Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Ossip Mandelstam Concha
(Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)
(Turner)
Talvez tu de mim não queiras nada
Ó noite; desde o fundo abissal
Do mar sou lançado - concha muda
E sem pérola - em teu areal.
Com indiferença vais cantando,
Espumas agitando, e a mentira
Da inútil concha vais amar,
De alta estima a cobrirá tua Ura.
Junto dela te deitas na areia,
Com teus paramentos vais vesti-la,
O enorme sino do mar crespo
A ela unirás para toda a vida.
E os muros da concha esboroada
- Coração de lar desabitado -
Encherás do murmúrio da espuma,
De neblina, de vento e de chuva...
(in Ossip Mandelstam, Guarda Minha Fala Para Sempre, Assírio & Alvim)
Boaventura de Sousa Santos
"As manifestações convocadas para o próximo dia 1 de Junho em muitas cidades europeias são o contributo importante para travar o assalto à nossa esperança e à nossa dignidade. Queremos derrubar os governos conservadores ao serviço do capital financeiro mas queremos sobretudo mudar de política. Queremos tornar claro que: - Entre mercados e cidadãos não há opção - A vida está acima da dívida - A crise é uma burla. Que a pague quem a inventou. - Apliquemos as taxas de solidariedade aos bancos. Nunca às pensões - Inventaram os paraísos fiscais para mandar o povo para o inferno um abraço muito solidário Boaventura"
Susan George
"I hope everyone in Europe will come out ...on the first of June to protest against the troika. Why must we protest against the troika? Because here we are up against three institutions, all of which are completely undemocratical. The first is of course the International Monetary Fund which by the way have said that they know now that austerity is going to create huge unemployment and be extremely costly to the economy and not promote growth at all. They now this. They've studied it. They published. But they are still not changing policy. The second is the European Central Bank, again, appointed. The head of it is a very smart man, Mario Draghi which was also an employee of Goldman Sachs. Who do you think he is going to priviledge in his decisions? Will it be the people or will it be the banking system? The third is off course the European Commission, and these people are not elected either. The three of them together are taking onto their own shoulders the policy decisions of member countries. No one has ever signed up for that. Now we have treaties that are putting us in a straitjacket, we are told that the European Commission and these other unelected people will deal with our won budgets, with our own debt and repayment system, that they are going to deal with everything all the things that are the most important functions of a government and particularly of a parliament which we have elected. They may be good, they may be bad, but at least we have elected them. We have to say no to this destruction, this systematic destruction of democracy. We have to say no to the policies that these people are putting in place, because these policies are invented in the name of the financial industry, the corporate sector and a very tiny minority of europeans, for whom the crisis is an opportunity to enrich themselves. This is an anti-democratic, anti-people and anti-human policy which all europeans must oppose, because if they don't, they'll be the next victims."
Discurso do Professor Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa, na Conferência "Libertar Portugal da Austeridade", ontem na Aula Magna
José Goulão No reino dos irresponsáveis
O presidente de França e o primeiro ministro do Reino Unido anunciaram o levantamento do embargo do fornecimento de armas aos chamados “rebeldes sírios”, designação simplificada de uma constelação onde avultam terroristas e outros criminosos, de fanáticos religiosos a mercenários puros e simples, formada de fora para dentro com o objetivo de derrubar o regime sírio.
Hollande e Cameron não revelaram nada que os seus países não fizessem já, porque o fornecimento de armas aos citados bandos nunca deixou de existir, por vias indiretas, mais disfarçados, o que ia dar ao mesmo. Agora resolveram assumir essa prática à boleia de informações divulgadas por jornalistas do Le Monde dando conta que o regime sírio utiliza armas químicas contra a população.
Longe de mim duvidar da idoneidade dos jornalistas em causa, não desejo despertar os demónios corporativos que fazem a opinião e vigiam a ética por eles próprios fabricada.
Desejo sim contribuir para ampliar essa informação, sem a veleidade de a querer completar, partindo do princípio que o regime sírio recorre supostamente a armas químicas.O regime sírio é uma ditadura político-militar, um sistema de poder autocrático, de índole familiar, desvirtuando a maior parte dos fundamentos em que prometeu assentar quando se institucionalizou através do partido Baas, dito socialista. A laicidade do Estado foi o único alicerce não abalado.
E quem são os rebeldes? O que pretendem? Qual a sua imagem de futuro da Síria? Esse é o problema fulcral. O sistema que existe é conhecido. O que se cozinha é uma incógnita, ou pelo menos a esmagadora maioria dos que para ele trabalham não querem que se saiba.
Quando começou a guerra civil, isto é, quanto grupos armados importados tomaram conta do movimento iniciado pelas manifestações inspiradas na “Primavera Árabe”, dizia-se que o objetivo era “democratizar a Síria. Cameron, Hollande, Obama, Barroso, terão até a ousadia de continuarem a dizer o mesmo.
Ficamos assim a saber que para os principais dirigentes mundiais a democracia se constrói com fanáticos religiosos, com grupos integrados na rede da Al Qaida, com o patrocínio de dinheiro, mercenários e apoio político de ditaduras como a Arábia Saudita, o Qatar, o Bahrein – onde a “Primavera Árabe” foi afogada em sangue pelos exércitos destes e outros países. A democracia constrói-se fazendo da base da NATO na Turquia um centro de treino e armamento de mercenários fundamentalistas islâmicos infiltrados depois na Síria com apadrinhamento da CIA.
A democracia na Síria está a construir-se mais ou menos da mesma maneira como foi criada no Afeganistão por Reagan, Clinton, Bush e Obama, ou no Iraque pelos Bush pai e filho, ou na Líbia por Obama e os gendarmes europeus França e Reino Unido, que bem podem orgulhar-se da bela obra que ali deixaram. A democracia na Síria constrói-se com armas químicas, é verdade, que são de “destruição massiva” quando os “maus” as usam e de libertação quando os “bons” a elas recorrem, sejam ou não da Al Qaida – que tanto podem ser “bons” como “maus”, depende dos caprichos da Geografia. Armas químicas que a insuspeita magistrada suíça Carla del Ponte, ao serviço da ONU, está certa de serem usadas pelos “rebeldes sírios”, tal como informou o secretário geral, atacado de surdez no momento.
O Le Monde revelou as armas químicas do regime, está no seu direito e assim se levantou um embargo que nunca existiu. Acontece que no caso de essas armas existirem não são as únicas, todos os lados as usam, a irresponsabilidade criminosa é geral, tanto dos atores no terreno como dos seus mandantes pelo mundo fora. E muitas delas entram pela Turquia, nas barbas dos generais da NATO e dos espiões da CIA.
Israel, que vem atacando a Síria com regularidade, fazendo a sua parte do trabalho ao lado dos fundamentalistas islâmicos sunitas (sem que os donos do mundo se aflijam nem montem ou quebrem embargos), aguarda que do caos sangrento saia o que tanto deseja. Não a prometida democracia em Damasco, mas antes uma poeira de pequenas entidades inofensivas, entretidas a competir pelos seus pequenos poderes no território onde existiu a Síria.
Haverá então pelo menos um grande e incólume vencedor da guerra civil síria, centenas de milhares de vidas inocentes depois.
Adão Cruz O sorriso dos teus olhos tristes
(Adão Cruz)
Cai sobre mim o amputado sorriso dos olhos tristes numa
altura em que os corpos não bailam e as crianças já não são
crianças
Não sei se me ouves e se me ouves não sei se entendes a
arritmia do ventre das nuvens onde não entra o sol e se
entra é o sol antigo dos olhos inteiros
Cerrado no grito que se não solta aqueço na sombra da
memória as lágrimas frias tecendo de ternura a força
quebrada que liga o sonho aos destroços da madrugada
O pão largo do teu corpo teima em não voltar para dentro de
mim como se o nada fosse o palácio das esperanças todas
O amor é por vontade minha e meu silêncio mas o sorriso
dos olhos tristes acende a toda a hora a primavera
Confundimos a paixão com jornada de lágrimas e risos e
suspiros e delírio onde a aurora desponta e onde começa a
morrer o manso regato do bosque sombrio
Trocámos inconscientemente a água pura fugidia sinuosa
por rectilíneas fábricas de vento e eu fiz do vento o hálito da
minha boca estranha aliança entre o vinho e o génio entre o
altar e o chão
Mesmo assim o sorriso dos olhos tristes renasce sempre
num rio de pranto e corre e salta pelos campos em direcção
à cabana onde ainda guardo o mel para as tuas feridas
(in Adão Cruz, VAI O RIO NO ESTUÁRIO. Poemas de braços abertos, ediçõesengenho)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...