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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Adão Cruz
Adão Cruz
Ferreira Fernandes A indecente manipulação das imagens
Diário de Notícias, 27 de Abril de 2018
É como as anedotas. Vocês sabem, é possível brincarmos com tudo, mas não com todos - até se pode contar piadas sobre campos de concentração... mas não se há um nazi por perto. Emmanuel Macron deve ter pensado que podia ter todo o tipo de gestos. Mas aprendeu nesta semana que deveria abster-se de ter gestos íntimos com Donald Trump.
Macron é capaz de posar tão bem de firme como de encantador. O presidente francês tem a boa figura e as convicções que o fazem ficar bem, com qualquer das variáveis, uma ou outra. Dizem alguns analistas que uma das razões de ter chegado ao Eliseu foi por, entre as duas voltas das presidenciais, ter ousado defrontar grevistas coléricos. Cercado entre operários da Whirlpool que protestavam por a sua empresa ser deslocalizada para a Polónia, Macron disse a um: "Não me trate por tu, porque não lhe faço o mesmo." Até lá era o menino dos gabinetes alcatifados do banco Rothschild, mas com essa imagem, essa voz e esse tom à porta da fábrica ocupada e transmitidos pela televisão, sob o escrutínio dos franceses que ainda andavam a tentar saber quem era aquele jovem ovni da política, ele foi catalogado como duro. Quanto a ser gentil, sempre bastou o seu ar de galã frágil - como um herói de filme de François Truffaut, um Antoine Doinel reconvertido na política.
No seu primeiro encontro, em maio do ano passado, com o também recente presidente americano, Macron ganhou por KO. Agarrou no ponto fraco de Trump - as mãozinhas pequenas que até tinham sido assunto da campanha americana. Na Casa Branca, sentados em cadeirões, em frente às câmaras, quando o americano lhe estendeu o bacalhau fugidio do costume, o francês firmou a mão e levou o outro a um esgar de desconforto que não escapou ao mundo. Foi só uma derrota que o presidente do país da imagem pública e dos dentes perfeitos não esqueceu. Até poder resgatar-se, nesta semana.
Aconteceu na visita de Emmanuel Macron à América. Ele trazia um discurso fisgado e esse era - já lá vamos aos pormenores - o de cimentar a sua liderança na Europa, agora que a sua parceira e aliada já não é a poderosa que Angela Merkel foi. Recebeu-o Donald Trump, homem de televisão e americano dos efeitos especiais. Uma coisa foi o francês tê-lo apanhado desprevenido, há um ano, outra seria deixar que o desconchavo se repetisse. Quem teve quem lhe organizasse as eleições, investindo cirurgicamente nos condados onde os dados fornecidos pelo Facebook diziam que se devia inundar com anúncios eleitorais eficazes, pôde apostar desta vez num personal trainer que lhe indicou onde amesquinhar o francezinho. Se a discursar bem Trump ainda não aprendeu, a gestualizar ele mostrou ser bom e rápido aluno.
Então, as conversações de 23 e 25 de abril, durante a visita de Macron a Washington, saldaram-se por um Waterloo gestual. O pequeno Napoleão foi derrotado por um improvável duque de Wellington de melena alourada. Trump caprichou e insistiu no capricho. E Macron convencido de que tinha arrumado o outro de vez com o aperto firme de mão, no ano passado, aprendeu que há gestos que não se podem ter com Trump. Sobretudo quando este já não está desprevenido.
Seguem-se três cenas, todas elas daquelas que levam direito a Santa Helena. Na Casa Branca, com as mãos descaídas e cruzadas frente ao casaco, com o sorriso que já não podia ser de vencedor, Macron deixou que Trump lhe limpasse uma hipotética caspa da lapela e, pior, deixou que o sorriso permanecesse beato. Entre eles, um quadro de George Washington, o mesmo do pai fundador que aparece nas notas de dólar, prevenia. Reparem, Washington nunca mostra os dentes porque os tinha em madeira, os odontologistas ainda não tinham sido inventados no seu tempo, mas o ar austero que aparece naquela foto também era para avisar o amigo francês, do grupo dos presidentes decentes, contra o seu sucessor. Este, grosseiro, sabendo o outro fragilizado, lançou aos jornalistas: "Ele deve ficar perfeito", e sacudiu um pouco mais a lapela do convidado...
Com ambos de pé, Trump deixa o seu microfone, aproxima-se de Macron, cruza com ele as mãos direitas, inclina-se e encosta a sua à cabeça dele. Fotos, filmes. A diferença de alturas sublinha o poder do americano. Finalmente, a imagem mais cruel, à saída da Casa Branca, Trump, apesar de dono da casa, está um bom passo à frente do hóspede. Deixa a mão esquerda para trás, que Macron imprudentemente agarra. E vai arrastado. Em filme, parece a debandada final dos franceses em Waterloo, sem um Cambronne que ponha cobro ao insulto; em foto, é um garoto que o pai leva à escola... As imagens são todas desastrosas para o presidente francês, sobretudo porque a contracorrente do que antes ele demonstrara. O ar glorioso de Trump não escondia, nem fingia que tentava esconder, que a vingança estava consumada.
No dia seguinte, Emmanuel Macron foi ao Congresso. Falar. A imagem, essa, tinha sido lamentavelmente destroçada antes. Sem ela, pior, com ela nas ruas da amargura, restavam-lhe as palavras. Num editorial, o jornal Le Monde fez o rol do que o presidente francês defendeu, em contraponto da nova política americana. A alternativa dos valores europeus, ao mundo fraturado que Trump quer; o comércio aberto contra o protecionismo; os valores progressistas contra o fascínio do poder forte; os acordos de Paris sobre o clima contra a recusa deles. A voz de Macron foi clara e forte. Mas já uma e outra e outra imagem de Macron faziam este valer menos do que mil palavras.
Augusta Clara de Matos A nossa liberdade e a dos outros
No dia em que celebramos a nossa libertação do regime fascista de Salazar e Caetano não consigo alhear-me da malvadez e da cobardia que assola outros povos e outros homens justos tratados, neste momento, como criminosos de alta perigosidade enquanto os verdadeiros crápulas gozam de liberdade vestindo a pele de carrascos.
O caso de Lula da Silva é paradigmático e torna-se desnecessário explicar o que já foi repetidamente explicado por conceituados advogados e outras personalidades do próprio Brasil e de todo o mundo. Não cessa a actuação fascista dos juízes, um que o condenou sem provas, o bandalho Moro, outra a juíza que tem proibido, contra a Constituição brasileira e contra todas as leis em vigor, as visitas a Lula até de advogados seus e de uma comissão do poder legislativo a quem é proibido impedir a fiscalização das condições em que um preso se encontra.
Em Espanha, onde os franquistas no poder já investem contra tudo o que mexe, até contra o amarelo das camisolas dos catalães, chega-nos hoje a notícia de que Cristina Fuentes, a presidente da região autónoma de Madrid, se viu obrigada a demitir-se pela revelação de um vídeo de 2011 a roubar cosméticos num supermercado, depois de já ter sido alvo de acusações sobre a obtenção fraudulenta de um mestrado. Assim marcha a política de Rajoy e do seu bando pró-franquista a favor da unidade do reino de Filipe VI.
Mas o que mais me revirou o âmago foram as notícias sobre a Síria.
Seguindo o padrão das descaradas guerras-negócio dos últimos tempos em que primeiro entra em cena o cartel das armas com todos os milhares de vítimas necessários ao lucro, segue-se o cartel da reconstrução. E, então, ouvi eu, a Síria “já” conta com donativos de quatro (4) milhões de dólares para se reerguer das cinzas. Também há Jonets das guerras.
Com toda a tristeza, raiva e revolta que me assalta, a única boa sensação é a de que a Síria resistiu à usurpação dos casposos do Ocidente.
Os povos sempre resistem à tirania, sempre. Na Síria, como na Catalunha, no Brasil e em Portugal.
25 de Abril. O mais belo poema colectivo da minha existência, apesar da total ausência de sentimento poético-social de tanta gente! Ainda hoje, ao olhar para as suas caras, muitas delas de grandes amigos meus, e que nunca deixaram de o ser, eu vejo uma lapela nua, não propriamente a do casaco, mas a da mente. E não me venham com os óculos escuros das tolerâncias e diferenças de ideias. Eu sei o que são tolerâncias e diferenças de ideias. Mas a poesia do 25 de Abril é tão universal e profunda que não há óculos que a possam emsombrar.
Adão Cruz 25 de Abril
Augusta Clara de Matos Tão cosmopolitas que eles são
Porque é que as cidades não podem ter bairros antigos com gente lá dentro?
Como é que uma vereação socialista cede à explosão da especulação imobiliária que está aí outra vez sem ter nada a ver com isso? Só pelo turismo? Não acredito.
As cidades têm de preservar a sua história e essa opção, por si só, potencia o turismo, regula-o e educa-o não permitindo que, a pretexto da entrada de divisas, hordas invadam desenfreadamente as ruelas e os bairros mais antigos cuja população, na sua maioria, envelhecida e pobre merece viver em paz os anos tardios das suas vidas.
Eu sei que os cosmopolitas de pacotilha que por aí abundam consideram quem tem esta opinião um careta que “não tem mundo”, não está aberto ao futuro, etc., etc. etc. Mas cosmopolitismo, na minha opinião, exige inteligência e gosto estético.
Ninguém nega que as cidades têm de evoluir, como tudo na vida e Lisboa já tem uma cidade nova na zona oriental. É pena que seja mais um amontoado de arranha-céus, muitos só ao alcance de detentores de vistos gold, e não se tenha aproveitado para praticar uma arquitectura arrojada mas bela como Óscar Niemeyer fez com Brasília,
Voltando aos bairros antigos do centro: para que serve uma autarquia que, em vez de recuperar as casas, interior e exteriormente, deixando em paz os seus habitantes, tratar dos pavimentos das ruas e preservar as características desses bairros também protegendo o seu património comercial e cultural – em Lisboa, têm desaparecido muitas lojas de qualidade, os cafés, os cinemas, as livrarias - aceita com toda a desfaçatez que “vem aí uma epidemia de despejos” como se fatalmente não tivesse nenhum poder na cidade?
Tenho ouvido dizer a alguns arquitectos que a sua arte tem muito a ver com o bem-estar das pessoas. Pois, por aqui, tudo se está a passar ao contrário.
Amigos cosmopolitas, olhem lá para isto com olhos de ver, sem preconceitos de “p’ra frentex”.
César Príncipe Les animaux de la Macronésie
Um tal Emmanuel Macron, o pauvre diable que se senta com ar de monarca no Eliseu, declarou ao Mundo e a Marte que tem provas do emprego de armas químicas pelo regime sírio. O garçon de bureau Rothschild dispõe de fontes autorizadas: os Capacetes Brancos, bandidos angélicos e evangélicos, que actuam como encenadores e delegados de propaganda médica no terreno dos terroristas; o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede natural em Londres, donde jorram informações diárias para o planeta e – claro – possui os seus serviços de intelligence à la carte, aptos a fabricar evidências à medida de Colin Powell e em tempo oportuno. Macron finge que acredita em si mesmo e inventou a Macronésie, a fim de assegurar um lugar que se veja e uma voz que se ouça à superfície do globo. O pauvre, abarrotado de problemas sociais em casa, oferece-se ao rambo Trump para ir à caça ao leão pelas estradas e sobretudo pelos céus de Damasco. E Theresa May, a inventora do fármaco Skripal, disponibilizou-se como enfermeira de drones.
É esta a parelha que tenta pregar um susto à Rússia: a ex-Grande França e a ex-Grã-Bretanha. A França, com o pigmeu de tacão alto Sarkozy, foi até à Líbia assassinar o financiador; a Inglaterra, com a dama de ferro Thatcher, foi até às Malvinas e obteve meia vitória militar. E não poderão ir muito mais além. Em termos de definição global de forças, a França e a Inglaterra esgotaram o potencial hegemónico no séc. XIX. Mas parece não haver maneira de se capacitarem da sua condição: não passam de duas fantasias pós-imperiais. Chegaram ao séc. XXI com um superego que não corresponde às circunstâncias. Não são as exibições de circo mediático que repõem a paridade geo-estratégica. Por isso, tementes de uma dura ensinadela (quem vai à guerra, dá e leva) prontificam-se a servir os USA e deita-fora. Pouco ou nada arriscam sozinhos. Não vá o diable tecê-las.
A guerra, em 2018, não se ganha com fanfarronadas do roy-soleil de la Macronésie nem bestialidades do hooligan Boris Foreign Office. Ou será que ninguém os detém até que os seus países se evaporem num sopro? Poupem o Musée du Louvre e oNational Theatre, meus senhores! Segundo os experts do royal power, em caso de conflito nuclear, mesmo selectivo, estas duas ufanas e medianas nações gozam de dez minutos para se benzerem e encomendarem a alma a Joana d'Arc e a São Jorge. Compete aos franceses e aos ingleses com mens sana exigir, com carácter de urgência, o desterro do casal Macron-May. Merkel afastou-se da armada do bidão de cloro . Um ex-presidente, Hollande, acaba de lembrar ao sucessor que os franceses costumam decapitar os monarcas. O próprio Pentágono reconhece que não tem provas credíveis da pulverização. Anda no seu encalço. Só conhece o caso do animal Assad pela Imprensa e pelas ditas redes sociais. Mas Macron está na posse da verdade revelada. Mas May convoca o Conselho de Guerra. Mas multiplicam-se os avisos, os agoiros, as reticências. Se os USA acabarem por dispensar os guerreiros franco-britânicos, será que estes avançarão de peito feito às balas, aos mísseis, aos gases, à hecatombe, à capitulação?
De qualquer modo, devido ao perigo que representam para a humanidade, embarquemos Macron para os cascalhos da Córsega e May para os rochedos de Gibraltar. Estão carecidos de descanso e algum estudo. Um dos manuais poderá ser de etiqueta. Por exemplo, Como Deverá Comportar-se uma Fera sem Garras ante um Predador de Grande Porte. La Fontaine, se fosse nosso contemporâneo, editaria uma fábula à propos: Les Animaux de la Macronésie.
Nota, 13/Abr/18/10h10: O facto do texto ter sido redigido na véspera dos bombardeamentos da Síria, não invalida nem uma letra da denúncia e do alcance da fábula Les Animaux de la Macronésie. Primeiro: as forças franco-britânicas não passam de chiens de guerre dos USA. Segundo: a operação de terrorismo aéreo do triunvirato não se aventurou ao ponto de uma contra-resposta da Rússia. Terceiro: a tríade não esperou pela chegada a Duma dos especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas/OPAQ, que conta com o sufrágio de 190 países (incluindo os atacantes), e estava prevista para o dia 14 do corrente. Os amigos da verdade adiantaram-se às conclusões. Já assim foi no Iraque: mandaram retirar do terreno os inspectores que procuravam e não encontravam as armas de destruição maciça que existiam nas irrefutáveis provas de Bush, Blair, Aznar e Barroso e nas ilustres cabecinhas do império mediático.
Emiliano Cavalcanti
(Samba)
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Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...