Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Jardim das Delícias


Terça-feira, 14.07.15

O IV Reich - José Goulão

mundo_cao1.jpg

 

José Goulão  O IV Reich

 

IV reich.png

 

 

   Todos e qualquer um dos envolvidos na chamada “maratona negocial” de Bruxelas – se é que aquilo teve alguma coisa de negocial – podem reclamar o seu pedacinho de “acordo”, até a paternidade do êxito, como faz o primeiro ministro de Portugal em exercício, mas o mais fácil de tudo é identificar as vítimas: os gregos e, com eles, todos os povos da Europa.

Em bicos de pés, à deriva como sempre, Hollande ufana-se de ter driblado a estratégia alemã de expulsar a Grécia do Euro; Tsipras, que vai ter de explicar a quase dois terços dos gregos que disseram não à troika e à austeridade porque é que eles vão continuar a receber visitas da troika para os esmagar com a austeridade, argumenta que foram derrotados os intentos das forças mais conservadoras da Europa; Tusk, Juncker, Djesselbloem e companhia dirão o que muito bem lhes apetecer por tudo lhes ser permitido.

A senhora Merkel, porém, limita-se a dizer que a Grécia “ainda tem um longo caminho a percorrer” para que o acordo se transforme em nova ajuda envenenada que garantirá mais recessão em cima dos 25% já acumulados – o diagnóstico é feito pelo insuspeito canal Bloomberg.

O senhor Schauble, esse conserva o sábio silêncio dos vencedores. Os mercados respiram aliviados, as bolsas navegam em euforia, os credores afinam as contas à luz das novas operações especulativas que aí vêm. O senhor Schauble pode gozar o triunfo em silêncio, os factos falam por ele, o IV Reich venceu um duro teste e, por isso, sai dele mais reforçado.

A Alemanha pretendia a saída da Grécia da Zona Euro e não o conseguiu? É meia verdade. A saída seria a situação limite no caso de o governo grego manter as exigências que começou por apresentar; Berlim, porém, não desejava a saída pela saída. Esta funcionaria como um castigo exemplar para um caso de persistente rebeldia, mas tornar-se-ia desnecessária se essa atitude se desvanecesse através dos processos de chantagem a que as instituições e dirigentes europeus chamam “negociação”.

Como o governo grego cedeu, e permite até que o processo de privatização do país seja, um quarto de século depois, uma réplica da liquidação da RDA, pode evitar-se a saída do país do Euro e as concomitantes perturbações nos mercados. O exemplo para os eventuais recalcitrantes ficou dado, a par da demonstração de que não há alternativa à austeridade e à liquidação sistemática dos direitos sociais, laborais e humanos. Perfeito.

Reina agora a paz no IV Reich. A experiência de um governo fora do arco da governação, como a que foi tentada na Grécia, está em frangalhos meio ano depois; a troika continua viva e de boa saúde para que os credores recebam tudo a que têm e não têm direito; as dívidas soberanas, impossíveis de pagar, poderão ultrapassar em breve os 200% dos PIB – o que não será difícil com a acelerada degradação destes – pelo que os especuladores exultam. A senhora Merkel necessitou de apenas meia dúzia de horas para reencontrar a moeda de “confiança” que alegou ter perdido antes da reunião fatal para os gregos. E para que o fundo de garantia da “ajuda” à Grécia construído a partir das privatizações do que ainda resta no país não descarrile, por detrás da ideia e da execução estão instituições financeiras alemãs tituladas por gente idónea como o senhor Schauble e o senhor Sigmar Gabriel, o chefe dos sociais- democratas, aliás os inventores da engenhosa estratégia de privatização da RDA.

Alguns ingénuos poderão interrogar-se: mas por onde andam a democracia, a vontade dos povos, no meio disto tudo? A resposta é simples: o IV Reich, como os anteriores, não se orienta pelos ideais democráticos mas sim pelo respeito dos genuínos interesses alemães, na Alemanha e em toda a parte.

Assim nasceram duas guerras mundiais, sem que tenha desaparecido a arrogância germânica, enquanto vai crescendo a sede de vingança. Realidade que se percebe na ânsia não apenas de derrotar os mais fracos, mas também de os humilhar.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Augusta Clara às 08:00



Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara

  • SOL da Esteva

    Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...

  • Inês

    Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...

  • lucindaduarte

    Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...

  • Augusta Clara

    Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...


Links

Artes, Letras e Ciências

Culinária

Editoras

Filmes

Jornais e Revistas

Política e Sociedade

Revistas e suplementos literários e científicos