a cria­ção teatral portuguesa, alimentada de si própria, pelicano incestuoso, cuco sem ninho? Ou, a meu ver, a arquitectura mais recente, desprovida do uso e vaidosa da fachada? Porque vem o pronome substituir agora, tão primaveril, o nome? E não é mortal esse extemporâneo avanço?

E se voltássemos a aprender nomes? (Já separei o meu Ponge para esta noite ler. E Pérec. E Gastão Cruz. Irene Lisboa. Ler Bernardim. Cesário. Eça, o estilista.) E, cá por mim, a ver se consigo o que de­cidi: quando me vierem com o "eles" sem mais, e "basicamente" e "à partida", e o temeroso "e não sei quê", assim por alto, sem pre­cisão (essa tão bela função da linguagem), respondo "cócó". É o que merecem.

Público, Mil Folhas, 13 de Julho de 2002

(in Século Passado, Cotovia)

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por Augusta Clara às 14:00

Quinta-feira, 02.01.14

O sonho de Pedro Passos Coelho - José Vítor Malheiros

 

 

José Vítor Malheiros  O sonho de Pedro Passos Coelho 

 

 

   Publicado no Público em 11 de Setembro de 2012

   "Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor.

É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor.

A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.

Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.

Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta.

Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.

O outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca- -vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar à escravatura - é outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura.

Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam - ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários.

Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.

O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres.

Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em Massamá a vida toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."

José Vítor Malheiros - Jornal Público
a 11/09/2012

 

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por Augusta Clara às 08:00

Quarta-feira, 01.01.14

Les Indes Galantes, 1735 - Jean Philippe Rameau

 

Jean Philippe Rameau  Les Indes Galantes, 1735

Orquestra e coro Les Arts Florissants dirigidos pelo maestro William Christie

 

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por Augusta Clara às 14:00

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