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Jardim das Delícias



Quinta-feira, 26.02.15

Um Império e um pequeno Império - António Pinho Vargas

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António Pinho Vargas  Um Império e um pequeno Império 

 

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   Creio que muitos estarão de acordo sobre o domínio imperial do capitalismo financeiro global, sem rosto, semi-invisível, constituído pelos poderosos do mundo, os chamados 1%. A mais recente evidência é a de que a região do mundo chamada Europa e um núcleo dela que dá pelo nome de União Europeia, não passa de um eufemismo para designar um pequeno Império no qual a entidade imperial é a Alemanha, o Imperador-informal é Schauble, sendo os restantes países assistentes e/ou colaboradores activos dessa dominação imperial.

Que isto se passe numa chamada União só pode ser uma piada. Manifesta-se através do discurso austeritário já conhecido, através do qual se fez da UE o laboratório eficaz do empobrecimento desta região do mundo, para salvaguarda das entidades financeiras globais - FMI, BM, OMC, etc - e dos bancos alemães, fortemente penalizados pelos investimentos que tinham feito antes da crise do subprime - para os quais foram lançados triliões nesses anos - e realizar o plano da passagem da antiga Europa do ex-Estado Social para o actual Estado austeritário, de elevado desemprego e de baixos salários, dominado pelas regras definidas pela cidade do Imperador e seus acólitos.

Que uma democracia, aparentemente como as outras, eleja um governo contra as regras do pequeno império europeu, no qual o Parlamento Europeu faz a figura do Senado romano a partir de Augusto - ou seja, mantem-se para parecer que existe - e um conjunto de burocratas e ex-membros de bancos, logo passados a novos membros, como Vitor Gaspar, ou ex-membros como Mario Draghi, que seriam totalmente impotentes se porventura quisessem ser potentes. Não apenas não querem negociar (provavelmente ainda haverá por lá dinheiro que precisam de recuperar - por exemplo dos submarinos que lá venderam) como, se o quisessem fazer, não o conseguiriam sem o prévio polegar para cima do imperador.

Na realidade são meros colaborantes e permitem com prazer a autoridade máxima da nova entidade imperial dominante.

O resto é 1) uma actividade política democrática ela própria há muito tempo com pouquíssima participação das populações (já mais sábias do que os sábios que falam e analisam) - excepto quando julgam que valerá a pena - destinada a disfarçar o real domínio e 2) entreter as "massas" com acontecimentos vários (os seus produtos, na maior parte, são concebidos e difundidos pelos EUA: chamam-lhe "entertainment"). Se era este o plano secreto dos encontros de Bildergerg, está consumado.

Mas é melhor saber que se vive num Império do que o logro de pensar que se vive em democracias. O capital neutralizou a política, no seu verdadeiro sentido.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Quarta-feira, 25.02.15

Elogio à compaixão da Alemanha - Ferreira Fernandes

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Ferreira Fernandes  Elogio à compaixão da Alemanha

 

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   Diário de Notícias, 23 de Fevereiro de 23015

   Maria Luís Albuquerque foi à Alemanha fotografar-se com Wolfgang Schäuble. A portuguesa não foi ao beija-mão. Foi pior do que isso, o alemão é que achou que devia dar uma mão à sua fiel Albuquerque. Escrevi fiel, não leal. Lealdade é sentimento entre iguais. No final da reunião do Eurogrupo, que abriu uma porta, o grego Varoufakis disse o que se ia fazer: "Acordamos (...) uma nova lista de reformas que vamos abordar de um modo escolhido por nós em colaboração com os nossos parceiros. Não iremos continuar a seguir o guião que nos foi dado por agências exteriores." Isto é, o grego disse: estamos em crise, mas não deixamos de ser um país independente. Isto é, não aceitou ser o "protetorado" que o governo português disse com todas as letras ser. Sobre os que governaram assim, Varoufakis disse: "Eles nunca imaginaram a possibilidade de dizer não. Quando não se consegue imaginar a possibilidade de dizer não, não se está a negociar. E quando não se está a negociar numa situação como a da crise da zona euro, acaba-se a aceitar um acordo em que no fim (...), além de mau para os fracos, é mau para os fortes." A Alemanha reconheceu isso e vai mudar. Por isso é que piedosamente deu uma mão aos seus fiéis. Quando os lusitanos Audas, Ditalco e Minuro, comprados pelo general romano Cipião, mataram Viriato, foram pedir a paga. Foram mortos e expostos com um cartaz: "Roma não paga a traidores." Sorte a do governo português. Berlim paga.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Terça-feira, 24.02.15

Je te dirai les mots - Melina Mercouri & Vangelis

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Melina Mercouri & Vangelis  Je te dirai les mots

 

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por Augusta Clara às 21:00

Terça-feira, 24.02.15

Uma história de amor - Carla Romualdo

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Carla Romualdo  Uma história de amor

 

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(Fotografia de autor desconhecido)

 

 

   Conheci-os na enfermaria e, no que a estas linhas diz respeito, decidi chamar-lhes Maria e António. Ela já fez 80 anos, a ele falta-lhe pouco para lá chegar. São casados há muito tempo, tanto que ela já não recorda a vida sem ele. Ele deixou de saber como se chama, onde está, quem ela é, e passa boa parte do dia agitado, a tentar mover os dedos crispados pela artrose e a murmurar palavras ininteligíveis, e foi isso que me chamou a atenção, ainda antes de conhecê-la a ela. Tantas horas passadas a tentar falar, um tão grande esforço para articular palavras, que poderá ter ele para dizer-nos? Importar-lhe-á se conseguimos decifrá-las ou não? Sorrio-lhe, fraco consolo, sou tão desconhecida para ele como aqueles com quem passou a vida, não entendi uma palavra de todas as que ele pronunciou, e duvido que ele veja esse sorriso do lado de lá da névoa que lhe cobriu os olhos.

Só mais tarde a conheci a ela, uma mulher de passos inseguros, parece hesitar antes de pousar cada pé no chão. É bonita, tem um olhar inteligente e essa avidez de conversa de quem passa os dias só. Vivem um com o outro, sem filhos, e é ela quem trata dele, com a ajuda de uma cuidadora do centro de dia local.

Observo a destreza com que ela o cuida. Os complicados procedimentos para alimentá-lo pela sonda, os cuidados de higiene, o esmero irrepreensível dos pijamas que lhe traz de casa. As enfermeiras ensinam-na com paciência, lamentando ter de ensiná-la, lamentando ter de pedir-lhe o que não deveria ser-lhe exigido, mas ela não se queixa e presta atenção ao que lhe explicam. Dentro de dias, estará de novo sozinha e será ela a responsável, mais uma vez. Mas pelo menos, diz ela, pelo menos já não tem de fechar a porta à chave para que ele não fuja de casa, e di-lo como se fosse uma dádiva pela qual deve estar grata.

Há dias, ouvi uma conversa entre ela e as enfermeiras. Passar tempo numa enfermaria, ainda que nos curtos períodos de visita, é uma forma de vida comunitária, não podemos deixar de ouvir conversas que não nos dizem respeito, ficamos a conhecer os problemas dos outros, metemos inevitavelmente conversa, às tantas damos por nós a interessar-nos como se os conhecêssemos de há muito. As enfermeiras disseram-lhe que a situação dele era estável, a Maria perguntou se ele ia melhorar. Elas não podiam afirmá-lo. Mas a Maria assentiu com a cabeça e afirmou “Oxalá que sim, que melhore.”

E parecia tão sincera no que dizia, nenhuma sombra de hipocrisia, não o dizia por ser isso o que dela se esperava, mas porque era isso que sentia deveras. Oxalá que ele melhore. E não pude deixar de olhar de novo para ele, a respirar com oxigénio, preso à cama, despojado da sua memória, incapaz de alimentar-se, um terrível peso para uma mulher que em breve, se não já, precisaria que a cuidassem a ela. Não era evidente para quem os via que ela estaria melhor sem ele? Que era uma injustiça deixá-la sozinha com ele, que um país decente teria mais, muito mais a oferecer a dois velhos sozinhos que uma visita fugaz de alguém que tem a seu cargo dezenas de casos semelhantes? Quem poderia culpá-la se ela lhe desejasse a morte? Mas ei-la a regressar para o pé dele, e a aconchegar-lhe a colcha, e a recolocar-lhe uma farripa de cabelo grisalho que lhe tombara sobre a testa, com a mesma paciência de sempre, a mesma resignação, como tantas outras mulheres que dedicaram a vida a maridos que às vezes eram admiráveis e outras vezes uns canalhas, mas jamais deixaram de tê-las a seu lado.

Os consultórios, os hospitais estão cheios de mulheres assim, a empurrar as cadeiras de rodas deles, a tirar das malas os resultados das análises que eles teriam perdido, o cartão de diabético, as caixas de comprimidos, a alisar-lhes as calças, a censurar a nódoa que eles deixaram cair sobre o pulôver, e nada revolve mais as tripas do que ouvir os gritos e grosserias que alguns ainda lhes dedicam, às suas escravas devotadas. E há nelas paciência, resignação, e ainda espaço para um gesto amoroso, um aconchegar do casaco, um alisar do cabelo para que eles estejam mais bonitos quando entrarem no consultório, uma inesgotável capacidade de cuidar, seja ela reconhecida e retribuída ou não.

Quero acreditar que o António não era assim, que foi um homem atento e recíproco, e não serei eu a perguntar-lhe nada a ela sobre isso, por respeito mas também para não ter de ouvir o que não quero e lamentar ainda mais a sorte dela, tão lúcida e paciente, tão inteira na sua missão. Talvez ela o queira manter mais tempo por cá pela companhia que ele ainda lhe faz, porque com ele ao lado ela sempre pode fingir que ele a escuta e que a entende, e até pode distrair-se e fazer-lhe uma pergunta, para logo abanar a cabeça, que disparate, que cabeça a minha, a fazer-lhe perguntas, coitadinho. Ou talvez seja amor, talvez não imagine a vida sem ele, ainda que aquele já não seja exactamente o homem que existiu e ali tenha ficado apenas um corpo exausto, sem memória. Mas ele é ainda o mesmo, ou o que dele resta fora da memória dela, e é por isso que ela prefere que ele fique, como puder, ainda que sem autonomia, ainda que sem consciência, que da parte dela não haverá lugar a queixumes. É amor e numa das suas formas mais nobres e dilacerantes. E basta um dia em que o António lhe aperte a mão, como às vezes ainda faz, para que ela sinta que tão grande esforço vale a pena.

Agora despeço-me da Maria com dois beijinhos. Se calhar, ainda lhe peço o número de telefone antes que uma de nós vá embora.

 

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por Augusta Clara às 14:00

Terça-feira, 24.02.15

A União Europeia, a Grécia e o que adiante se verá - Carlos Esperança

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Carlos Esperança  União Europeia, a Grécia e o que adiante se verá

 

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   Enquanto a Europa se debate em contradições internas, entre uma Europa cada vez mais alemã e a Alemanha progressivamente euro-evasiva, a fome, vinda através do Magreb, afoga-se no Mediterrâneo ou, se sobrevive, entra por Lampedusa, Chipre ou pelas ilhas gregas onde se perde o rasto de origem dos esfomeados.

A UE lambe feridas na Ucrânia, onde o entusiasmo mal pensado mantém um conflito de interesses entre os EUA e a Europa, com uma guerra no horizonte. Gorbatchov avisou a Europa das injustiças contra a Rússia, com a obsessão da Nato a querer cercá-la. Dentro de fronteiras, as mesquitas e madraças são uma ameaça constante à paz e à liberdade.

É neste caldo de cultura, onde se joga a paz e a democracia, que a luta ideológica toma o lugar do pragmatismo no diferendo interno que opõe a Grécia aos credores que desejam vacinar os povos contra a esperança, perante um Golias que deseja salvar da fome o seu povo enquanto os governos de Portugal e Espanha têm sido a escória dos falcões.

A luta do Governo grego é uma gesta heroica de quem não renuncia à luta, sabendo que a vitória é difícil e mitigada. Tem contra ele a rede de interesses partidários e a sede de vingança dos que, fazendo chantagem sobre os eleitores gregos, se viram vencido nas urnas. A vitória da coragem, inteligência e patriotismo esbarra no medo do contágio do eleitorado dos países que se renderam e deixaram humilhar.

A Europa devia ser uma federação de países e não um mosaico de interesses nacionais, uma união civilizacional e não a arena onde se digladiam interesses nacionalistas a que nem o internacionalismo capitalista – o único que subsiste –, parece conseguir opor-se.

Penso que a Grécia merece a solidariedade de todos e uma contenção na luta ideológica dos que, de um lado e doutro, pretendem tirar dividendos do sacrifício de um povo e dos patriotas que têm nas mãos a responsabilidade de o defender. Paradoxalmente, Merkel e Hollande deram-se conta do perigo europeu de humilharem a Grécia enquanto Rajoy e Maria Luís foram os rostos da desonra e da degradação política.

A vingança dos fracos é a catarse da impotência e da vergonha quando o futuro é cada vez mais imprevisível e o presente já não é o que julgávamos.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Segunda-feira, 23.02.15

Fui à beira do mar - José Afonso

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José Afonso  Fui à beira do mar

 

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por Augusta Clara às 21:00

Segunda-feira, 23.02.15

"Só falta convencer os portugueses a acreditar em Portugal" - António Pinho Vargas

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António Pinho Vargas  "Só falta convencer os portugueses a acreditar em Portugal"

 

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   Já disse que não irei continuar a fazer o papel de porta-estandarte no que respeita à música portuguesa da tradição erudita. O que havia a fazer está escrito, está dito e redito. Mas entra-me pela casa dentro de vários modos uma problemática desse tipo que afecta toda a cultura portuguesa. Neste caso uma frase, chamada a título, no jornal Público de hoje, da entrevista de Luiz Schwartz, editor brasileiro que criou a ...Companhia das Letras Portugal, do grupo Penguin Random House. Diz então: "Vejo, pelas minha visitas que só falta convencer os portugueses a acreditar em Portugal. Os espanhóis, os americanos e agora um brasileiro acreditam". Primeiro envergonho-me, depois tento pensar. Trata-se neste caso da questão da edição literária e o seu estado semi-moribundo. Deste modo reaparece "o medo de existir" de José Gil, a querela identitária interna e a sua particular presença na actividade artística neste país que a torna uma dificuldade, uma heroicidade, nos piores casos, uma existência quase clandestina.

Mas como julgo que não existe uma identidade facilmente isolável ou definível como sendo "os portugueses", julgo que "estes" portugueses de que fala o editor, são as ditas "elites culturais". Mais um problema. Porquê?

Segundo Fernando Pessoa, nos anos 20/30, "as cidades onde há mais provincianos são Lisboa e Porto" e "caracterizam-se pelo fascínio pelas grandes metrópoles europeias". Prossegue agora este provinciano: "Ring the bell?" ou a avestruz que há em nós, prefere não ouvir os sinos e continuar com a sua particular visão do que é um "cosmopolita"?.

Só para irritar alguns destes, direi que nas músicas populares dos vários matizes muito mais facilmente se estabelecem relações de afecto e admiração intensa com os seus artistas. Nem preciso de os citar. É algo que faz parte das evidências.

O resto é fácil de concluir: identifica e localiza, dentre as práticas artísticas, aqueles "portugueses" do título e as suas funções: "não acreditar" como signo de requinte espiritual para uso de saloios disfarçados. Verifica-se igualmente na política a mesma parolice servil como agora foi muito claro.

Se dirão Viva a Alemanha! eu responderei: Viva Varoufakis!

APV

 

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por Augusta Clara às 17:00

Segunda-feira, 23.02.15

CONVICÇÕES LXXVI - Adão Cruz

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   Cada vez estou mais de acordo com o José Goulão, e cada vez estou mais convencido de que o Exército Islâmico não é mais do que um braço armado dos Estados Unidos e das suas filiais europeias. A pretensa luta contra o EI não passa de uma estratégia de fantasia e de um embuste como tantos outros a que nos habituaram os grandes terroristas da humanidade.

A invasão e destruição de países como o Iraque, a Líbia e a Síria, através dos mais sórdidos meios ofensivos, arrastando os povos relativamente felizes para a miséria e para a morte, a fim de lhes roubar o petróleo e outras riquezas, implica a maior degradação humana a que desceu este cobarde e miserável imperialismo engravatado.

 

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por Augusta Clara às 14:00

Segunda-feira, 23.02.15

Servil, mas coerente - José Goulão

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José Goulão  Servil, mas coerente

 

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   O presidente da Comissão Europeia admitiu o pecado da austeridade e logo se levantaram vozes revoltadas no interior da União Europeia, dirigidas pelo marechal de campo Schauble, atiçando os SS de estimação contra os desmandos verbais do seu homem em Bruxelas.

O curioso é que Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão, não disse nada de novo. Ainda ele era presidente do Eurogrupo, antes deste boneco articulado que parece esvoaçar despistado e acaba sempre no colo do atrás citado Schauble, já recomendava que não deveria carregar-se na austeridade, porque a economia não cresceria. Não porque os povos sofressem, notem bem; mas porque a economia não cresceria.

Isto diz Juncker desde 2011, porém a austeridade continuou e, como ele advertia, e por uma vez na vida tinha razão, a economia da União Europeia continua tão paradinha como estava, ou mais.

Não haja ilusões, porém, quanto à confissão compungida de Juncker. Foi coerente ao fazê-la, mas ele não é mais do que um funcionário tecnocrata de quem o colocou em Bruxelas, isto é, Berlim. Berlim decidirá e Juncker obedecerá, como sempre tem feito, diga o que disser.

Mas vamos às reacções à confissão do presidente da Comissão Europeia. Levantou-se um grande alarido, diz-se que a União Europeia está dividida, a senhora Merckel até se abespinhou com os seus irmãos social-democratas, nada que não se resolva no bom e fraterno espírito mercantil. Em última análise, e porque dizem haver pendências, elas serão solucionadas pelo árbitro, mais uma vez Berlim. E Berlim, creio que não há dúvidas, é a senhora Merckel, o senhor Schauble, o BCE, a valente guarda pretoriana das máfias financeiras e bancárias, conhecidas pela designação utilitária de Credores.

Pois os credores não abrem mão dos créditos, quais cães-de-fila com a presa bem abocanhada, e querem que se faça sangue porque, pela primeira vez em muito tempo, estão acossados. A ordem austeritária estabelecida pelos altos comandos da União Europeia treme como nunca, ainda que o abalo, por ora, seja insuficiente para que as correntes guiadas pela democracia e o respeito dos direitos humanos “tomem Berlim”, como canta Cohen e Tsipras adaptou, e fez muito bem. Para mal destas correntes humanistas, um solista não chega, é preciso coro.

Além de Juncker, há outra entidade muito coerente na defesa acérrima da austeridade e nos maus-tratos infligidos ao seu próprio povo, em nome da tal máfia que manda a partir de Berlim: o governo de Portugal. Igual a si mesmo, coerente no servilismo ao mercado, mesmo que isso represente estraçalhar a vida do seu povo, o primeiro ministro de Lisboa atirou-se a Juncker. Qual pecado, qual carapuça, estamos muito bem, a austeridade é óptima, nunca sentimos que a troika pusesse em causa a nossa dignidade, garantiu depois o senhor Marques Guedes.

Registemos de duas premissas que assentam como fato feito por medida ao governo de Portugal em funções: pode ser-se coerente e servil ao mesmo tempo; e para sentir a dignidade ultrajada é preciso tê-la. 

 

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por Augusta Clara às 08:00

Domingo, 22.02.15

Lição grega - "As viagens longas têm que começar com um passo" - Yanis Varoufakis

 

"Negociámos em nome do povo grego"

(Agora legendado em português)

 

 

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por Augusta Clara às 17:15

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