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Jardim das Delícias


Sexta-feira, 12.07.13

Desculpe, Presidente Evo Morales - Boaventura de Sousa Santos

 

Boaventura de Sousa Santos pede desculpa a Evo Morales 

 

 

Coimbra, 10 de Julho de 2013

 

Desculpe, Presidente Evo Morales

 

   Esperei uma semana que o governo do meu país pedisse formalmente desculpas pelo ato de pirataria aérea e de terrorismo de estado que cometeu, juntamente com a Espanha, a França e a Itália, ao não autorizar a escala técnica do seu avião no regresso à Bolívia depois de uma reunião em Moscovo, ofendendo a dignidade e a soberania do seu país e pondo em risco a sua própria vida. Não esperava que o fizesse, pois conheço e sofro o colapso diário da legalidade nacional e internacional em curso no meu país e nos países vizinhos, a mediocridade moral e política das elites que nos governam, e o refúgio precário da dignidade e da esperança nas consciências, nas ruas e nas praças, depois de há muito terem sido expulsas das instituições. Não pediu desculpa. Peço eu, cidadão comum, envergonhado por pertencer a um país e a um continente que é capaz de cometer esta afronta e de o fazer de modo impune, já que nenhuma instância internacional se atreve a enfrentar os autores e os mandantes deste crime internacional. O meu pedido de desculpas não tem qualquer valor diplomático mas tem um valor talvez ainda superior, na medida em que, longe de ser um acto individual, é a expressão de um sentimento coletivo, muito mais vasto do que pode imaginar, por parte de cidadãos indignados que todos os dias juntam mais razões para não se sentirem representados pelos seus representantes. O crime cometido contra si foi mais uma dessas razões. Alegrámo-nos com seu regresso em segurança a casa e vibrámos com a calorosa acolhida que lhe deu o seu povo ao aterrarem El Alto. Creia, Senhor Presidente, que, a muitos quilómetros de distância, muitos de nós estávamos lá, embebidos no ar mágico dos Andes.

O Senhor Presidente sabe melhor do que qualquer de nós que se tratou de mais um acto de arrogância colonial no seguimento de uma longa e dolorosa história de opressão, violência e supremacia racial. Para a Europa, um presidente índio é sempre mais índio do que presidente e, por isso, é de esperar que transporte droga ou terroristas no seu avião presidencial. Uma suspeita de um branco contra um índio é mil vezes mais credível que a suspeita de um índio contra um branco. Lembra-se bem que os europeus, na pessoa do Papa Paulo III, só reconheceram que a gente do seu povo tinha alma humana em 1537 (bula Sublimis Deus), e conseguiram ser tão ignominiosos nos termos em que recusaram esse reconhecimento durante décadas como nos termos em que finalmente o aceitaram. Foram precisos 469 anos para que, na sua pessoa, fosse eleito presidente um indígena num país de maioria indígena. Mas sei que também está atento às diferenças nas continuidades. A humilhação de que foi vítima foi um ato de arrogância colonial ou de subserviência colonial? Lembremos um outro “incidente” recente entre governantes europeus e latino-americanos. Em 10 de Novembro de 2007, durante a XVII Cimeira Iberoamericana realizada no Chile, o Rei de Espanha, desagradado pelo que ouvia do saudoso Presidente Hugo Chávez, dirigiu-se-lhe intempestivamente e mandou-o calar. A frase “Por qué no te callas” ficará na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colónias. De facto, não se imagina um chefe de Estado europeu a dirigir-se nesses termos publicamente a um seu congénere europeu, quaisquer que fossem as razões.

O Senhor Presidente foi vítima de uma agressão ainda mais humilhante, mas não lhe escapará o facto de que, no seu caso, a Europa não agiu espontaneamente. Fê-lo a mando dos EUA e, ao fazê-lo, submeteu-se à ilegalidade internacional imposta pelo imperialismo norte-americano, tal como, anos antes, o fizera ao autorizar o sobrevoo do seu espaço aéreo para voos clandestinos da CIA, transportando suspeitos a caminho de Guantánamo, em clara violação do direito internacional. Sinais dos tempos, Senhor Presidente: a arrogância colonial europeia já não pode ser exercida sem subserviência colonial. Este continente está a ficar demasiado pequeno para poder ser grande sem ser aos ombros de outrem. Nada disto absolve as elites europeias. Apenas aprofunda a distância entre elas e tantos europeus, como eu, que vêem na Bolívia um país amigo e respeitam a dignidade do seu povo e a legitimidade das suas autoridades democráticas.

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por Augusta Clara às 16:15

Quarta-feira, 10.07.13

Evo Morales, a América Latina e a afronta da prepotência - Eric Nepomuceno.

 

Eric Nepomuceno  Evo Morales, a América Latina e a afronta da prepotência

 

 

Publicado em Carta Maior a 9 de Julho de 2013 

Não satisfeitos em afundar num lodaçal econômico arrasando conquistas sociais de décadas, alguns países europeus acreditam que ainda podem exibir as galas da impertinência imperial. Fazem um jogo de espelhos, em que a realidade é refletida pelo avesso: se submetem, vergonhosamente, aos desígnios do império norte-americano, enquanto agem com a América Latina como o império que alguma vez souberam ser.

 

 

Um amigo bem humorado costuma dizer que há limite para tudo nessa vida, até mesmo para retirar dinheiro em caixa eletrônico. Pode ser. Mas, pelo que o mundo acaba de ver, alguns países da Europa decretaram que não há limite para nada no horizonte da sua prepotência.
Não satisfeitos em afundar num lodaçal econômico arrasando conquistas sociais de décadas e décadas, acreditam que ainda podem exibir as galas da impertinência imperial. Fazem um jogo de espelhos, em que a realidade é refletida pelo avesso: se submetem, vergonhosamente, aos desígnios do império norte-americano, enquanto agem com a América Latina como o império que alguma vez souberam ser.
O que fizeram há poucos dias com o presidente boliviano Evo Morales é uma afronta inadmissível. Entre a falta de hombridade dos governos da França, de Portugal e da Itália, e a empáfia insuportável do governo espanhol, escancarou-se a face abjeta da submissão. Os mesmos países que cantam de galo protestando contra a espionagem desvairada do governo de Barack Obama, que dizem ser inadmissível, se curvam de maneira vexaminosa aos ventos soprados de Washington.
É verdade que Evo Morales tem o perfil traçado sob medida para que os europeus façam o que fizeram, especialmente os espanhóis: é latino-americano, é de esquerda, é indígena e, para culminar, preside um país chamado Bolívia. Na cabeça destrambelhada dos governantes europeus, a soma desses fatores tornava o presidente boliviano em algo pronto para ser desrespeitado.
O relato de Evo Morales é assombroso. Minutos antes de entrar no espaço aéreo francês – o plano de voo do avião presidencial previa a rota que, no espaço aéreo europeu, ia da Rússia até Portugal – o comandante do avião foi avisado de que a permissão havia sido cancelada. Ato contínuo, foi a vez da Itália fazer a mesma coisa. Não havia combustível suficiente para voltar a Moscou. Foi preciso fazer um pouso de emergência em Viena, capital da Áustria.
Mais humilhações esperavam pelo presidente dos bolivianos: Alberto Carnero, o fulano que exerce o cargo de embaixador da Espanha, resolveu entrar no avião. Queria confirmar que Evo Morales não estava levando Edward Snowden para a Bolívia. Sem fazer pessoalmente essa verificação, o avião presidencial boliviano já não poderia fazer a escala técnica de reabastecimento nas Ilhas Canárias. Foi impedido. Sugeriu que o presidente boliviano falasse com o vice-chanceler espanhol. Vendo que a empáfia superava qualquer absurdo, Evo Morales respondeu que se fosse para falar com alguém, que o primeiro-ministro Mariano Rajoy ligasse para ele.
O fulano teve que se contentar em aceitar a palavra de Morales. Pensando bem, deve ter sido difícil para ele: afinal, a palavra do seu chefe, Mariano Rajoy, não vale nada. Mente com a mesma facilidade com que troca de camisa.
Um avião presidencial é como uma embaixada. É território soberano. O que França, Itália e Portugal e principalmente a Espanha fizeram viola um compêndio inteiro de tratados e convenções internacionais. E rompe marcas olímpicas de prepotência e indecência.
Tudo isso, para agradar Barack Obama e seu governo. Tudo isso para ter certeza que Edward Snowden não estaria indo para a Bolívia. Não estava. E se estivesse? Como iriam arrancá-lo do avião presidencial, que, vale reiterar, é, por convenções internacionais, território soberano do país?
Bem, e o quê fazer agora com Snowden, o técnico terceirizado, especialista em computação, que denunciou ao mundo um escândalo de dimensões enormes que desgastou ainda mais o desacreditado governo de Obama?
Ele está, desde o domingo 23 de junho, em Moscou. Dizem que na área reservada aos passageiros em trânsito do aeroporto internacional da capital russa. Dizem. O mais provável é que esteja recolhido em alguma casa de protocolo reservada a visitantes ilustres.
Uma coisa parece cada vez mais certa: o presidente Vladimir Putin (aliás, veterano dos serviços secretos da antiga União Soviética) não vai extraditar Snowden. Não quer, é verdade, entrar em conflito com Washington. Mas tampouco pode entregar quem revelou barbaridades do mesmo governo, o de Barack Obama, que o persegue com sanha especial.
Depois de ter pedido asilo a 21 países – o Brasil inclusive – e ter recebido como resposta o silêncio, a recusa ou condições para ele inaceitáveis, Snowden recebeu garantias de asilo de pelo menos três países, a Venezuela, a Nicarágua e, depois do que fizeram com o presidente Morales, a própria Bolívia.
Agora, o problema é outro: como chegar a esses países? Não há voos diretos de Moscou para nenhum deles. A única possibilidade é ir via Havana, para onde sim há voos diretos.
Supondo que Cuba faça o que dela se espera, e autorize que Snowden viaje via Havana, é quase certo que apareça outro problema: que os mesmos governos servis da Europa que impediram que o avião presidencial boliviano passasse pelo seu espaço aéreo agora impeçam a passagem de um voo comercial Moscou-Havana.
A hipocrisia pode se repetir: os mesmos governos que se queixam de terem sido espionados por Obama podem agora impedir que o homem que revelou essa invasão saia de Moscou. Essa incongruência, que levou os governos de Portugal, da França, da Itália e da Espanha a violar normas e acordos internacionais, pode facilmente acontecer de novo.
O que Snowden fez foi optar, em termos éticos e morais, entre defender os direitos institucionais de cidadãos do mundo inteiro e os interesses de quem pagava seu salário. Escolheu a decência, correndo seus riscos. Os governos europeus preferiram a indecência da submissão. 
E enquanto isso, conforme vai gotejando informações, Snowden assombra o mundo. Assombra um mundo impotente, que vê como o império seriado em Washington bisbilhota a vida de todos. E assombra ao deixar evidente a servil submissão de uma Europa desmilinguida, mas ainda e sempre pernóstica, impertinente, prepotente.

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por Augusta Clara às 08:00

Quinta-feira, 04.07.13

Miguel Vale de Almeida fala sobre a questão do avião de Evo Morales

 

O que diz Miguel Vale de Almeida

 

 

   O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que não autorizou a escala do avião de Morales por "razões técnicas". Esta não-explicação é de uma arrogância intolerável. Sobretudo quando toda a gente sabe que o que estava em causa era a questão Snowden - uma subserviência aos EUA, que querem apanhar quem revelou que a UE anda a ser escutada. Mas o essencial é isto e ninguém o diz nos jornais: Morales é o presidente de um país, NÃO pode ser tratado assim. Acho pouco eficazes, populistas  e contraproducentes as acusações imediatas de "colonialismo" e até "racismo". Do lado de lá e do lado de cá ( os que estamos contra a direita no poder) o foco devia ser na afronta diplomática a um Presidente. E a direita aristocratóide que domina a diplomacia portuguesa continua a tradição triste do país "intermédio": obedecer aos grandes, desprezar os pequenos.

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por Augusta Clara às 19:00

Quarta-feira, 03.07.13

Francia, España y Portugal niegan sobrevuelo y aterrizaje al Presidente Evo Morales

 

Francia, España y Portugal niegan sobrevuelo y aterrizaje al Presidente Evo Morales

 

 

(Con información de Prensa Latina)

 

 

Publicado em CUBADEBATE Contra el Terrorismo Mediático no dia 2 de Junho de 2013 

 

 

   El canciller boliviano, David Choquehuanca, denunció hoy el riesgo que corrió la vida del presidente Evo Morales como consecuencia de la cancelación inexplicable de la autorización de su vuelo sobre Francia y Portugal.

Choquehuanca destacó que la aeronave no pudo operar como estaba previsto en su retorno hoy de Moscú a esta capital, en medio de sospechas infundadas de que en el aparato en que viajaba volaba también el exagente de seguridad de Estados Unidos Edward Snowden, reclamado por Washington.

Según el ministro boliviano de Relaciones Exteriores, “Portugal tiene que explicarnos, Francia tiene que explicarnos por qué han cancelado. Además el avión es francés, los pilotos han sido entrenados en Francia”.

“Quieren amedrentarnos. Es una discriminación hacia nuestro Presidente y se ha puesto en riesgo la vida del Presidente”, denunció Choquehuanca en conferencia de prensa en la Cancillería.

Como consecuencia de las cancelaciones de Francia y Portugal para operar sobre su territorio el avión del jefe de Estado boliviano, que ya acumulaba tres horas y media de vuelo tras su salida de Moscú, tuvo que buscar un aeropuerto alternativo, el cual encontró en Viena. La aeronave realizó un aterrizaje de emergencia, porque la vida del Presidente corría peligro, aseguró Choquehuanca.

Ante las negativas francesa y portuguesa, la Cancillería boliviana obtuvo permiso de España para que la aeronave presidencial realizara operaciones en islas Canarias, pero luego la autorización también fue cancelada.

Morales, en declaraciones a Rusia Today, admitió que Bolivia estaba dispuesta a ofrecerle asilo político a Snowden en caso de que éste lo solicitará.

Wikileaks, por su parte, informó que Snowden había enviado cartas a 21 países, entre ellos Bolivia, con solicitudes de asilo político, sin embargo, el vicepresidente boliviano, Alvaro García Lineras, negó que el país andino hubiera recibido petición alguna y adelantó que estaban dispuestos a ofrecérsela.

Medios de prensa internacionales especularon durante el día que Sowden podría viajar a América en las aeronaves de Evo Morales o de su homólogo venezolano, Nicolás Maduro.

 

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por Augusta Clara às 08:00



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