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Jardim das Delícias



Quinta-feira, 31.12.15

New Years Eve Song - Patricia Barber

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Patricia Barber  New Years Eve Song

 

 

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por Augusta Clara às 21:00

Quarta-feira, 30.12.15

Patricia Petibon & Olivier Py - Satie: Le Tango

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Patricia Petibon & Olivier Py - Satie: Le Tango

 

 

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por Augusta Clara às 21:14

Sábado, 26.12.15

De um sem-abrigo a um cristão - José Emílio-Nelson

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José Emílio-Nelson  De um sem-abrigo a um cristão

 

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(Fotografia de José Emílio-Nelson)

 

 

O gesto da Piedade devolve-te Deus?
Deixas-me na Culpa, não me queres no meio de Ti.
(Abusa de mim, que adoeço enrolado 'ao meu alcance'.
Sou Lúcifer ou a Cruz?, pregas a iniquidade.)
Apaziguado por jogares ossos a Cérbero que me consola,
E cobertores quando regressas para 'o puro mel dos favos'?
Que fazes por mim? Afastas o meu corpo descalço. Por que me julgas?
Justifica a Cólera.
O Mal é soberano e é a chave do Divino.
É esta a Ordem do Tempo?

 

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por Augusta Clara às 19:02

Sábado, 26.12.15

Tenham aneurismas à terça-feira - Ferreira Fernandes

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Ferreira Fernandes  Tenham aneurismas à terça-feira

 

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   Diário de Notícias, 24 de Dezembro de 2015

   Temos interesse em ver o caso do jovem deixado morrer no Hospital de São José como isso mesmo, um caso. Assunto público, como a saúde. Na carta da namorada duas frases contam a história. Ao ir de ambulância, ela disse-lhe: "Eles vão cuidar de ti." Leia-se, para tirarmos das palavras a carga sentimental: o Estado, nas obrigações que lhe cabem de saúde dos cidadãos, vai cumprir o que deve. Na segunda frase, ao chegar ao hospital, a namorada ouviu: "Infelizmente calhou numa sexta-feira." Leia-se: as obrigações do Estado, neste caso, interrompem-se ao fim de semana. Enfim, tenham aneurismas às terças ou quintas. Ao fim das duas frases, depois da esperança ("vão cuidar") e da resignação ("calhou"), matou-se um homem. Os cortes foram longe de mais nos hospitais, diz-se agora. E também se diz que, apesar dos cortes cegos, havia mecanismos que, no caso de David Duarte, não foram seguidos. Os entendidos vão (vão?) tirar conclusões e os responsáveis decidiram que haverá, já, equipas de neurocirurgia nos hospitais adequados, aos fins de semana. Nós, os que sofremos de não saber o que é organizar a saúde pública (e acreditem, somos muitos, apesar do que vão ler nos jornais por estes dias), nós, os leigos, deveríamos ficar pelo essencial. E o essencial é: aquela frase - qual é a parte de "não há dinheiro" que não entendeu? -, tão batida a partir de 2011, era criminosa. Cheia de bom senso, mas prenhe de crimes. Este foi mais um.

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por Augusta Clara às 15:00

Segunda-feira, 21.12.15

Second Arabesque - Debussy

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Debussy  Second Arabesque

 

 

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por Augusta Clara às 20:37

Segunda-feira, 21.12.15

Um breve conto de Natal - Marcos Cruz

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Marcos Cruz  Um breve conto de Natal

 

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   António era um bife. Mal passado, passava mal. Mas tinha a resistência suficiente para lutar contra os que o queriam passar bem, pois sabia que “uma vez bem passado, bem passado para sempre”. Passava mal no presente, mais precisamente, já que o seu passado fora até bem passado, ou, como todos os passados, bem e mal passado. Em parte, era com isso que ele se passava: se, por um lado, “uma vez bem passado, bem passado para sempre” e, por outro, o seu passado havia sido bem e mal passado, ou seja, em parte, bem passado, porque não estaria ele bem passado no presente? Talvez, sem o ter presente, estivesse. Mas então por que razão passava mal? Era uma problema pesado, difícil de ultrapassar, e por isso António pediu ajuda. Foi ter com um bife que, por haver passado muito e (aparentemente) passar bem sem estar bem passado, talvez o pudesse fazer passar melhor no futuro, passando-lhe uma receita, ou algo assim, que o dispensasse de ser bem passado para deixar de passar mal. Era o melhor presente possível e, à beirinha do Natal, António passava o tempo todo, incluindo todo o tempo passado com o outro bife, a pedi-lo. Porém, passado pouco tempo, e vendo que António o havia passado mal a ansiar pelo momento de o passar a passar bem sem estar bem passado, o outro bife explicou-lhe que esse não era pedido que ele pudesse fazer a não ser a si próprio, pois nem ele, o outro bife, e muito menos o Pai Natal o poderiam satisfazer. Completamente passado, aqui já não interessa se bem se mal, António deixou o outro bife com um cortante “passar bem” e foi para casa pensar que passaria a mais desconsolada consoada da sua mal passada existência. Só, e descompassado com a ideia de que mais vale só que mal acompanhado, jantou um bife bem passado e passou o resto da noite a dormir, passando a linha do Natal sem se aperceber. Ao acordar, olhou para a árvore luzente que, apesar de tudo, havia comprado e percebeu que alguma coisa se tinha passado, pois no lugar do passado estava lá um presente. Entusiasmado, correu a abri-lo. Era uma bifana. Dormia como um anjo por nascer, mas já se constatava que era uma bela bifana, daquelas que fazem qualquer bife, mesmo o mais indefinidamente passado, como António, ultrapassar-se. A incredulidade guiou-o, qual sonâmbulo, até à casa de banho, onde passou água pelos olhos. Foi então que, confrontado com o espelho, viu que não se via. O seu tempo, dizia-lhe a superfície das imagens avessas - e que ali estampava também a do Natal - tinha passado. António deixara de ser um bife para passar a ser nada, como acontece com todos os bifes. E não lhe restava sequer o consolo de, enquanto nada, pensar que quando fora um bife o havia sido mal passado, já que passara à história com essa incerteza. Resignado, decidiu aprender com o passado e viver plenamente a espécie de segundo nascimento que lhe fora concedida. Outrora recém-nado, hoje recém-nada. Nesse preciso momento, a bifana acordou.

 

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por Augusta Clara às 19:30

Domingo, 20.12.15

FILME - Scrooge, adorável avarento, realizado por Ronald Neame

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Ronald Neame  Scrooge, adorável avarento

(segundo o conto de Charles Dickens)

 

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por Augusta Clara às 14:00

Domingo, 20.12.15

Mondo perdido - Adriana Costa Santos

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Adriana Costa Santos  Mondo perdido

 

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Chegada à Paz (Visão), 19 de Dezembro de 2015

No campo de refugiados há um rapaz que ajuda discretamente nas limpezas. Também é refugiado, só que não sabe.

   Mondo é o rapaz que limpa as casas de banho do campo. Reparei nele quando nos faltou e a sujidade se arrastou por três dias. Também é refugiado, mas não sabe. O problema é que, ao contrário dos que agora chegam, ele tem já quatro anos de história aqui, esquecido pelo mundo e pelas gentes, sem sonhos nem dignidade.

Quando, em 2011, as primaveras árabes incendiavam o norte de África e o Médio Oriente, chegaram-nos imagens de barcos sobrelotados de migrantes fugidos da guerra a dar à costa em Espanha, Malta e Itália. Mondo tinha vinte anos e apanhou um desses, que o levou da Tunísia até ao caos de Lampedusa.

Após doze horas de viagem numa modesta embarcação com mais de setenta pessoas, o combustível chegou ao fim e os migrantes ficaram perdidos no meio do mar. Um navio de pescadores cruzou-se no seu caminho e rapidamente se afastou, com medo daqueles olhares desesperados. Esperaram várias horas, até a polícia marítima italiana os resgatar e levar até à costa.

Na primeira semana, foi transportado de Lampedusa para Roma, onde permaneceu três dias, e dali passou para Bari. Contou-me que os migrantes eram deixados à sua sorte e autogoverno num edifício do Estado. Assistiu e sobreviveu a cenas de violência, à falta de higiene, a incêndios nos quartos, mortes e deportações. Um dia, conheceu um seu compatriota que seria deportado para a Tunísia na manhã seguinte. "Se quiseres sair deste centro", revelou-lhe, "tens de mentir, não há outra hipótese. Tens de dizer que és menor".

Mondo assim fez, fugido da sua terra em chamas, sem qualquer documento que o comprovasse, afirmou em tribunal que tinha apenas 17 anos, tendo sido logo encaminhado para uma "Casa-Família" em Lecce, lar que partilhou com tantos outros jovens na sua situação. Voltou a fazer o 9º ano, trabalhou em restaurantes a lavar pratos, arrumou carros e pediu dinheiro na rua. Quando fez 18 anos teve de abandonar a casa e fazer-se à vida.

Conta-me que viveu na rua e que conheceu as pessoas erradas. "Meti-me em problemas de que não tinha capacidade de sair". Um dia bebeu demais e invadiu uma casa. Quando a polícia o encontrou, disse que só procurava um sítio para dormir. Acredito que tenha omitido os verdadeiros contornos da história, com medo de perder a minha confiança, mas não quis interromper a sua narrativa. Em tribunal, foi condenado a seis meses de prisão. Cumpriu a pena e saiu em liberdade. Voltou a pedir nas ruas e, passado pouco tempo, voltou à prisão por roubar. Foi obrigado a abandonar o país.

Passou pela França, Alemanha e agora está na Bélgica. Sobreviveu de esmolas, sopa dos pobres, má vida, duches públicos e centros de acolhimento. Hoje tem 25 anos e vive numa casa abandonada com outros três "Sans Papiers", imigrantes ilegais, sem papéis, sem dignidade, sem família, sem sonhos, sem vida.

Quando, em setembro, o antigo campo de refugiados começou a crescer, Mondo passou por lá à procura de comida e roupas. Estava na Bélgica há pouco tempo e dormia na rua. Deram-lhe um lugar numa das tendas. Foi começando a ajudar, apanhou lixo e traduziu de árabe para francês. Com o encerramento do campo, passou diretamente a trabalhar aqui no Hall Maximilian e tornou-se, sem nunca ninguém o ter nomeado, no responsável da limpeza.

Quando cheguei, disseram-me para ter cuidado com ele, que era ladrão. Era esse o dia do seu aniversário. Veio apresentar-se, com um discurso sedutor, soube que ele falava italiano e escrevi "Parabéns Mondo" num papel com várias cores para lhe oferecer. Parti do princípio que não podia confiar nele, mas nunca o dei a entender. Muita gente ali o tratava com desprezo.

Defendi-o. Ou tínhamos provas e o mandávamos embora, ou o deixávamos ficar, sem lhe roubar o bocadinho de dignidade que ainda lhe resta. Comecei a perceber que ele levava comida e roupas na mochila, mas resolvi ficar calada. Um dia foi apanhado em flagrante e um dos coordenadores do campo chamou-o à parte. "Já há muito tempo que sei que vens aqui para roubar", disse-lhe, "sei bem as dificuldades por que passas, mas a nossa tolerância chegou ao fim e esta situação tem de acabar. Deixo-te agora duas hipóteses: nunca mais apareces e vais roubar para outro lado, ou te tornas digno de confiança e ficas connosco, vamos dar-te roupa e a comida de que precisares, amigos e uma família com que poderás sempre contar".

Mondo decidiu ficar. Uma vez por mês tem direito a escolher roupa e sapatos para si e, todas as semanas, o responsável da comida dá-lhe um saco de mercearias para ele levar para casa. É dos primeiros a chegar e dos últimos a sair, anda sempre com uma coluna portátil a tocar música e limpa o centro com um sorriso constante.

Tem os braços cheios de pequenos cortes. Quando reparei, explicou-me que não sabia por que o fazia, que simplesmente acontecia, quando estava mais revoltado. "Estes já são antigos. Desde que cheguei a Bruxelas, só o fiz uma vez", revela-me com o sorriso de sempre, "os mais profundos, fi-los na prisão em Itália".

A sua mãe vive na Tunísia. De cada vez que falam, pergunta-lhe entre lágrimas se ele consegue comer e implora-lhe para que nunca volte. Antes de fugir para a Europa, Mondo tirou um curso profissional de cabeleireiro, abriu o seu próprio salão na garagem de casa e lá trabalhou dois anos, até que a violência e a instabilidade levaram a família a fechar as portas, com medo de morrer no meio dos disparos. Usou o dinheiro que lhe restava para apanhar o barco em busca da liberdade e da paz. Em troca, deixou para trás todas as hipóteses de dar sentido à sua vida, para lá da sobrevivência.

Mondo é um filho da injustiça do mundo em guerra, que não distingue pessoas de números, um delinquente a quem nunca foi dada uma oportunidade de escolher o caminho certo. Talvez seja este o início de uma história mais bonita ou talvez o campo feche e Mondo volte a roubar, sem hipóteses de trabalho legal e de uma vida digna.

Um dia revelei-lhe que tinha medo do escuro. Riu-se muito, respondeu-me que não tinha medo de nada. "Na casa onde eu estou, não há eletricidade, daqui a umas horas o sol põe-se e eu volto para dormir, na total escuridão". "Mas não te preocupes", disse-me, "já estou habituado".

Apesar das dificuldades por que têm passado, os refugiados desta nova vaga não se viram ainda em situações de total perda de esperança no mundo que habitamos. Abandonaram os seus países há pouco tempo, têm tido cama, roupa e comida, ainda não precisaram de pôr os seus princípios de lado. Precisam de ajuda e de recomeçar, mas na via da legalidade. Espero que os Estados europeus o percebam a tempo e que não os deixem cair. Que lhes deem espaço para a integração, para participarem na nossa sociedade e economia como iguais. Que o trabalho seja mais eficaz do que aquele que foi feito com o meu amigo Mondo, o miúdo ilegal.

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por Augusta Clara às 08:00

Sexta-feira, 18.12.15

Silent monks singing halleluia

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Silent monks singing Halleluia

(um grupo de alunos iniversitários concebeu esta maneira criativa de interpretar a Halleluia de Handel)

  

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por Augusta Clara às 20:00

Sexta-feira, 18.12.15

CONTO - A Menina e o Pássaro Encantado - Rubem Alves

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por Augusta Clara às 14:00

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