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Jardim das Delícias


Terça-feira, 16.05.23

Le Temps des Cerises

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(Adão no Paraíso)

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por Augusta Clara às 18:43

Terça-feira, 09.08.22

Reflexão - Adão Cruz

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Adão Cruz  Reflexão

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(Adão Cruz)

   Ouvindo novamente a Oração de Sapiência proferida por Ana Luisa Amaral em Março passado, fui levado a reconhecer que a razão e o pensamento são as duas maiores riquezas do ser humano. Ser capaz de parar para pensar é um enorme privilégio. Eu tenho um escrupuloso respeito pelo pensamento, pelo meu pensamento e pelo pensamento dos outros, quando racional e honesto. Acredito que todos nós, aqueles que nunca se venderam a nada nem a ninguém, aqueles que nas questões que mais nos inquietam e mais preocupam a humanidade necessitam sempre de pensar e ouvir a voz da razão. Não conseguem sentir-se livres fora da verdade, ou pelo menos fora da procura do caminho da verdade.
Há para mim três verdades que a reflexão profunda e séria de uma vida inteira tornaram irrefutáveis. Mas são minhas, e de modo algum eu pretendo impô-las a quem quer que seja. Uma delas é a convicção de que o conhecimento e a cultura, a verdadeira cultura, ou seja, a cultura do conhecimento e, por inerência, a cultura da verdade são os mais importantes recursos de que dispomos para encontrar o caminho da justiça e da solidariedade, os sentimentos que nos acordam para a nobreza que poderia existir e não existe no coração da humanidade. A segunda convicção é a do nefasto papel do obscurantismo, religioso ou não, arrastando consigo a irracionalidade e a secundarização do conhecimento, os grandes inimigos da verdade. A minha terceira convicção é o simples reconhecimento de que a intencional desinformação e ignorância impostas ao mundo pelas forças que o dominam vai deformando, de forma mais insidiosa ou mais contundente, a consciência e mesmo a inconsciência das pessoas, levando-as à gelatinosa certeza de que não há verdade mais credível do que a verdade da mentira.

 

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por Augusta Clara às 12:51

Sexta-feira, 08.04.22

Hiroshima - Adão Cruz

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Adão Cruz  Hiroshima

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(Adão Cruz)
 
 
Nos limites da razão
onde os homens produzem monstros
todos nos sentimos escombros
do maior terrorismo da História humana.
Nasceu a manhã mais cruel da mais inocente madrugada
a manhã mais negra do que a noite do absurdo.
O inferno rasgou o sol e a lua
os rostos e os braços
arrancou as árvores
secou os rios e as fontes
enchendo a cidade de sangue e corpos em pedaços.
Um mar de gente… no corpo nu da solidão
gente só…no ventre da multidão
olhos vidrados de lágrimas e pânico
correndo… fugindo…
para onde… para o nada…
para o abismo da escuridão
sobre restos de sonhos e pedaços de vida
espalhados pelo chão
onde a dor fincou as garras
abafando os gritos em catedrais de cinzas.
O fim de tudo entrou pelas portas e janelas
e comeu tudo…
comeu as casas que caíram
as mãos que deixaram de brincar
comeu os olhos que deixaram de olhar
e as bocas que deixaram de respirar.
Tudo era dentro e tudo era fora
na amplidão do desespero
não havia mães nem filhos nas entranhas da aflição
não havia rumo nem caminho
no deserto infindo da maldição.
Tudo se fez pó
não ficou pedra sobre pedra
e nem pedras havia no chão
já o chão não era chão
mas o fundo abismo de uma cratera
onde tudo era estendal de morte
sem porta de entrada sem porta de saída
sem tempo sem norte sem vida
sem ruas sem movimento
sem fímbria de céu ou de mar.
O nada entrou no coração
que deixou de bater no peito de muitos mil
ao peso de cinquenta quilos de urânio
e toneladas de glória americana
erguendo até ao cume da barbárie
a bandeira mais cruel da natureza humana.
Uma fria luz de prata atravessou o mundo
perfurou a mente e as ideias
em seco lamento de gemido sem remédio
como latido de cão atirado ao vento.
E o mundo dormiu suavemente…
e ainda hoje não acordou.
Entre milhares de bombas e estrondosos hinos
o mundo de olhos cegos e ouvidos moucos
ainda dorme…
nada mais ouvindo que o silêncio dos assassinos.

 

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por Augusta Clara às 18:07

Quarta-feira, 03.02.21

Um gesto de silêncio - Adão Cruz

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Adão Cruz  Um gesto de silêncio

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(Adão Cruz)

 

Todos nós temos os nossos desertos
pequenos ou grandes
e todos nós temos os nossos labirintos
grandes ou pequenos
simples ou complexos.
Os caminhos e os percursos
entre os nossos desertos e os nossos labirintos
mais rectos ou mais sinuosos
são ao fim e ao cabo os caminhos da nossa vida.
E esses caminhos são feitos predominantemente de silêncio.
A grande força da nossa vida reside no silêncio
o silêncio das nossas meditações
das nossas reflexões
das nossas decisões
dos nossos segredos e intimidades
dos nossos medos e coragens
dos nossos sonhos e entusiasmos
das nossas alegrias
das nossas mágoas e frustrações.
O silêncio é a primeira voz que um homem ouve
quando está dentro de si.
O silêncio é o respirar do nosso íntimo
a dialéctica da nossa personalidade
o único espaço onde a mentira não cabe.
O silêncio é o relógio oculto e secreto das nossas horas.
Nós somos a nossa própria teia
e só o silêncio nos deixa ver e separar
os emaranhados fios que a tecem.
A mágica sensatez do silêncio
é o fio-de-prumo da nossa calibração.
São imensas as verdades que podemos conhecer
só por ficarmos estendidos a pensar calmamente
porque as verdades estão em nós
e só o silêncio nos permite desvendá-las.
Tantas vezes o silêncio tem vontade de fugir
e necessidade de gritar…
de gritar as verdades que descobre
mas como o silêncio não tem palavra de se ouvir
vai enformando os mais variados actos da vida
os gestos e as artes da vida que só nele vivem.
Assim nascem assim se criam e se desdobram
todas as nossas inúmeras expressões vivenciais
que mais não são do que as vozes ampliadas
dos nossos próprios silêncios.

 

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por Augusta Clara às 12:26

Sexta-feira, 22.06.18

Quando levas um seio ao vento - Adão Cruz

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Adão Cruz  Quando levas um seio ao vento

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(Adão Cruz)

 

Quando levas um seio ao vento
e me dás a beber campos e cidades
glorifico a pouca luz que ainda me resta.

Se os lobos se atravessam no caminho para a tua cabana
o vento ergue-me nos ares
e o coração aprende a não ter medo de cair.

Descobridor de sonhos
de amanhãs que riem
e de estuários...
continuo a pintar o vento ainda que nele te vás.

 

 

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por Augusta Clara às 14:00

Quarta-feira, 10.01.18

A caverna escura do poeta - Adão Cruz

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Adão Cruz  A caverna escura do poeta

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(Adão Cruz)

 

Quando entras na escura caverna de um poeta

Fugindo à rima e à métrica do tempo

O tempo…

Ai o tempo se o não fosse

Tudo haveria de ser poema.

 

Tudo parece idiota nesta caverna sem luz

Tudo parece metáfora de versos impotentes

O tempo…

Ai o tempo se o não fosse

Nem razão havia para versos decadentes.

 

Assim mo diz a luz contida dos teus olhos

E o calor dos lábios que o tempo arrefeceu

O tempo…

Só o tempo se o não fosse

Seria a vida de tudo o que morreu.

 

Na procura dos restos de um poema

Já não importa a noite escura e inquieta

O tempo…

Só o tempo se o não fosse

Daria luz à caverna de um poeta.

 

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por Augusta Clara às 15:32

Quarta-feira, 27.12.17

A caverna luminosa do poeta - Adão Cruz

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Adão Cruz  A caverna luminosa do poeta

 

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(Adão Cruz)

 

 

Quando entraste na luminosa caverna do poeta

Fugindo à chuva, ao vento, ao frio

Tudo me dizia que eras a mesma poesia

Que hoje ilumina as águas deste rio.

 

Tudo me diz que és tu a mesma poesia

Deste sol da tarde, sem chuva e sem frio

Nascida do ventre de uma vertigem

Revolvendo as águas calmas de outro rio.

 

Assim mo diz a luz incendiada dos teus olhos

E a tímida febre dos teus lábios quentes.

Nem sempre a poesia é metáfora e falso gesto

Nem sempre o poema é de versos impotentes.

 

Já não crescem em mim rebentos de sol

Nem me afligem conflitos de escura tristeza.

Por isso eu sei que o sol desta caverna

Não é brilho do poeta mas luz da tua beleza.

 

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por Augusta Clara às 17:22

Quarta-feira, 20.12.17

Os vampiros - Adão Cruz

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Adão Cruz  Os vampiros

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(Adão Cruz)

 

A cidade está comida por enormes vampiros, varrida de poesia, flores e frutos e canções quentes dos filhos da cidade.

Ainda que os dentes sejam de cifrões, os vampiros matam com bombas, tiros e orações.

Já não regressam as manhãs na cidade exterminada, coberta pela nuvem de vampiros devoradores que tudo comem e não deixam nada.

A cidade dos pobres está comida por vampiros, vindos das cavernas podres da cidade civilizada, guiados por deuses e generais, benzidos por papas e cardeais que tudo comem e não deixam nada.

E os pobres arrastam a vida muito aquém da vida, onde um mar de nada definha o pensamento e um rio de cinza cobre a alegria de viver.

Eis que os pobres se dão conta de um futuro em liberdade, onde um mar de sonho e utopia restitui a vida ao pensamento e à razão.

Mas os vampiros conhecem bem os buracos da prisão e tudo fazem para os vedar com grades de fé e religião.

A cidade está comida por enormes vampiros vindos do céu e do inferno, devorando a mente e abandonando o corpo no deserto, como criança sem asas.

 

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por Augusta Clara às 14:00

Sexta-feira, 17.11.17

Venho de um jardim distante - Adão Cruz

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Adão Cruz  Venho de um jardim distante

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(Adão Cruz)

 

Venho de um jardim distante florido de memórias ou de um sonho qualquer
entre risos e lágrimas caindo de um céu de chumbo ou de um céu de magnólias.
Venho do seio do orvalho da madrugada num punhado de vida libertada em qualquer rumor de passos brincando nos telhados acesos pela luz do dia....
Venho de um jardim distante onde grinaldas de flores abrilhantam a festa do azul dos tempos no incêndio do crepúsculo ou no ardor da manhã do meu berço de mistério e universo.
Venho das esquinas do tempo em recordações avulsas ao sabor das pontes da vida cavalgando o vento que assobia nas ruas estreitas ou mordendo as pedras com punhais de silêncio.
De onde venho ninguém sabe.
Venho talvez da intimidade salgada do mar ou de um jardim distante com um rio de passos e palavras e pedaços de sol num rosário de pérolas abrindo a neblina do nascer da vida.
Venho… quem sabe da nudez adormecida no silêncio do tempo destinado à simplicidade da morte pelo sinuoso caminho das recordações perdidas no chão fundo das angústias ou nos retalhos da esperança.

Venho talvez das sombrias entranhas prenhes de fulvos e ilusórios tesouros que emergem do fundo do mar sublimados de cor e luz à superfície traiçoeira das águas bordadas de espuma.
Ou então…
Ou então serei filho de um mundo sem resposta sujeito a ventos e marés que enrugam o latejar das veias e quebram o voo das artérias com lugar no corpo rompendo o fluir da vida no interior do sonho.
Não.
Eu não venho de lugar algum fora da mente nem trago comigo a erva daninha.
Eu venho de um jardim distante entre o sonho e a razão onde o pensamento se agiganta contra as trevas e a ilusão.

 

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por Augusta Clara às 15:39

Quarta-feira, 01.11.17

Adão Cruz, 2017

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Adão Cruz

 

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por Augusta Clara às 17:19



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