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Jardim das Delícias



Sábado, 31.12.16

Um Feliz Ano Novo para todos que não requeira muito esforço a atravessar

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(Adão Cruz)

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por Augusta Clara às 16:20

Sexta-feira, 23.12.16

A verdade (Ou a vinda de Francisco a Fátima) - Adão Cruz

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Adão Cruz  A verdade (Ou a vinda de Francisco a Fátima)

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   Qualquer um de nós que mantenha respeito por si próprio manifesta uma saudável vontade e necessidade de tentar aproximar-se o mais possível da verdade, esteja ela onde estiver. Só a verdade vos tornará livres, disse Cristo.

A mentira é a ofensa mais directa contra a verdade, diz a Igreja Católica, a despeito das fundamentais e colossais mentiras em que assenta.

É frequente ouvirmos comentários a dizer para deixarmos a Igreja em paz, e, se não lhe pertencemos, em nada temos que a criticar. Quem assim fala, obviamente que não reflecte, nem evidencia honestidade de pensamento.

A Igreja é um fenómeno social, um dos fenómenos sociais mais entranhados e mais influentes da nossa sociedade. Se é bom ou mau, pertence a cada de nós sabê-lo, e é obrigação de cada um sabê-lo. O que é certo é que todos nós, crentes, agnósticos, ateus, pessoas de outras religiões, temos o direito, o dever e a obrigação de nos debruçarmos, da forma como entendermos, sobre um fenómeno que nos afecta tão profundamente e que tão dramaticamente interfere nas nossas vidas.

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Todas as nossas vidas, desde o nascimento, estão, com efeito, profundamente influenciadas pelo cristianismo católico. Toda a nossa história, os nossos próprios nomes, os actos sociais, as festas, os nomes das instituições de saúde e educação, e não só os nomes mas toda a cultura que nelas se difunde, a visão do mundo e da ciência, a visão política, económica e financeira, nacional e internacional, as intervenções em todos os quadrantes, nomeadamente as intervenções bélicas estão embebidos pelo que de santo ou diabólico existe na religião e na Igreja.

Tudo o que atrás referi tem como finalidade chamar a atenção para o que nem tudo o que luz é ouro. Chamar a atenção para a necessidade de não nos deixarmos guiar apenas pelos costumes, pelas tradições e por tudo o que nos impingem. Chamar a atenção para a imperiosa necessidade de pensar e de ler, leituras sérias, fundadas e documentadas, que consigam pôr-nos a pensar pela nossa cabeça e não pela cabeça da igreja e dos poderes de que ela dispõe. Lembremo-nos que nada há de mais sagrado do que a nossa razão e a nossa mente. Passarmos por cima delas é o pior de todos os suicídios.

A sorte que actualmente temos de poder dispor, a nível mundial, de uma profusa literatura honesta e credível não pode ser desprezada.

“Mentiras Fundamentais da Igreja Católica”, por exemplo, de Pepe Rodriguez, é um fantástico livro, a não perder por quem sente, como disse atrás, a necessidade da verdade como metabolito essencial da sua existência.

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Pepe Rodriguez é licenciado em ciências da informação, é um destacado jornalista de investigação, um especialista em seitas e religiões comparadas. O livro é de uma seriedade, honestidade e transparência que não deixam dúvidas a qualquer leitor bem intencionado. Pressente-se que o trabalho de investigação que lhe deu origem foi extremamente sério e ciclópico. Basta o astronómico número de referências bibliográficas, e o apoio e colaboração de destacadas figuras da cultura como Victoria Camps, catedrática de ética, Enrique Magdalene conhecido teólogo católico, Maria Martinez Vendrell, psicóloga e Joaquin Navarro Esteban, magistrado da Audiência Provincial de Madrid.

Mas há muitos mais livros francamente aconselháveis, repito, a quem não pode viver acomodado com a pulhice e a mentira, livros que, por certo, mudarão a mentalidade de quem os ler com vontade e intuito de procurar a verdade, dentro do respeito que cada um nutre por si mesmo.

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Refiro apenas alguns do que tenho lido ultimamente:

- “Em nome de Deus” de David Yallop. Sobre o assassinato de João Paulo I pelo Vaticano, sobre o trabalho sujo da Igreja, nomeadamente os escândalos financeiros e a cobertura na fuga secreta dos grandes criminosos nazis bem como a sua colocação em esconderijos na América Latina.

- “A Desilusão de Deus” de Richard Dawkins. Sobre o problema Deus.

- “A Santa Aliança” de Eric Frattini. Sobre toda a ligação criminosa do Vaticano à mafia, loja maçónica, terrorismo de extrema-direita, apoios às mais ferozes ditaduras, e sobre os inimagináveis crimes e fraudes político-económico-financeiros.

- “ A vida sexual do clero” de Pepe Rodriguez. Mal aceite pela Igreja, como é óbvio, mas que ela não conseguiu impedir de chegar às mãos de imensos católicos. O próprio bispo Januário Torgal Ferreira considerou-o não ofensivo nem agressivo, e diz que, ao lê-lo, se tem a sensação de abrir os olhos.

- “Los Papas e el Sexo” de Eric Frattini. Sobre as “castíssimas virtudes” de tudo quanto é perversão papal, desde que o papado existe.

- “O Labirinto de Água” de Eric Frattini. Sobre o Evangelho de Judas Escariote.

- “O Espectáculo da Vida” de Richard Dawkins. Sobre a Evolução. O mais fantástico documento anti-criacionista que já li.

- “El Catolicismo Explicado a las Ovejas” de Juan Eslava Galán.

- “Los Péssimos Exemplos de Dios” de Pepe Rodriguez.

- “deus não é Grande” de Christopher Hitchens. Como a religião envenena tudo.

- “Opus Dei” de Bénédicte e Patrice Des Mazery.

- “CIA, Jóias de Família”, de Eric Frattini.

- “Segredos do Vaticano” de John Follain. Sobre o assassinato do coronel Alois Estermann, da Guarda Suíça, e sua esposa, a venezuelana Meza Romero, perpetrado pelo cabo Cédric Tornay, que se suicidou, e que o Vaticano abafou de forma altamente suspeita.

-“La puta de Babilonia” de Fernando Vallejo.

- “O Empório do Vaticano” de Nino Lo Bello. Sobre tudo o que o título sugere.

- “O Holocausto do Vaticano” de Avro Manhattan. Este livro, especialmente temido e banido pelo Vaticano é algo de tenebroso, recheado de exemplos chocantes do terrorismo contemporâneo do Vaticano, com documentos e fotos dos campos de concentração católicos na Jugoslávia e não só, de execuções de centenas de milhar de não-católicos, e de inacreditáveis atrocidades e execuções em massa, com enterramento de famílias inteiras vivas e conversões forçadas.

- “Vaticano S.A.” de Gianluigi Nuzzi, um documento histórico e exclusivo que revela a mão do Vaticano nos bastidores dos jogos políticos e financeiros.

- “Sua Santidade” de Gianluigi Nuzzi”, as cartas secretas de Bento XVI. Como o Vaticano Vendeu a alma.

-“Conspiração no Vaticano”, de G.L. Barone. Terrorismo, Alta finança, Santo Sudário, Vaticano e Guarda Suíça.

- “Os abutres do Vaticano”, de Eric Frattini, o livro que previu a renúncia de um Papa.

- “Avareza”, de Emiliano Fittipaldi, os documentos que expõem a riqueza, os escândalos e os segredos da Igreja do Papa francisco. Um livro que abalou o Vaticano e levou o autor a tribunal.

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- “Via Crucis”, de Gianluiggi Nuzzi. Francisco, um papa em perigo no seio do Vaticano.

Longe de mim a pretensão de ensinar alguma coisa a alguém, sobretudo em matéria desta ordem. Longe de mim a intenção de procurar distorcer o pensamento de quem quer que seja. Reconheço a minha ignorância em muita e muita coisa, apesar de ter uma grande avidez de conhecimento e saber. Sou suficientemente humilde para reconhecer a fragilidade humana, mas sou suficientemente racional para saber que a verdade, esteja onde estiver, não é esta que para aí impingem de forma dogmática, e que a mentira é demasiado poderosa para a tudo se sobrepor, quando por trás dela existe a indigna exploração da ignorância, escancarada “ad nauseam” em todo este triste folclore a que assistimos, e os inconfessáveis e misteriosos interesses do poder estabelecido. O Vaticano é um regime teocrático arcaico e empedernido, que visa a defesa a todo o custo da sua “religião”, a despudorada propaganda, e a extensão e expansão dos inadmissíveis e obscenos privilégios materiais e temporais de uma religião, cuja essência e verdade pouco ou nada lhe interessa.

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por Augusta Clara às 19:46

Sexta-feira, 16.12.16

Chico Carvalho - Francisco José - António Galopim de Carvalho

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António Galopim de Carvalho  Chico Carvalho - Francisco José

(O Prof. Galopim de Carvalho, tão conhecido pelos seus estudos sobre os dinossauros em Portugal, fala-nos do seu irmão Francisco José que as gerações mais velhas recordam como o cantor de "Olhos castanhos")

 

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 (Francisco José)

   Eu tinha oito anos e ele quinze. A Alemanha dava início à 2ª Guerra Mundial. Meu irmão mais velho, Francisco José, o Chico Carvalho, como era conhecido em Évora, a cidade onde nascemos e fomos criados, começou cedo a interessar-se pelo jogo do bilhar. Logo que a estatura lhe permitiu chegar à altura do tampo verde, pegou no taco e ensaiou as primeiras carambolas. Nessa época e até meados do século passado, o bilhar de carambola dominava entre nós. Só depois assistiríamos à invasão e expansão do snooker, importado da América.

Hoje, praticamente, desaparecido, o bilhar que ele e eu, aprendemos a jogar na Sociedade Harmonia Eborense e que, depois, praticámos no Cafés Montanha e no Café Camões, era o das três bolas, uma vermelha e duas brancas, no qual o jogador, com uma tacada numa das bolas brancas, fazia com que esta tocasse nas outras duas, isto é, carambolasse. Com o tempo, este meu irmão, seguindo as pisadas do nosso pai, tornou-se um grande jogador desta modalidade, quase ombreando com o José Silveira e o Matos, verdadeiros campeões na cidade e no país.

Por todos os cafés e sociedades recreativas com sala de bilhar, era comum o “jogo do tacho”, uma variante a dinheiro, em que o Chico Carvalho era exímio ganhador. No centro do tampo verde das mesas de bilhar colocava-se um pires, a fazer de tacho, dentro do qual, no início do jogo, cada participante colocava uma moeda de dez centavos, um tostão, como se dizia. De cada vez que um jogador tocasse com uma das bolas no tacho, tinha de ali colocar outra moeda. O jogo terminava quando concluídas vinte ou mais carambolas, conforme combinado, e ganhava quem primeiro completasse número de carambolas acordado, arrecadando todo o dinheiro ali acumulado no decurso do jogo.

Sempre com pouco dinheiro no bolso – a semanada era curta – foram muitas as vezes que lhe servi de banca, emprestando-lhe as quantias de que necessitava para jogar ao “tacho”, quantitativos que, no próprio dia ou no dia seguinte, me pagava com juros. Como a maioria das crianças, eu tinha, então, um “migalheiro” de barro onde ia metendo todos os tostões que angariava, os das semanadas e os dos mandados que fazia. Com uma faca e com a minha anuência, o Francisco José fazia deslizar pela lâmina, uma a uma, as moedas com que iria jogar. E a combinação era: por cada dez tostões ele restituía-me onze. O negócio foi bom para ambos. Ele ganhava sempre e o meu mealheiro engordava.

Nesse ano de 1939, subia à cena, no Teatro Garcia de Resende, a revista musical em dois actos “Palhas e Moínhas”, cujas coplas, da autoria de Vasconcelos e Sá, versam múltiplos e variados aspectos da cidade de Évora e, sobretudo, da vida nos campos do Alentejo e da personalidade dos alentejanos.

Com 15 anos fez-se ouvir em público, nesta revista, sem microfone e pela primeira vez, a voz bem timbrada e melodiosa e a dicção perfeita do que, anos mais tarde, foi o cantor dos Olhos Castanhos.

A partir de então foram as actuações nas galas do então Liceu André de Gouveia, por ocasião das festividades evocativas do 1º de Dezembro. Ouvidas nas ruas da cidade, foram, ainda, as serenatas, com ou sem luar, às suas pretendidas ou às dos colegas do liceu, as mais das vezes com público a assistir e a aplaudir. Muito antes de ser Francisco José, o Chico Carvalho era uma voz bem conhecida e apreciada no burgo que o viu crescer.

Com um enorme sucesso no Brasil, nunca igualado por algum seu conterrâneo, veio à terra natal em 1963: A áurea, que trazia, levou a RTP a apresentá-lo num programa musical, em directo e em horário nobre. Ele cantou, cantou e, no final, surpreendeu tudo e todos com a denúncia do tratamento mesquinho que era dado aos artistas nacionais, em contraste com as mãos largas oferecidas aos estrangeiros.

Foi um embaraço para os responsáveis pelo canal televisivo nacional e para os governantes de então. Uma multidão de gente do “reviralho” concentrou-se na Praça do Areeiro, para o aplaudir, frente ao restaurante “O Chicote”, onde actuava no fim do serão. Desde essa data deixou de haver programas de televisão em directo, uma prática só restabelecida com o fim da ditadura.

Como consequência desta sua ousadia foi chamado à PIDE. Não o prenderam, mas, como ele dizia, «leram-me a buena dicha». Nunca mais teve oportunidade de actuar na RTP e nunca mais deixou de estar vigiado. Todas as vezes que vinha a Portugal, desde o desembarque até ao momento de subir para o avião, no seu regresso ao Brasil, tinha um pide a seguir-lhe os passos.

Enquanto estudante universitário e antes de enveredar na carreira que o tornou conhecido, concluíra o essencial das cadeiras dos então Preparatórios de Engenharia. Foi já sexagenário que encontrou ritmo de vida que lhe deu condições para voltar à Universidade. Não para ser engenheiro mas, simplesmente, para estudar. Concluiu então a licenciatura em Matemática o que lhe permitiu ensinar Geometria Descritiva, numa Universidade para a terceira idade, a troco de poder frequentar nela aulas de outras disciplinas como História de Arte e Arqueologia.

 

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por Augusta Clara às 17:00

Quarta-feira, 14.12.16

Ler, vender romances e fazer mágicos - Carlos Vale Ferraz

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Carlos Vale Ferraz  Ler, vender romances e fazer mágicos

 

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InComunidade, Ano 4, Edição 51, Dezembro 2016

 

   Como tantos outros escritores sou às vezes convidado para falar dos meus romances em escolas e noutros locais, para almoços, jantares, tertúlias. Falo com professores, leitores, editores, bibliotecários, livreiros, pessoas que gostam de livros, de romances. Muitas vezes com elevadas habilitações, com muito maior experiência do que eu de contacto com jovens e menos jovens. Ganhei de todas as conversas, charlas e encontros um enorme capital que devia ser de esclarecimentos, mas acumulei dúvidas e perplexidades. Nenhuma das causas para os males da leitura de romances que tenho ouvido me parece responder a essas dúvidas. Existe uma questão comum nas explicações: porque não lêem os jovens, porque não se lê em Portugal? Reuni um catálogo com razões para todos os gostos. Acredito na validade de todas elas: a civilização do imediato, que não concede tempo para a leitura, as novas tecnologias, as intermetes, os tabletes, os telemóveis, os headphones, a cultura do indicador e do polegar, do teclado e do ecrã tátil. A preguiça do ver em vez do ler e do pensar, o pronto-a-vestir das ideias e dos conceitos, a facilidade do Google em vez da complexidade do pesquisar, o caminho direto em vez do labirinto. Ler cansa os olhos, pesa no bolso.

Sinceramente, penso que boa parte da responsabilidade pelo afastamento das pessoas ditas normais, jovens e menos jovens, é dos escritores e daqueles que deviam ser os seus agentes, os editores e os promotores dos livros de ficção. Tenho-me aproximado desta conclusão aos poucos, à medida que vou ouvindo as apresentações que fazem de mim e de colegas meus nessas sessões. Um bilhete de identidade um pouco mais desenvolvido: Local e data de nascimento, lista de obras, resumida, e aqui está o senhor que temos muito prazer em receber e a quem agradecemos a presença. É assim numa sala de aulas, num anfiteatro de biblioteca, num estúdio de televisão. Cá está um funcionário que escreve livros, igual a um operário que faz tijolos. Alguém está interessado num tipo que faz tijolos? Numa criatura ensimesmada, sem charme, que não causa “pica”(embirro com “pica”, mas…), que agradece humildemente falar da sua obra?

Os professores de português, de literatura, os críticos, os jornalistas culturais explicam o romance, ou o conto como um engenheiro civil explica o tijolo: através da composição química, da resistência aos elementos, do número de buracos tem, se não for tijolo burro, da utilidade: quantos tijolos são necessários por metro quadrado. Os mestres literários falam dos romances e dos contos do mesmo modo: o tema principal da obra é, por exemplo, a eterna luta do bem contra o mal, dos tempos da narrativa, das personagens principais e secundárias que variam entre o herói e o anti-herói… Cinco minutos depois o escritor está enterrado, assim como a obra. Aquela criatura carrega os males do mundo, reflete sobre o destino da humanidade, trabalha como um escravo, mas audiência já está noutro lado. Depois o escritor fala, nos casos mais comuns leva-se a sério, assume o seu papel de pensador, de herói ignorado da luta pela cultura nacional tão ameaçada, é um agente cultural que ali está. Ninguém compra esta cultura nacional tendo a selecção nacional de futebol no Palácio de Belém, ou sessões pornográficas em contínuo na Televisão da Teresa Guilherme, ou as sessões da tarde do Portugal é nosso, com concertinas e adolescentes gorduchas a dar à perna para a plateia nacional O escritor é um oráculo, mas isso também é uma senhora que vende horóscopos na televisão. Nos casos mais próximos da imortalidade fala do Homem, mas isso fazem os pastores da igreja maná a multidões nos estádios! O Homem onde tudo começa e acaba. Do Homem entendido como ser humano. Quando o escritor fala do Homem e da sua transcendência – e acreditem que este é um tema das sessões de promoção de romances e escritores, já a audiência está a pensar no jantar, nas férias, nos números da lotaria. E depois há o tema dos sentimentos, que são como os fundos dos mares, mais ou menos profundos. No final, o que levará alguém a ler o tijolo que um operário construiu com o que tinha à mão e com tanto esforço? E a comprá-lo?

Não, o culpado pela seca, pela falta de interesse não são as novas tecnologias, nem a cultura do imediato. A culpa é da chatice dos editores, promotores e escritores. A mais moderna estratégia para ultrapassar o interesse pela literatura é fazer de escritor-palhaço. Quem trata do assunto entendeu que, para incentivar a leitura de um romance, o escritor deve rapar o cabelo, colocar brincos nas pálpebras, cantar um fado, fazer o pino, contar anedotas. Há quem siga esse caminho. Não existindo matéria-prima literária, embrulham a redacção que lhes saiu do computador numa outra capa – que quem tem sempre escapa. Pode ser uma sessão espirita ou a apresentação do ou da namorada, do cão, do gato. Até de um prato de bacalhau. É o truque do escritor feira de enchidos, muito vivenciado e experienciado.

Tenho passado por todas estas dúvidas. Os livros electrónicos vendem mal, os escritores electrónicos também. Os dos programas da manhã são abafados pelas capitosas apresentadoras, os da tarde pelos que andam de mal de amores e das cruzes. Resta a pergunta: para onde foram os antigos leitores de romances? Os concertos estão cheios. Tanto os de música clássica como os das modernas expressões de efeitos especiais. Idiotas sobre um palco enchem salas e escritores tão idiotas como eles são votados ao desprezo, a questão não está na qualidade, nem na indigência, nem no que escrevem nas letras a acompanhar as músicas ou nos romances. Os estádios de espectáculos desportivos estão cheios e as livrarias vazias. E não se escreve melhor com os pés do que com as mãos. Em geral, claro. Os romances são difíceis de perceber, também a lenga-lenga do rap!

Onde está então a diferença entre um concerto, um jogo de futebol e um romance? Há a questão do grupo, do sentido de pertença a uma tribo, a um grupo, a um gangue. Os fans de um músico ou cantor, os adeptos de um clube ou de um jogador sentem o prazer da exibição da pertença, a excitação da matilha que vai à caça. Contra essa excitação a leitura de romances nada pode. Mas pode competir noutras áreas. O romance e o escritor têm uma qualidade que os distingue: são criadores de fantasias. São mágicos e têm de ser apresentados como mágicos. Eu gostava – tenho pensado nisso – de ser apresentado assim, ao som do rufar de tambores: Este senhor (Carlos Vale Ferraz, no caso) criou (criou e não escreveu) uma história que ninguém viveu ou viverá! Criou personagens que os leitores podem encontrar na rua, mas que nunca serão as que o respeitável público julga conhecer e terão pensamentos sobre a vida que talvez reconhecem de outros lugares, de outras pessoas. Este senhor já ouviu mortos falarem da sua vida. É verdade, acreditem. Leiam o que ele tem aqui dentro deste livro. E conheceu um tipo numa floresta de África que andou três dias com um amigo às costas até o salvar e o amigo só se manteve vivo para não o desiludir! E descobriu um homem que nunca se apaixonou até ao momento em que… Também criou uma mulher que escondeu o filho até ele enfrentar quem a desprezou e sabem como? Coisas assim. Se os escritores fossem apresentados como mágicos, em vez de homens que dão conselhos, que mergulham nas profundezas do ser… trabalhadores da escrita! Não os escritores não são trabalhadores da escrita, não são sequer trabalhadores. Fogem do trabalho inventando outros mundos! Se os livros fossem apresentados como caixas de segredos de onde saltam histórias maravilhosas, criminosos, amantes, mulheres louva-a-deus julgo que haveria muito mais leitores para os romances e para os contos. Digo eu…

Carlos Vale Ferraz

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por Augusta Clara às 20:30

Segunda-feira, 12.12.16

Um abraço de amor - Adão Cruz

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Adão Cruz  Um abraço de amor 

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(Adão Cruz)  

 

(O MEU AMOR PELA GALIZA)

   Sim, um abraço de amor ou um poema de amor à minha querida Galiza. Até tem nome feminino e tudo.

Há longos anos que abro os meus braços para envolver em largo amplexo a minha amiga Galiza. Com o peito em Tui, o braço direito estende-se ao longo da margem direita do rio Minho, dobrando-se um pouco para tocar Ourense e afagando com a mão, lá em cima, a face de Lugo, a cidade de origem celta e romana que possui a única muralha do mundo intacta no seu perímetro. O braço esquerdo, dobrando-se e desdobrando-se a ocidente ao longo da costa desde A Guarda (La Guardia), para ir por ali acima acarinhar a luminosa Corunha e tocar com a ponta dos dedos o Ferrol.

Embora tenha passado a fronteira umas duas ou três vezes durante o tempo de estudante na Faculdade, o amor à primeira vista só nasceu quando atravessei clandestinamente de Melgaço para Ponte Barxas e daí para Cortegarda, uma vila termal que nos leva até Celanova e Ourense. Estava mobilizado para a guerra colonial da Guiné e, por conseguinte, proibido de sair do país. Foi o pai de uma amiga, funcionário da fronteira, que nos permitiu, a mim e outro amigo, a ida sem documentos até esta última cidade que com o tempo tão bem se foi acomodando no meu coração.

Antes de haver auto-estrada chegava-se a Ourense por diversos caminhos, indo todos desembocar em Celanova. Saindo por Porrinho tínhamos a 12 Km para leste Salvaterra de Minho, município raiano da Galiza mesmo em frente da nossa Monção, do outro lado do rio. Há já muito tempo, antes de haver a ponte, a travessia entre os dois países era feita numa jangada que transportava algumas pessoas e meia dúzia de carros. Lembro-me muito bem da última vez que atravessei o rio dessa forma…pois era um dia muito triste.

Podemos ir ainda hoje por Ponte da Barca e Lindoso e desfrutar a luminosa paisagem de montanha e água que se estende até Bande (um saltinho lateral para nascente a Xinzo de Limia é um encanto), ou atravessar o Gerês saindo pela Portela do Homem (outro saltinho lateral, desta vez para poente, passando por Entrimo e atravessando a serra de Castro Laboreiro é imperdível). De Celanova à cidade das Burgas, as águas termais que aliviam as comichões, é um instante.

Desde há vários anos que tenho em Ourense amigos de verdade, na área das artes e não só. Lembro, apenas como homenagem à sua amizade, a America Soto e família, a Dolores Reverter, o Pepe, o Joaquin Balsa e a Maria, bem como os familiares, o César Prada e a Olívia, a Gely e a Elvira, a Maria de los Angeles e outros. E também os que prematuramente, ainda jovens, deixaram esta vida, como Zapata, o pintor boémio que apelidava a sua barriga de cementerio de marisco, e Pastor Outeiral. Em Ourense realizámos duas ou três exposições de pintura, uma na Caixa Galicia ou Caixanova, não sei precisar, e outra no belo edifício Simeon. Quadros meus ainda resistem nas casas de alguns amigos. Não posso esquecer que em Ourense visitei uma imponente exposição de Jaime Quesada, artisticamente conhecido por Xaime Quessada, grande pintor ourensano que conheci ainda em vida, e que desenvolveu intensa actividade por todo o mundo.

Chegado o meu braço direito até ao Lugo (com a sua acolhedora Plaza Mayor de onde saem ruas pejadas de bares e tapas), e a seguir até Vegadeo e Ribadeo, entraria de imediato nas Astúrias para saborear essa suculenta fabada asturiana em recantos que eu cá sei, mas é da Galiza e não das Astúrias que estamos a falar. Esticando um pouco mais o braço talvez consiga tocar Viveiro, Carinho, Cedeira e Ferrol, essa encantadora terra do noroeste marítimo da Galiza, cheia de História boa e má. Da História má podemos destacar, como exemplo, que ali nasceu Francisco Franco, e ali morreram assassinados centenas de lutadores antifranquistas às mãos dos esquadrões da morte fascistas. Na História boa podemos registar o nome de Ricardo Calero, também de origem ferrolana, professor catedrático dos meados do século XX, reputado filólogo e crítico literário, grande defensor da unidade linguística galego-portuguesa. A propósito, mas já no início deste século, um outro professor universitário também linguista segredou-me um dia que o português é o galego correcto.

Sinto que os dedos da minha mão direita se entrelaçam agora nos dedos da minha mão esquerda que afaga o rosto da Corunha, essa cidade única, cristalina, cheia de luz e de água, a chamada cidade de cristal, com tanto para ver e sentir entre a praia de um lado e o porto de outro, tendo no meio a Praça Maria Pita, o museu do Homem (Casa do Home), o museu de Belas-Artes ou o seu emblemático monumento, a Torre de Hércules, o farol em funcionamento mais antigo do mundo. Sempre me cativou esta linda cidade, e por isso a ela voltei sempre que pude e sempre que ela me chamou. Nunca faltei às várias reuniões médicas que me proporcionou, não podendo esquecer as que mais me entusiasmaram, as conhecidas jornadas internacionais sobre Cardiomiopatias que durante alguns anos tiveram lugar no Palácio de Congressos, trazendo à Corunha os mais afamados investigadores do mundo nesse tipo de patologia. Sabia bem para além do mais, sermos recebidos principescamente com um lauto banquete nas belas salas do Ayuntamiento, na Plaza Mayor, onde saboreei as melhores tapas de sempre. Foi numa dessas alturas, em 1999, que havia aí uma exposição da conhecia pintora Maria Gato, de quem fiquei amigo.

Na Corunha conhecemos a famosa galeria Atlântica fundada por Salvador Corroto Parra recentemente falecido, e todo o seu espólio. Revimos a obra de Rafael Canogar e conhecemos pessoalmente Luis Caruncho com quem um dia jantámos, a seu convite. Falo no plural, porque além de outros andava sempre comigo, como compagnon de route, o grande amigo João Alexandre, pintor e hábil profissional nesta coisa da montagem das exposições. Faziam parte do nosso grupo André Welch, pintor francês de Pau, já falecido, e Hans Zingraff, alemão, que numa dessas vezes expunha na Atlântica. Ambos pertenciam como nós ao movimento MAI (Movimento artístico internacional). Foi também numa dessas idas à Corunha, desta vez sozinho, que ouvi falar pela primeira vez da afamada pintora Maria Antónia Dans, nascida aqui, em Oza dos Rios e na altura já falecida, da qual adquiri um lindo álbum repleto de obras um tanto naif com belas paisagens cheias de cor e nostalgia.

Nesta belíssima cidade fizemos, pelo menos, quatro exposições, a primeira numa galeria de cujo nome não me lembro, a segunda no lindo Hotel Maria Pita que fica junto ao mar e que há bastante tempo mudou de nome, a terceira no Clube Financeiro da Corunha (com o meu grande amigo Jaime Casais, pintor e arquitecto aqui residente), e a quarta, individual, do João Alexandre, também no Clube Financeiro. Com o Jaime voltei a fazer outra exposição no Clube Financeiro de Vigo a que dei o nome de Calles e Ruas da cidade interior. Do texto que fiz para essa exposição deixo aqui uma pequena frase:

A arte é uma procura de expressão da beleza e da poesia, uma pura questão de liberdade no processo racional da formação do Homem dentro da ética da existência…

Mas ao descermos agora pelo meu braço esquerdo para o sul, ainda é muito cedo para chegar a Vigo. Vamos permanecer um pouco em Cee, Corcubion, a dois passos do famoso pôr-do-sol de Finisterra. Não tenho a certeza se foi aqui que Jaime Casais nasceu mas é aqui que ele tem uma das mais belas casas que já vi, a casa dos pais, do início do século XX, e em cujas paredes mais nobres eu tenho a honra de ver pendurados alguns dos meus quadros. Entre Corcubion e Finisterra tem ele uma aprazível e poética casa na praia, salvo erro praia de Langosteira, que oferece de coração aberto aos amigos e onde comi o melhor pescado e as melhores navajas da minha vida.

A seguir vem Muros, um bom pedaço mais abaixo nesta interminável costa. É um dos pueblos marineros mais bonitos e mais bem conservados da Galiza. A sua história começa no século X e a sua riqueza em arte rupestre conta com uma infinidade de calçadas romanas, castros e cruzeiros. Foi Jaime Casais o principal arquitecto responsável pela fiel reconstrução desta antiquíssima vila, que, para além do prazer que nos dá ao percorrermos todas as suas medievais ruas e vielas, possui uma gastronomia inigualável… que uma qualquer noite nos traiu. Era uma noite de fim de ano com tudo fechado, em que eu e uma amiga queríamos comer alguma coisa e arranjar algum sítio onde dormir e nada havia. Apenas um pequeno hotel, também fechado, mas cujos donos, prestes a encerrar, chegaram ao insólito mas encantador absurdo de nos entregarem a chave do hotel, onde pernoitamos como únicos hóspedes e senhores absolutos. Mas a sorte não ficou por aqui. Cheios de fome percorremos as ruas de ponta a ponta na pouco esperançosa tentativa de encontrar algum local aberto. Já desanimados, ao dirigirmo-nos para o hotel de barriga vazia, demos com uma cave aberta e iluminada onde se comemorava a passagem do ano repleta de comes e bebes e também de uma invulgar simpatia e de um franco acolhimento.

Noia fica no caminho, com o seu casco antigo como o de Muros e tantas outras povoações desta costa infindável, repleta de sonho, nostalgia e passado. Noia lembra-me logo o modesto mas muito agradável Hotel do Parque com o seu quarto 115, semicircular, todo ele janelas que nos permitem uma vista global sobre a ria banhada de sol e luar. O quarto não é um quarto mas dois, separados mas comunicantes. Aí pernoitei algumas vezes, uma delas com o meu filho mais novo, a minha nora e o meu primeiro netinho.

Já que estamos a 23 Km de Santiago de Compostela vamos sair por instantes da costa e dar uma olhada a esta vetusta cidade tão acolhedora. Não vou falar daquilo que é bom em Santiago pois não deve haver quem não conheça. Ao contrário de muita gente peregrina, não é propriamente a catedral e o santo que me interessam e atraem. Nem o museu de arte contemporânea de Siza Vieira mais do que visitado. Nem de todas as vezes me absorve a memória da grande Senhora da poesia galega, Rosalía de Castro, de quem dizem ser a fundadora da literatura galega moderna, aqui nascida, em Caminho Novo, em 1837.

Dicen que no hablan las plantas, ni las fuentes, ni los pájaros,
Ni el onda con sus rumores, ni con su brillo los astros,
Lo dicen, pero no es cierto, pues siempre cuando yo paso,
De mí murmuran y exclaman:
Ahí va la loca soñando
Con la eterna primavera de la vida y de los campos…

Como pecador e humilde poeta, ao entrar em Santiago logo me cresce água na boca ao ver por trás dos vidros embaciados dos bares que se estendem ao longo das ruas estreitas, as travessas de pulpo e percebas. Mas, perdoado o pecado da gula, posso dizer que são as reuniões médicas dos tempos passados, na prestigiada faculdade de Medicina, que mais me avivam a memória. Retenho com alguma saudade aquela importante jornada que constituiu a celebração dos 25 anos da primeira circulação extracorporal.

De Noia a Vigo, esta filigrânica e rendilhada costa não pode ser descrita em pormenor num simples texto, apesar de eu a conhecer quase a palmo, pois só poderá caber em volumoso livro. Mas um livro que apenas contivesse magia, sonho, música e poesia. Porto do Son, Vilagarcia de Arousa, Isla de Arousa, Cambados, O Grove, A Toxa (La Toja), Sanxenxo…alto lá, já não posso com tantos poemas e tantas mariscadas.

Um saltinho ao casco velho de Pontevedra para tomar nem que seja um café solo. Ao entrar, também não são as sinistras procissões da Semana Santa, serpenteando pelas ruelas, que me vêm à cabeça, nem o jamon ibérico e a macia espuma das cañas douradas, nem a “minha” livraria há muito fechada, mas a magnífica exposição que há uns largos anos tive a sorte de ali encontrar: Uma mostra das obras de Tino Grandío, o grande pintor dos cinzentos, natural de Lugo, que a morte agarrou demasiado jovem, sem conseguir impedir que os seus quadros se espalhassem pelo mundo. Dele disse um dia Camilo José Cela:
Tino Grandío era grande e solemne, aparatoso, disparatado, sólido e vitalista, quizá por eso murió casi joven…

O meu abraço, já que aqui estamos, vai mais alguns quilómetros para o interior, nos arredores de Pontevedra, mais propriamente Tenorio, ao encontro de Marise e Celestino, donos da estalagem O Casal, que nunca deixaram de estar presentes em Portugal nas minhas exposições e nas apresentações dos meus livros.

De Pontevedra a Vigo pela auto-estrada é uma questão de minutos. Mas não podemos deixar de saborear este restinho de costa que demora muito mais, Marin, Bueu e Cangas, indo desembocar na mesma auto-estrada e atravessar para Vigo pela elegante Ponte de Rande que nos libertou da enorme volta para contornar a ria, como se fazia antigamente. Mas os braços já começam a doer. Paremos em Vigo, no antigo e lindíssimo café-restaurante Luces de Bohemia onde o António me recebe sempre de forma calorosa. Entrei pela primeira vez neste deslumbrante espaço há mais de vinte e cinco anos. Mas ao contrário do que pensava ele ainda não existia quando eu e alguns familiares nos deslocávamos a Vigo para comprar películas para o meu primitivo ecocardiógrafo - o primeiro ecocardiógrafo bidimensional a entrar em Portugal -, que não existiam no nosso país e que as senhoras escondiam debaixo dos vestidos ao passar a fronteira. Aqui em Vigo, como disse atrás, realizámos, eu e o Jaime, uma exposição no Clube Financeiro. Também aqui, ou melhor, em Vigo e Redondela, pude estar presente em duas belas exposições, não sei se as últimas, do grande artista e amigo Pastor Outeiral, de Ourense. Já doente, teve a gentileza e a coragem de se deslocar um dia a Santa Maria da Feira para colaborar na apresentação de um livro meu, no Europarque. São outras memórias a Casa del Libro onde passei muitas tardes, bem como El Rincon de los Artistas, bar com música e dança e a edição da sua própria revista, na mesma rua em que há uma rotunda com a escultura de Rosalía de Castro no centro. Hoje cerrado, infelizmente.

Não é sem saudade que se deixa a brilhante marginal de Vigo até à praia de Canido, por onde se chega a Nigran no caminho para a esbelta Bayona. Primoroso casamento entre o homem e a natureza, é de todos conhecida, mais pela marina e o parador e menos pela parte velha, interior, cheia de bares, onde se realizam genuínas festas medievais. Mais uma vez a longa e nostálgica costa se estende à nossa frente, não tão sinuosa como a norte, até A Guarda, acolhedora vila piscatória e capital dos mariscos e da sua rainha a lagosta. A 10 Km a ponte para Vila Nova de Cerveira que nos libertou do antigo Ferryboat. Mas não entremos já em Portugal. Façamos marcha atrás e recuemos um pouco até ao sopé do monte de Santa Tecla. Se subirmos lá acima, os nossos olhos encontrarão pela frente uma das mais belas paisagens do mundo, não tenho dúvidas. Mas é tarde e o poema já vai longo. Ficaremos aqui na base, em Camposancos, e vamos dar um saltinho ao Hotel Molino, mesmo junto à foz do rio frente a Caminha e Moledo. Propriedade dos amigos Carlos e Margarida, praticamente família da amiga America Soto, de Ourense, oferece uma tão solitária calma e sossego que nos incute a sensação de termos chegado ao fim da terra. Na paz da sua esplanada, junto à praia, podemos saborear a frescura de uma caña, mirando do outro lado do rio a suavíssima costa portuguesa a perder-se no horizonte. Em noite de estrelas e luar talvez ouçamos da boca da Margarida histórias antigas da região, muito especialmente o relato dos horrores da guerra civil, lembrando a casa das torres, um pouco mais acima, onde se refugiavam os seus familiares e muitos outros antifranquistas.

E pronto. Por aqui deixo espalhados alguns dos últimos versos deste magnífico poema que é a Galiza, pois já não serão muitos os abraços que hei-de dar-lhe.

Adão Cruz

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por Augusta Clara às 17:15

Sexta-feira, 09.12.16

Mon amour - Bïa

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Bïa  Mon amour

 

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por Augusta Clara às 19:00

Quarta-feira, 07.12.16

Meu amor, meu amor - Amália Rodrigues

a noite fez-se para amar 1a.jpg

 

Amália Rodrigues  Meu amor, meu amor 

(assinalando o dia do nascimento de José Carlos Ary dos Santos)

 

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por Augusta Clara às 18:00

Terça-feira, 06.12.16

A VOZ AO LONGE - Exposição de pintura de Adão Cruz, Museu de Ovar, Setembro de 2016

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   Vídeo da exposição de pintura de Adão Cruz "A Voz ao Longe", no Museu de Ovar, realizado e gentilmente oferecido pelo amigo Dr. Jorge Bacelar. Honrosa oferta, dado que o Dr. Jorge Bacelar é um fotógrafo de renome internacional e prémio mundial da UNESCO.

 

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por Augusta Clara às 17:00

Domingo, 04.12.16

Un recuerdo... - Luís Sepúlveda

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Luís Sepúlveda  Un recuerdo...

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   Hace más de veinte años que Daniel Mordzinski hizo click con su Leica y atrapó esta imagen. Nos costó mucho dar con esta cabaña en un rincón de la Patagonia, hicimos cientos y cientos de kilómetros en auto o caminando hasta que, gracias a la información de una protagonista de la historia patagona, pudimos llegar al lugar preciso.

La cabaña fue construída por Butch Cassidy, Sundance Kid y Etta Place, fugitivos de los caza recompensas norteamericanos y criollos.

La cabaña, en 1996 estaba habitada por un grupo familiar numeroso, don Aladino Sepúlveda y una caterva de hijos, hijas, yernos, nueras , nietos y nietas. Al aproximarnos, bastante emocionados por el hallazgo, abrió la puerta el viejo don Aladino y salió a nuestro encuentro. Fiel a las buenas costumbres gauchas estiró la mano derecha y dijo " Sepúlveda, mucho gusto". Daniel, mi socio de aventuras, me pegó un codazo y murmuró " no lo puedo creer, te conoce", y me apresuré a decirle que no, que presentarse con el apellido es la más antigua de las costumbres conservada por los gauchos del sur del mundo.
Tomamos unos mates con él. Su padre había conocido a "los bandidos", y nos pareció muy justo que la cabaña fuera el hogar del nonagenario don Aladino y su familia tejedora de sueños humildes.

En esa cabaña se pensaron y fraguaron varios asaltos a bancos, gran parte del botín conseguido se empleó para financiar revueltas de obreros laneros y revoluciones anarquistas aplastadas a sangre y fuego, pero que viven en el viento eterno de la Patagonia. 

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por Augusta Clara às 17:30

Sexta-feira, 02.12.16

A respeito de Fidel, ... - Marcos Cruz

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Marcos Cruz  A respeito de Fidel, ...

 

marcos cruz.jpg

 

   A respeito de Fidel, a palavra ditador tem sido a porta que a direita fecha na cara da discussão. Digo a direita não porque lhe assista em exclusivo a condenação do líder cubano, mas quando esta se apresenta sumária e indisponível para revogações (ehehe) não é difícil descortinar-lhe a proveniência. Um dos maiores apologistas nacionais da superficialidade, coincidentemente ou não, vai-se transformando também numa das mais populares caixas de ressonância da direita. Chama-se João Miguel Tavares e hoje, para o bem ou para o mal, dispensa apresentações. Sobre Fidel, cingiu o seu discurso a uma demanda: ensinar-nos a soletrar a palavra ditador.

Gostaria eu, sem estar preso a ideias pré-concebidas, de discutir aspectos que pudessem enquadrar a circunstância de Cuba continuar a ser uma ditadura, mas para ele, João Miguel Tavares, isso equivaleria a um sacrilégio, na medida em que pressuporia a admissão de uma hipótese hedionda: a de que nem a ilegitimidade de uma ditadura deva ser tomada como absoluta.

Circunscrita, portanto, a discussão ponderável ao sim ou não, porque só há quem possa repudiar de cima a baixo qualquer ditadura ou apoiá-la incondicionalmente, aguça-se-me a curiosidade sobre o que terá ele ensinado aos filhos sobre o Robin dos Bosques, esse ladrão que emagrecia o bolso dos ricos para engordar o dos pobres. Por mais que o nosso democrático país faça propagar de geração em geração o ditado “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”, a lógica inflexível de João Miguel Tavares não lhe permitirá esquecer que “um ladrão é um ladrão é um ladrão”, tanto quanto “um ditador é um ditador é um ditador”. Coitados dos miúdos, cerceados tão cedo das maravilhas da relatividade. E logo por um liberal.

Ora, diz-me o bom senso que um pequeno país em contra-corrente com um mundo apostado na ofuscação dos valores pelos preços talvez precisasse de tomar algumas providências para resistir – e sabemos como esta é a palavra-chave quando se fala de Cuba. Tudo o que ali se conseguiu em matéria de saúde, educação, emprego, combate à desigualdade social ou erradicação da fome, apesar dos condicionalismos económicos radicalizados por um bloqueio com mais de meio século e da sujeição permanente a um belicismo mediático que encheu o planeta de baba raivosa contra o regime, merece da minha parte, pelo menos, um olhar curioso, capaz de suplantar a rigidez da moldura para melhor apreciar o quadro. Mais ainda quando, à volta, as tão benfazejas democracias que construímos deram no que se sabe, com outras molduras, outros muros, no horizonte.

Não se infira daqui, como já estou a prever que muita gente faça, qualquer simpatia minha pela ideia de ditadura. Agora, não devemos deixar que os rótulos nos toldem o discernimento, nem a capacidade de enquadrar os factos com as circunstâncias. E em Cuba, apesar das circunstâncias, há factos que falam por si. Alguns até poeticamente, como o de os polícias andarem sem armas. Enquanto isso, ali perto, na democracia de todos os sonhos e liberdades, há mais civis com arma do que carro... 

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por Augusta Clara às 08:00

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