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Jardim das Delícias


Segunda-feira, 20.10.14

Coisas pós-coloniais, 1 - Miguel Vale de Almeida

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Miguel Vale de Almeida  Coisas pós-coloniais, 1

 

 

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   Ali pelos inícios do século 19 um grupo de americanos decide colonizar o que viria a ser a Libéria. Com escravos libertados. Alguns destes aderem ao movimento. Uma espécie de "sionismo", como aliás décadas depois diria o Marcus Garvey, imaginando um regresso a casa. Claro que para aquelas pessoa - brancas ou negras - "África" era "África", tanto fazia onde. Lá chegaram uns tantos ex-escravos americanos. Tornar-se-iam na elite local, com um fosso de compreensão e poder com os grupos étnicos locais. O país tornar-se-ia numa colónia da borracha para a indústria americana e, paulatinamente, num país miserável - com o seu ciclo de pedras preciosas e guerra civil. Hoje apanha com um surto de ébola e, obviamente, não tem condições para o conter e ajudar a população. Um liberiano senta-se ao lado de um americano num autocarro, com pneus que poderiam em tempos ter sido feitos com borracha da Libéria, sacada a troco de nada por africanos com um governo de descendentes de outros africanos de outras paragens levados como escravos para os EUA para colher não borracha mas algodão. Quando o liberiano revela a nacionalidade, gera o pânico. O ébola, antes de ser um vírus biológico é um vírus social - e o seu cadinho foi o colonialismo, que incluiu o "twisted colonialism" da experiência liberiana. 

 

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por Augusta Clara às 11:00

Quinta-feira, 10.10.13

Vamos lá ver se nos entendemos - Miguel Vale de Almeida

 

 

Miguel Vale de Almeida  Vamos lá ver se nos entendemos 

 

   Vamos lá ver se nos entendemos. Quando faço questão de, em contexto académico e profissional, referir sempre a situação de contra-revolução, de destruição da universidade e da ciência, de fim da comunidade democrática, de exploração por via do corte salarial e de direitos, faço-o por imperativo de consciência face ao que já não é só uma diatribe "política" mas uma questão de (i)moralidade. Faço-o porque considero absurda e já mesmo perigosamente lunática a atitude reinante que obedece ao tabu relativamente a estes assuntos, como se tudo fosse "business as usual" (e que adequada, esta expressão...). Não quer isto dizer que não cumpra as tarefas cujo incumprimento afetaria outrem. Por uma questão de dignidade todos continuamos a tentar dar o nosso melhor. Mas justamente por isso, e pelo esforço acrescido, pela exploração, frustração e menor remuneração (material e simbólica), impõe-se relembrar SEMPRE a situação em que estamos. A forma como as instituições em que circulo, e as pessoas que ocupam cargos de responsabilidade nelas, manifestam uma insensibilidade total face à situação, nunca referindo o assunto nem manifestando a mais remota solidariedade ou reconhecimento pelo esforço, roça, também ela, a imoralidade. Não gosto de ser um chato. Gosto mesmo de ser leve e despreocupado. Mas serei O chato de serviço enquanto for preciso. Caso contrário seria apenas um merdas.

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por Augusta Clara às 10:00

Quinta-feira, 04.07.13

Miguel Vale de Almeida fala sobre a questão do avião de Evo Morales

 

O que diz Miguel Vale de Almeida

 

 

   O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que não autorizou a escala do avião de Morales por "razões técnicas". Esta não-explicação é de uma arrogância intolerável. Sobretudo quando toda a gente sabe que o que estava em causa era a questão Snowden - uma subserviência aos EUA, que querem apanhar quem revelou que a UE anda a ser escutada. Mas o essencial é isto e ninguém o diz nos jornais: Morales é o presidente de um país, NÃO pode ser tratado assim. Acho pouco eficazes, populistas  e contraproducentes as acusações imediatas de "colonialismo" e até "racismo". Do lado de lá e do lado de cá ( os que estamos contra a direita no poder) o foco devia ser na afronta diplomática a um Presidente. E a direita aristocratóide que domina a diplomacia portuguesa continua a tradição triste do país "intermédio": obedecer aos grandes, desprezar os pequenos.

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por Augusta Clara às 19:00

Sábado, 23.02.13

O mais verdadeiro perigo - Miguel Vale de Almeida

 

Miguel Vale de Almeida  O mais verdadeiro perigo

 

   Parece-me bastante desviado o “debate” sobre a liberdade de expressão ou a adequação dos modos de manifestação, debate esse que se seguiu aos protestos durante as últimas aparições públicas de Miguel Relvas. A assimetria de poder, o facto de a democracia não se resumir ao voto, e a situação em que nos encontramos devia obrigar os “debatedores” a não colocarem as coisas no plano da aparente normalidade. A “normalização” da situação política é, aliás, a estratégia central do poder instalado. Ora, a situação que vivemos é profundamente anormal. Em primeiro lugar, vivemos sob intervenção externa, o que resulta numa limitação da soberania ainda maior do que a que já tínhamos – redundando numa limitação da democracia, portanto. Em segundo lugar, o governo que temos não só não cumpriu o que prometeu, como resolveu ir mais longe do que as exigências da troika. Em terceiro lugar, a oposição de esquerda encontra-se inoperante e cristalizada, justamente quando mais seria necessária a sua intervenção, e a figura do presidente da república simplesmente desapareceu. Em quarto lugar, a recessão e o desemprego atingiram níveis que estão perto do catastrófico, isto é, da insustentabilidade das condições fundamentais para uma democracia a sério. Em quinto lugar, o que está em curso é um processo revolucionário de destruição – e não de racionalização, como querem fazer crer – do sistema social em que temos vivido. Como ele é constitutivo das próprias condições da democracia, esta está claramente a ser destruída. Já alguém chamou à atual situação a ditadura da austeridade. Como não é uma ditadura clássica, as formas de a ela reagir tão-pouco serão clássicas. Se são as certas ou não, essa é outra discussão. Válida. E importante, e remetendo para questões de princípio. Mas, a meu ver, ela não pode ser começada, nem feita, sem se considerar primeiro o contexto em que vivemos. Note-se: ele nunca deve servir de justificação para impulsos antidemocráticos. Mas deve servir para pensarmos se o que nos vendem a partir do poder, da sua propaganda da normalidade e da sua atitude de virgens ofendidas, não será exatamente a ilusão de democracia. Quem me dera que pudéssemos estar a discutir o contrato social básico sobre o bom e o mau comportamento nas relações entre governantes e governados. Seria sinal de democracia a funcionar.

 

Este texto não serve para subscrever as posições de fulanos ou cicranos, para dizer se concordo ou não com os estudantes do ISCTE ou a minha opinião sobre a ética ou falta dela de Relvas. Serve para dizer simplesmente isto: vivemos um processo revolucionário invertido, de cima para baixo, uma mudança de regime à socapa, e uma situação análoga às guerras. Esse é o verdadeiro perigo. Ou o “mais verdadeiro”. Não fomos nós, eleitores, governados e contribuintes que suspendemos a normalidade do sistema democrático, a começar pela sua base, a democracia social.

 

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por Augusta Clara às 13:00



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    Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...

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