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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Adão Cruz
Adão Cruz Monte das oliveiras
(Adão Cruz)
Não sei o que entra em mim no cálido fim desta tarde alentejana, não sei ao certo o que me diz o silêncio aberto destes campos sem fim, nem sei se procuro o lugar seguro para abrir o pensamento.
Há qualquer coisa para lá do horizonte entre a angústia e a Esperança, estranha esperança de futuro no silêncio aberto destes campos sem fim, qualquer coisa que arde no cair da tarde entre a magia da vida e a dor contida no monte das oliveiras.
Para lá do horizonte, no fim de La Codozera, não havia ninguém à minha espera no cálido fim desta tarde alentejana.
Nesta tarde alentejana, feita de silêncio aberto e de campos sem fim, parei o carro na berma da estrada que vinha do nada de onde parti à procura da cidade com todas as ruas que há dentro de mim.
Há anos que não me adormecia um sono tão profundo nem o sol trigueiro me dourava a figura, num quase azul, pintando de ternura esse sonho perdido no fim do mundo.
Augusta Clara de Matos Empresas de celulose, os grandes vampiros do país
(fotografia de Paulo Cunha/Lusa)
Na actual fase de desenvolvimento da ciência e da tecnologia, das várias tecnologias, as grandes empresas podem e deviam investir uma parte substancial dos lucros em investigação e equipamento de forma a que os detritos e efluentes resultantes da sua produção, como neste caso os que estão a envenenar o rio Tejo, fossem tratados em instalações suas criadas para o efeito sem deixarem todo esse trabalho para as ETARs. Mas não querem. Preferem distribuir os lucros anuais aos seus accionistas e gestores mesmo que o aumento da riqueza pessoal dessa frota resulte nas maiores tragédias a que temos assistido: os incêndios grandemente potenciados pela cultura desenfreada de eucaliptos e o envenenamento dos rios como está a acontecer neste momento com o Tejo pelo despejo dos efluentes atribuído pela população local à CELTEC, uma das grandes empresas de celulose deste país.
O Governo propõe medidas atenuantes da catástrofe exigindo a redução da laboração e das descargas de uma das empresas, a CELTEJO, enquanto se fala também numa tal medida de Valores Limite de Emissão de efluentes que flutua ao sabor de quem está no poder.
E nós, este povo de brandos costumes vai-se conformando ao “antes assim que pior” sem perceber que este não é só um problema de regime mas um problema de sistema, o capitalista a que, agora, se dá o nome de Mercado. A Democracia pouco tem ligado ao ambiente, esta democracia capitalista que tem um olho no burro e outro no cigano, até já vai aos fóruns dos mais ricos do planeta não se percebe defender o quê. O Ambiente só como fantasia que não é coisa que interesse aos ricos defender. O aumento das suas monumentais fortunas – um pequeno grupo de pessoas possui 80% da riqueza mundial – alimenta-se da destruição dos bens naturais: os rios, as florestas em conjunto com o desaparecimento de grande parte da fauna e da flora que neles tem o seu habitat.
Portanto, quando me dizem que o Governo teve coragem de … eu pergunto: coragem de fazer quê? Reduzir a laboração a metade, segundo a óptica das empresas, só irá prejudicar os trabalhadores, vamos ver se não vai, e não resolve de modo nenhum a despoluição do rio.
É que, de facto, isto não é um problema deste Governo nem tão pouco dos anteriores. Nem só do nosso país. É uma ratoeira em que caímos todos os que defendemos a Democracia. Defendemos, e continuamos a defender, um regime que, ao contrário dos estados totalitários, nos garanta a igualdade de direitos e dignidade de vida para todos, a liberdade de expressão e opinião e de todos os outros direitos fundamentais dos seres humanos. Mas sem a manutenção da vida saudável desta Terra que habitamos nada disso vale a pena porque se está a contribuir para a sua destruição, embora eu acredite que mais para a nossa, a da espécie humana. A Natureza, sem nós, regenerar-se-á.
Os rios são para os peixes e para os seus restantes habitantes animais e vegetais. E também para os humanos gozarem das suas águas, em trabalho ou em lazer. Mas não para os bandidos da finança lhes escarrarem e evacuarem as feses do seu dinheiro a mais.
Nas histórias costumam combater-se os vampiros mostrando-lhes uma cruz. Os bentinhos que vão à missa talvez pudessem dar uma ajudinha na limpeza do Tejo.
Adão Cruz Impossibilidade
(Adão Cruz)
Persegue-me a impossibilidade de lá chegar…
Como se fora um belo dia de primavera nos olhos de um prisioneiro atrás das grades.
Faltam-me as pernas, o tempo, as palavras e o caminho.
Falta-me a força das coisas simples e o gesto subtil da liberdade.
Cada dia é um mundo oferecendo-me todos os frutos que não sei colher, cada cidade um labirinto por onde não sei andar.
A minha fragilidade é metade de um sonho inacabado, a outra metade é este quadro que pinto numa manhã de sol da minha doce loucura.
…
Tremem-me as pernas a caminho de Belvedere onde me espera Egon Schiele, num salão enorme tendo ao fundo uma mulher.
Júlio Pomar faz hoje 92 anos
Adão Cruz A caverna escura do poeta
(Adão Cruz)
Quando entras na escura caverna de um poeta
Fugindo à rima e à métrica do tempo
O tempo…
Ai o tempo se o não fosse
Tudo haveria de ser poema.
Tudo parece idiota nesta caverna sem luz
Tudo parece metáfora de versos impotentes
O tempo…
Ai o tempo se o não fosse
Nem razão havia para versos decadentes.
Assim mo diz a luz contida dos teus olhos
E o calor dos lábios que o tempo arrefeceu
O tempo…
Só o tempo se o não fosse
Seria a vida de tudo o que morreu.
Na procura dos restos de um poema
Já não importa a noite escura e inquieta
O tempo…
Só o tempo se o não fosse
Daria luz à caverna de um poeta.
Adão Cruz Quando vens ao meu encontro
(Adão Cruz)
Quando vens ao meu encontro para lá da ponte que leva aos restos das paredes onde vivo, quando trazes contigo um resto de lume daquela tarde incendiada da nossa ilusão, fico preso aos ponteiros de um relógio em desacerto, nas horas amargas da solidão.
Ainda há nos teus olhos pequenas estrelas de magia que levam os meus para lá do tempo, de onde regressam cegos como os teus lábios secos.
Não há palavras para me sentir perto do teu rosto, nem são oásis as falésias ou as fendas do deserto, nem são de acerto as horas do sol-posto.
O poema de outrora desnuda-se a si mesmo, dentro dos restos das paredes onde vivo.
Mesmo assim, quando trazes contigo a cinza daquela tarde incendiada, fico a pensar se foi ontem o amanhã… ou se ainda há horas de verdade nas entrelinhas da secura.
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Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...