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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Eva Cruz Não há hora nem dia para a Liberdade!
(Edouard Ambrose)
Pelo caminho ouvi, atrás de mim, uma voz muito fresca:
- Tenha um bom dia, minha senhora.
Reparei que era um rapazinho, aparentando os seus dezoito anos, tão espontâneo e sorridente que me fez responder no mesmo tom:
- E tu também.
Tive vontade de meter conversa e perguntei-lhe o que andava ele ali a fazer.
- Ando aqui a ver se arranjo mais uns tostõezitos para o almoço.
Tinha uns olhos muito azuis que faziam adivinhar uma boa alma.
Perguntei-lhe a idade. Disse-me que já tinha vinte e cinco, nunca tivera trabalho, só fizera o sexto ano, vivera com a avó, mas agora estava sozinho porque ela fora para um lar. Nunca conhecera o pai, e a mãe só a vira em criança, mal dela se lembrava. Disse ainda que tinha o nome de dois santos, João Pedro, mas de pouco lhe terá valido.
Pareceu-me muito sincero, embora este tipo de história seja sempre o mesmo.
Perguntei-lhe se o dinheiro que tinha já chegava para o almoço. Abriu a mão com algumas moeditas e disse que o almoço custava quase quatro euros.
Pensei, com os meus botões, que me estava a querer levar mais algum. Tinha, no entanto, uma postura tão aparentemente honesta, que até me custou julgá-lo desta forma.
- Vamos ali que te pago o almoço.
- A senhora vai-me pagar o almoço? Então devolvo-lhe o euro que me deu.
- Fica lá com o euro, rapaz!
- Eu fumo, mas pouco. Peço às pessoas um cigarrito. Eu era capaz de cozinhar para mim, que a minha avó até me ensinou, mas não tenho dinheiro para o gás.
No pequeno café em frente, perguntei ao homem quanto custava a refeição.
- Três euros e setenta, lombo assado, o prato do dia, menos a bebida.
- Vê! Eu não lhe menti! Com a bebida vai lá para os quatro e tal.
Paguei-lhe o almoço e a bebida.
- Tens mais sorte do que eu, pois já tens o almoço pronto, e eu ainda vou fazer o meu.
- Então almoce comigo.
- Não posso, tenho gente em casa à espera.
Deu-me dois beijos, um de cada lado da cara.
Quando cheguei a casa, além da gente que tinha à minha espera, aguardava-me uma amiga com quem sempre partilhei o sonho de Abril. Trazia na mão o ramo de cravos vermelhos mais lindos que tive na minha vida. Robustos, e de um vermelho retinto e aveludado.
Esta amiga, todos os anos me deixa um cravo vermelho debruçado na minha caixa do correio, no dia vinte e cinco de Abril. Pela primeira vez, este ano, não vi o cravo vermelho na caixa do correio, nem consegui comprá-lo em lugar algum, apesar de me ter esforçado. Muito triste por me ter faltado a sua companhia em dia tão abençoado, ainda voltei à caixa do correio, já noite tardia, mas não o vi.
- Pela primeira vez não lhe deixei o cravo na sua caixa do correio. Não estive cá.
Dentro da beleza daquele ramo de cravos vermelhos havia um cartãozinho que, entre outras palavras de amizade, dizia:
- Não há dia nem hora para a Liberdade!
Não me enganei. O rapazinho era mesmo sincero, ao desejar-me um Bom Dia.
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Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...