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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Ungidos pelos bispos, os apóstolos das escolas privadas pagas com dinheiros públicos, organizaram uma cruzada para conquistar Lisboa aos mouros. Nos púlpitos, pregadores incitaram os fiéis. Agitaram-se as mitras, ergueram-se anelões, brandiram-se os báculos, foram concedidas indulgências plenas aos peregrinos e lançada uma fatwa ao Governo.
Sem novenas, missas ou orações pias, mal confessados e pior comungados, fizeram-se à estrada os peregrinos, a exigir o dízimo aos excomungados. No bornal ia a rasteira que pregaram ao PR e a mentira engendrada do Tribunal de Contas. Como ensina a sharia romana, é lícito mentir em benefício de Deus; o ensino privado não é sacramento, por lapso, e os contratos de associação não são o 11.º mandamento, por não caberem no decálogo.
Os colégios, para cujo funcionamento os senhores bispos reclamam o dízimo, situam-se em zonas pobres, para filhos de operários e trabalhadores rurais. São colégios de Viana do Castelo (2) [Caminha-1 e Cerveira-1]; Braga (8) [Braga-3, Barcelos-2, Famalicão-2 e Vizela-1]; Porto (4) [Amarante-1, Gondomar-1, Santo Tirso-1 e Trofa-1]; Vila Real (1); Aveiro (4) [Aveiro-2, Feira-1 e Mogofores-1]; Viseu (1) [Lamego]; Guarda (2) [Seia-1 e Arrifana-1], Castelo Branco (3) [Covilhã-1, Sertã-1 e Proença a Nova-1], Coimbra (8) [Coimbra-7 e Figueira da Foz-1]; Leiria (3) [Leiria-1, Ansião-1 e Caldas da Rainha-1]; Lisboa (1).
Nestas localidades, onde não chegou o ensino oficial, o direito de escolha é a exigência que o episcopado reclama e a caridade exige.
Nota: A lista que publico, de boa fé, dos colégios que perderam contratos de associação, é a que me chegou. Agradeço a vigilância dos leitores. O parasitismo não se combate com mentiras. Não podemos usar os métodos dos adversários.
(Frida Kahlo)
Leio sobre a menina brasileira de 16 anos violada por mais de 30 e lembro-me do quadro de Frida Kahlo "Unos Cuantos Piquetitos". A violência contra a mulher tem de ser denunciada, não pode ficar impune. E isso começa por combater a cultura que considera que 50% da culpa é delas, que são putas oferecidas, que há assuntos bem mais sérios, que, no fundo, mulher existe para servir homem. Estou tão chocada que me atrevo a dizer que o corpo daquela menina é também o nosso e que essa é uma forma de nos solidarizarmos com ela. E que ela não "engravidou de mais de 30", como dizia orgulhoso um deles. Mas que se tivesse engravidado, não poderia abortar, segundo defendem alguns dos senadores brasileiros.
Kathleen Gomes escreve um texto muito importante no Público. Está lá tudo aquilo sobre o que temos de pensar.
Herberto Helder Ele que tinha ouvido absoluto ...
(John Tibbott, "O som do silêncio")
ele que tinha ouvido absoluto para as músicas sumptuosas
do verso livre
ouvia a cada nó de sílaba
um silêncio de morte
(in Servidões, Assírio & Alvim)
José Goulão Liliana Ayalde e as coincidências no quintal de Obama
Mundo Cão, 26 de Maio de 2016
O nome de Liliana Ayalde pouco dirá à maioria das pessoas que me lêem, o que afinal é a coisa mais natural deste mundo.
Mas se vos disser que a senhora Liliana Ayalde é a embaixadora dos Estados Unidos da América no Brasil desde 2013, alguns começarão a suspeitar da existência de relações de causa e efeito entre essa enviada da diplomacia de Obama e os sucessos em curso nos corredores obscuros da política em Brasília. Tal suspeição virá da tradição histórica, pois sabe-se que não existe embaixador dos Estados Unidos sem missão específica em países da América Latina (e outras regiões, por certo) onde se tenha instalado, por vontade democrática do seu povo, um governo que não acene como os burros às ordens chegadas do Norte.
A senhora Liliana Ayalde foi expedida pelo secretário John Kerry para Brasília pouco depois de ter sido denunciado ao mundo que o governo dos Estados Unidos interceptava as comunicações oficiais e pessoais da presidenta Dilma Roussef, circunstância que ensombrou um pouco mais as relações entre os dois países. Coisas graves terão revelado essas escutas…
Até este momento da história, porém, as ilacções são apenas fundamentadas na tradição. Digamos que, para boas almas sempre incrédulas perante as evidências, nos mantemos ainda nas áreas da teoria da conspiração.
Mas se vos disser que o anterior posto diplomático da senhora Ayalde foi a de embaixadora em Assunción, no Paraguai, talvez a luz comece a tornar-se mais intensa nos vossos espíritos. Porque em 2012, no Paraguai, o Congresso destituiu o presidente eleito Fernando Lugo, que pusera fim a 61 anos de ditadura, primeiro fascista, depois “democratizada” mas sempre fidelíssima a Washington, do Partido Colorado.
Lugo fora eleito em 2008 e logo em Dezembro de 2009 começaram a correr rumores de impeachment do presidente. Nessa altura, segundo mensagens divulgadas pelo site WikiLeaks, a embaixadora Ayalde escrevia assim nas suas mensagens pelos canais internos: “exprimimos cuidadosamente o nosso apoio público às instituições democráticas do Paraguai – não à pessoa de Lugo – para estarmos certos de que Lugo compreenderia os benefícios de uma relação próxima com os Estados Unidos”.
Recentemente, a propósito do Brasil, a porta-voz do Departamento de Estado em Washington, Elizabeth Trudeau, usou mais ou menos a mesma cassette, manifestando o desejo de que “as instituições democráticas brasileiras” solucionem as vicissitudes políticas.
Chegamos pois à constatação de uma perfeita coincidência: dois golpes de Estado parlamentares em dois países vizinhos no quintal das traseiras dos Estados Unidos, por sinal presididos por eleitos olhados com desconfiança por Washington, tendo em posto a mesma embaixadora norte-americana, a senhora Liliana Ayalde. Uma diplomata que o analista argentino Atila Boron considera especialista em “golpes soft”. Países diferentes, dois golpes idênticos em menos de um quinquénio, a mesma embaixadora dos Estados Unidos. O acaso tem destas coisas.
No Paraguai, passado o susto representado pelo ex-bispo católico Fernando Lugo, associado à Teologia da Libertação, os Estados Unidos reveem-se agora em Horácio Cartes, um magnata do tabaco, rancheiro e banqueiro que tem às costas acusações (por certo improcedentes) de lavagem de dinheiro dos cartéis da droga no seu banco Anambay, evasão fiscal e outros crimes, excelentemente relacionado com as agências de espionagem norte-americanas. Reina a tranquilidade em Washington, pois está o homem certo no lugar certo
No Brasil ignoramos o que se segue, mas a embaixadora Liliana Ayalde, para já, parece ter cumprido a missão. Obama ainda tem tempo para despachá-la para outro país da região. Equador? Bolívia? Uruguai?
Marcos Cruz "Era uma vez um tipo ..."
(Chrysti Hydeck)
Era uma vez um tipo que todos os dias vivia cada dia sem pensar nos dias que lhe faltava viver. Secretamente, esse tipo esperava que, assim vivendo, um dia acabaria por deixar de sofrer. Mas como esse dia demorava a chegar, chegou um dia em que o tipo se fartou de viver um dia de cada vez e passou a viver em cada dia dois dias e três. Misturava assim o dia sim e o dia não, sem se aperceber da confusão em que se afundava. Tudo o que queria tinha de ser prontamente satisfeito, mas a falta de proveito levou-lhe a alegria. Nesse dia lembrou-se de que se a perdera foi porque um dia já a tivera. Meio envergonhado, sorriu, e então viu, numa árvore ao seu lado, a primeira flor da Primavera.
Eva Cruz Mais uma amiga que partiu
(À morte da amiga D. Conceição, companheira de sempre do nosso grande amigo Dr. Magalhães dos Santos)
(Andrei Markin)
Dizem que há uma torre branca de marfim para lá das árvores frondosas.
Quanto custa lá chegar!
O caminho sem regresso é do tamanho da vida, feito de maduras lágrimas e pedaços de sol e alegria, que se vão apagando lentamente ao longo do percurso.
Há quem acredite e quem não acredite.
Mas nada disso nos interessa agora.
Aqui e agora o que nos prende é dar contas à saudade.
À saudade de um exemplo de vida, à saudade de uma alegria amiga, à saudade de uns olhos doces de orvalho em cuja bondade cabia o mundo.
Sempre acreditei nesta torre de marfim para cá das árvores frondosas, vestida das pétalas brancas das rosas de Maio.
Mas não esperava que o Maio de hoje murchasse desta forma inesperada, roubando mais uma das rosas, a quarta, que teceram de ternura e amizade os nossos habituais jantares de convívio e a nossa vida. Os saudosos Eng.º Teixeira Pinto, Dr. Renato Figueiredo, Sr. Joaquim Matos e, agora, a D. Conceição. Permanecerão, de facto, não tenho dúvidas, na torre branca de marfim do nosso peito vivo, muito mais à mão do que a dos campos do infinito.
Henfil - carta a Elis Regina
Elis,
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Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...