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Jardim das Delícias



Segunda-feira, 28.05.18

Adão Cruz, 2018

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Adão Cruz

 

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por Augusta Clara às 13:12

Quarta-feira, 23.05.18

Palavras e poesia - Adão Cruz

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Adão Cruz  Palavras e poesia

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(Adão Cruz)

 

Madrugada sempre mortal

Regresso obscuro de além dos sonhos

Jogo imaginário de sabor amargo

Sempre que os pés pousam na terra.

 

Procuro as palavras que são chaves de si mesmas

E com elas tento abrir o pensamento

No silêncio que as transforma em poesia.

 

Tudo em vão!

 

Por elas vivi e me transformei a vida inteira

Em rosas de orvalho e cheiro a alecrim

Por elas rasguei as trevas

E aliviei a dor que há dentro de mim.

 

Mas a poesia é mentirosa irrealista

E o bálsamo que suaviza o sofrimento

Não passa de vãs palavras e cacofonias

Ilusões a pagar no fim da vida

Com um rosário de angústias e agonias.

 

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por Augusta Clara às 18:19

Sábado, 19.05.18

João Salaviza ganha o Prémio Especial do Júri ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes 2018

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‘Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos’, de João Salaviza e Renée Nader Massaro

 

 

 

 

ENTREVISTA FESTIVAL DE CANNES 2018

“Sabíamos que tínhamos de fazer um filme com a paciência do mundo”
Era uma vez o cinema… inventado junto dos krahô, povo indígena do Brasil. João Salaviza e Renée Nader Messora foram à procura de algo que só podia nascer sobre os restos de uma maneira de produzir e de filmar de que Montanha, que ele realizou e em que ela foi assistente, foi para eles o estertor. Fugiram. Encontraram.
Vasco Câmara
VASCO CÂMARA 16 de Maio de 2018, 7:40

Talvez se entre para Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos com medo do que se vai encontrar. Como se uma parte de nós estivesse em perda com a ruptura que João Salaviza – "sequestrado" por Renée Nader Messora – fez com o cinema e a vida que antes quis e conheceu.

Este filme, que os dois apresentam esta quarta-feira na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, foi o resultado de anos de vida com os krahô, povo indígena do Brasil, no estado de Tocantins, que Renée conhece há dez anos e ao qual expôs João na ressaca da produção de Montanha, a anterior longa do realizador.


A “brincadeira” dos índios krahô com João Salaviza e Renée Nader Messora
João e Renéé viveram com eles, assistiram à chegada da luz eléctrica à aldeia. Foram tirando a câmara de filmar de dentro da caixa. Foram à procura de algo que só podia nascer sobre os restos de uma maneira de produzir e de filmar de que Montanha, filme que ele realizou e em que ela foi assistente, para eles foi um estertor. Salaviza fala do esgotamento da experiência com uma "parafernália" – equipas, luz, actores, produção. Falou até da sensação de fim do seu percurso temático pela adolescência: Montanha teria sido a súmula de luz e escuridão do percurso de Arena (2009), Rafa (2012), Cerro Negro (2012). O que iríamos encontrar, em terrenos em que não raras vezes o cinema cede lugar à antropologia – e nem é o maior dos riscos –, era uma incógnita. As curtas Alta Cidades das Ossadas (2017) e Russa (2018) pareciam filmes incertos, sem encontrar um lugar. Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos é, por isso, uma surpresa.

Salaviza reencontra uma potência a céu aberto, a aldeia da Pedra Branca com as suas pessoas, os elementos, os animais (e efeitos especiais), onde fabricou o mundo. Foi assim este "era uma vez o cinema": "... pôr a câmara no tripé, esquecer a câmara, ir buscar a malta que vai entrar na cena e que está a três quilómetros dali, pedir a quem vai trazer as tochas com fogo que não se esqueça delas, pedir ao tradutor que, enquanto coloca e aponta o microfone, nos ajude a explicar o que queremos – cenas em que a câmara é uma câmara-espírito porque não há ninguém a operar, eu estou com um reflector para a luz do sol, a Renée a fazer vento para o fogo aumentar, a câmara a filmar..."

O filme da fuga impossível do jovem índio Ihjãc, personagem perseguida e atordoada pela "realidade" e pelos "fantasmas" (como antes os jovens de Arena, Rafa ou Cerro Negro nas suas deambulações pela luz e pelas trevas), é o filme da fuga impossível de João Salaviza. Que foi incitado a mudar para, de alguma forma, o essencial ficar na mesma. Fugiu do cinema, encontrou o cinema. E nós encontrámos um dos mais bonitos filmes de Cannes

PÚBLICO -Foto
"O filme está indissociável de uma mudança radical na minha vida, o meu encontro com a Renée, e com este sequestro que ela me fez de me levar a conhecer os krahô NUNO FERREIRA SANTOS
A surpresa, João, é reencontrá-lo no mesmo ponto de fulgor clássico em que o deixámos na anterior longa-metragem e a personagem principal ser de novo um adolescente entre a luz e as sombras, como em Montanha ou Rafa (2012).
João Salaviza — O filme está indissociável de uma mudança radical na minha vida, o encontro com a Renée, e com este sequestro que ela me fez de me levar a conhecer os krahô. A Renée há vários anos que ia lá. Na rodagem do Montanha, as coisas que ela me ia contando sobre a vida dos krahô era um contraponto absurdo à forma como o filme estava a ser feito – obviamente que estava a ser feito como eu queria, com estrutura grande, equipa, luz, maquinaria, steadycams, toda a parafernália que hoje se calhar não me interessa. Montanha é um filme melancólico, nostálgico. Há um peso dramático que estava ligado às coisas que eu vivia na altura e a uma sensação de esgotamento.

Coincidência ou não, fomos ao Brasil, quase para me libertar. E foi nessa altura que começámos a pensar em mudarmo-nos para a aldeia e com o cinema pelo meio. O trabalho que a Renée tem feito com os krahô, mesmo sem ser de ficção e sem sair do indigenismo, tentava trabalhar as questões da imagem, as implicações políticas, sociais e estéticas da imagem. O cinema tem esta coisa incrível que é podermos ir para um lugar sem as coisas ficarem envenenadas pela condição de turista, porque temos um ofício – como uma companhia de circo que pode conhecer o mundo porque tem algo para fazer.

O facto de termos filmado com o Ihjãc pode parecer relacionado com Montanha, mas isso nunca nos passou pela cabeça. A Renée conhecia-o desde pequeno e houve um período de dois anos em que olhávamos para ele e pensámos...

João Salaviza recomeça em Cannes junto dos índios krahô
João Salaviza recomeça em Cannes junto dos índios krahô
Renée Nader Messora — ... será?

Desde cedo ele estava na vossa mira?
R.N.M. — Na verdade tínhamo-nos apaixonado por outro menino da aldeia, mas era difícil aproximarmo-nos. E o Ihjãc estava ali. Quando se chega à aldeia, passamos a fazer parte de uma família que nos acolhe, e o Ihjãc era do meu núcleo. Ele estava sempre ali, e chamava a atenção porque tinha 12 anos e tinha uma namorada sempre com ele: curioso a rondar a minha câmara, os trabalhos e as oficinas que fazíamos. Quando começámos a imaginar Chuva..., começámos a prestar atenção nele, ele foi crescendo e deu certo.

J.S. — A história do filme é inspirada na história real de um outro miúdo durante uma primeira visita que fizemos. Começou a sentir-se fraco, doente. Há todo um sistema de diálogo entre os pajés [feiticeiro e intermediário espiritual] que enfeitiçam, mas também podem proteger; é uma narrativa quotidiana da aldeia, as disputas, hierarquias e segredos. Aquele miúdo começou a sentir-se mal e um pajé descobriu que tinha sido enfeitiçado por outro pajé. Era um miúdo deslumbrado, curioso pelo menos pelo mundo dos brancos, da tecnologia, e acabou por fugir para uma cidade a 30 quilómetros. Nessa tentativa de fuga começou a sentir a impossibilidade de diálogo entre a medicina dos krahô, que é holística, e a dos brancos, e foi um desencontro de mundos, ontológico, filosófico.

Como a dinâmica de fuga era assumida, pensaríamos que a exuberância da ficção abrandaria. O filme aliás é anunciado como documentário. Mas há um deslumbramento enorme, a aldeia e as pessoas são como um estúdio a céu aberto onde se fabrica um mundo. Numa conversa anterior, contou que havia dias em que nem pegavam na câmara; o mais importante era viver. Como é que o cinema aconteceu assim?
R.N.M. — O João ficou obcecado com aquela crença na feitiçaria, com aquele miúdo que fugiu, que se matriculou na escola e que passou por todo o mundo institucional brasileiro. Começámos a imaginar caminhos dentro daquele universo, fomos juntando peças.

Para além de Salaviza, Lars von Trier, Terry Gilliam ou Nuri Bilge Ceylan reforçam a selecção oficial de Cannes
Para além de Salaviza, Lars von Trier, Terry Gilliam ou Nuri Bilge Ceylan reforçam a selecção oficial de Cannes
J.S. — O guião foi um mapa que permitia que não nos perdêssemos e que fôssemos filmando seguindo os nossos desejos. Há muitas coisas que são pura fruição lúdica dos gestos, das pessoas, de estarmos com elas. As cenas em que os miúdos brincam com o fogo, à noite: pegámos na câmara e fomos filmar, sem som. Ou a cena em que a rapariga pinta as unhas dos pés, sinal de elementos exteriores a invadir a comunidade.

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R.N.M. — Foi uma reorganização de coisas que fomos vendo e vivendo, eu ao longo de dez anos, o João ao longo de quatro...

Como uma longa repérage ainda sem o objectivo declarado de fazer um filme...
R.N.M. — Exactamente. Aquele momento em que o Ihjãc está no carro dos serviços de saúde e pergunta o que é “hipocondríaco” – foi uma pergunta que um dia o miúdo me fez. Eu expliquei que ele não estava doente, ele dizia que sim... Foi uma conversa impossível que transitou desta forma para o filme.

Para os krahô, o que era isso de terem pessoas entre eles com uma câmara, diálogos, o “acção” e “corta”?
J.S. — Com o Ihjãc foi preciso algum tempo para explicar que era uma história, que queríamos filmá-lo durante bastante tempo. Ele quis estar no filme, mas quando tinha de ir para a roça ceifar ou buscar um parente doente, durante três dias não havia rodagem. Percebemos que havia um lado lúdico. Divertiam-se. Ao terceiro mês de rodagem, ouvimos uma conversa e percebemos que eles se referiam ao acto de filmar como “a brincadeira”.

R.N.M. — O filme não era importante, importante era a brincadeira. Cortavam o cabelo, pintavam o cabelo...

J.S. — O que nos causava problemas de raccord. Um dia que os calções do Ihjãc desapareceram, tivemos que comprar outros e guardá-los – ao fim de três dias, nada é de ninguém, há um sistema que faz com que os objectos circulem.

R.N.M. — A certa altura, o Ihjãc estava assustado por mexer com o universo da feitiçaria, de forma lúdica, e achámos que tínhamos de ter uma reunião com um pajé que todos respeitavam. E ele disse: “Não se preocupem.” Tínhamos explicado a história e o que queríamos, mas só entenderam o que propúnhamos quando chegaram as primeiras imagens do laboratório. Quando pedíamos para eles repetirem um gesto, uma acção, eles não percebiam porquê. Quando viram a montagem, perceberam...

J.S. — Às tantas o Ihjãc começou ele próprio a dizer “corta” a meio das cenas, quando se enganava.

R.N.M. — Antes de começarmos a filmar mostrámos-lhes A Cidade de Deus [Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002] e o making of. Eles não tinham ideia dos dois universos, realidade e ficção. Ficaram chocados, não percebiam como é que aquelas crianças do filme estavam vivas porque viram o sangue.

Lateja no filme a enorme fragilidade de um mundo, gente ameaçada de todos os lados, por aquilo a que chamamos "real" e por aquilo a que chamamos "espíritos".
J.S. — Nunca tínhamos explicitado isso dessa forma, mas a resposta é: totalmente. Os povos indígenas vivem um cerco que está a estrangulá-los cada vez mais.

R.N.M. — Há um conflito, uma impossibilidade de circular, está muito presente. Há muitos preconceitos em relação aos índios naqueles povoados.

J.S. — Há uma coisa transversal a todos os regimes desde a chegada dos portugueses, monarquia, ditadura militar, nova democracia: transformar o índio em cidadão brasileiro, logo, em pobre brasileiro.

R.N.M. — Essa necessidade é só a face maquilhada do esbulho das terras. À medida que se transforma o índio em brasileiro, ele já não precisa de ver os seus direitos indígenas cumpridos. Mas o índio não se reconhece como brasileiro. Nem como índio. Vê-se como membro da sua etnia – e no Brasil há 280.

Essa sensação de fragilidade, de ameaça, é táctil, como na sequência do reflexo de Ihjãc na água.
J.S. — Há uma palavra: mecarõ. É o duplo. A imagem na água, a sombra, o espírito...

R.N.M. — ... a fotografia, o cinema, o reflexo no espelho... Isso tudo é uma imagem, isso é mecarõ. Quando vêem um filme, eles dizem que viram um mecarõ, tal como se se referissem a um espírito.

J.S. — Como são animistas, o mundo dos animais, das pessoas, dos espíritos são universos paralelos dispostos horizontalmente. A divisão entre os mundos físico e metafísico não existe, é uma multiplicidade de existências no mesmo patamar.

Interpretar uma personagem, repetir gestos, é o quê?
R.N.M. — Todos os rituais dos krahô são encenação. Parece aleatório quando vemos pessoas a chorar. Mas é um rito supercoreografado. Há milhões de festas com personagens, pessoas que adquirem papéis.

J.S. — Começámos a perceber que o gesto de filmar passou a ser um ritual. O nosso ritual era colocar a câmara no tripé, esperar pela luz e pedir que repetissem coisas quando elas não estavam bem.

De que é que fugiram? Que outra vida é esta?
R.N.M. — Esta relação tão próxima que tivemos com a vida, estarmos ali com uma câmara e não haver ninguém a dizer-nos nada... Tudo tem a ver com o tempo. Numa rodagem normal, tudo é feito para cumprir um plano. O que tira o prazer de estar com uma câmara apontada a uma presença que se quer capturar, porque é preciso tempo para que aconteça e para digerir o que aconteceu. Conseguimos desapegar-nos da parafernália de uma rodagem comum. Há um filósofo krahô que diz que o branco perdeu a paciência do mundo. Sabíamos que tínhamos de fazer um filme com a paciência do mundo.

Mas a experiência não é replicável. Ou é?
J.S. — Vão ser precisos ajustes. Acabámos a rodagem à beira da exaustão. Houve problemas de saúde. Foi duro andar duas horas pelo mato com aquele calor, os nossos corpinhos branquinhos não estão preparados. Não sei se vamos continuar a querer filmar com cobras a aparecer. Uma das cenas mais bonitas é aquela, no fim, em que estão todos a cantar numa casa, a câmara a andar da esquerda para a direita. Na noite em que ia acontecer essa festa, que esperávamos há meses, adoeci, 40 graus de febre. A cantoria ia começar, a Renée foi ter comigo a dizer que não ia dar. Disse-lhe, “vai filmar”. “Ok, não morras aqui”. Fiquei a ouvir cantorias ao longe, estava já em delírio, só me lembro que horas depois a Renée voltou, não sabia o que tinha feito, tinha andado com a câmara para a direita e para a esquerda, não sabia se fazia sentido algum, porque estava sozinha. Quando vimos as imagens, é o momento mais incrível.

Não há sequência em que se sinta o trabalho formal abandonado ou ultrapassado pelas circunstâncias.
R.N.M. — Isso tem a ver com a nossa conexão com tudo aquilo...

J.S. — ... com o facto de estarmos inebriados. Houve cenas filmadas contra tudo o que fazia sentido. E todas as mais pensadas ficaram fora do filme. Ainda pensámos afirmar mais a nossa presença, com câmara à mão, sujar o filme. Filmámos várias coisas assim, mas não resultou justo. Há a sensação de trabalhar com as limitações no máximo e perceber a essência: pôr a câmara no tripé, esquecer a câmara, ir buscar a malta que vai entrar na cena e que está a três quilómetros dali, pedir a quem vai trazer as tochas com fogo que não se esqueça delas, pedir ao tradutor que, enquanto coloca e aponta o microfone, nos ajude a explicar o que queremos – cenas em que a câmara é uma câmara espírito, porque não há ninguém a operar, eu estou com um reflector para a luz do sol, a Renée a fazer vento para o fogo aumentar, a câmara a filmar...

Isso é quase studio system, Hollywood...
R.N.M. — [risos] E tivemos efeitos especiais krahô, fumaças e tudo.

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por Augusta Clara às 18:07

Quinta-feira, 17.05.18

Luc Descheemaeker

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por Augusta Clara às 12:37

Quarta-feira, 16.05.18

Céu azul - Adão Cruz

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Adão Cruz  Céu azul

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(Adão Cruz)

 

 

 

Acordei hoje com o céu azul

Não só o que me entrava pela janela

Mas também o que me saía da alma.

Ambos se fundiam numa mancha celestial

Onde se inscreviam versos

Muito dispersos

De um poema azul sem igual.

Não havia dores

As estrelas cintilantes há muito se apagaram.

Não havia sangue

Há muito que o sol-pôr adormeceu.

Não havia nada.

Apenas a glória de um poema azul

Fruto maduro da madrugada

Mãe fertilizada

De um sonho-sémen da memória.

 

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por Augusta Clara às 18:59

Terça-feira, 15.05.18

MEMORIAL PROVISÓRIO DA INAUGURAÇÃO DA EMBAIXADA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA EM JERUSALÉM:

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Lista de palestinianos mortos pelo exército de Israel ontem, 14 de Maio de 2018

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Ezz el-din Musa Mohamed Alsamaak, 14 years old
Wisaal Fadl Ezzat Alsheikh Khalil, 15 years old
Ahmed Adel Musa Alshaer, 16 years old
Saeed Mohamed Abu Alkheir, 16 years old
Ibrahim Ahmed Alzarqa, 18 years old
Eman Ali Sadiq Alsheikh, 19 years old
Zayid Mohamed Hasan Omar, 19 years old
Motassem Fawzy Abu Louley, 20 years old
Anas Hamdan Salim Qadeeh, 21 years old
Mohamed Abd Alsalam Harz, 21 years old
Yehia Ismail Rajab Aldaqoor, 22 years old
Mustafa Mohamed Samir Mahmoud Almasry, 22 years old
Ezz Eldeen Nahid Aloyutey, 23 years old
Mahmoud Mustafa Ahmed Assaf, 23 years old
Ahmed Fayez Harb Shahadah, 23 years old
Ahmed Awad Allah, 24 years old
Khalil Ismail Khalil Mansor, 25 years old
Mohamed Ashraf Abu Sitta, 26 years old
Bilal Ahmed Abu Diqah, 26 years old
Ahmed Majed Qaasim Ata Allah, 27 years old
Mahmoud Rabah Abu Maamar, 28 years old
Musab Yousef Abu Leilah, 28 years old
Ahmed Fawzy Altetr, 28 years old
Mohamed Abdelrahman Meqdad, 28 years old
Obaidah Salim Farhan, 30 years old
Jihad Mufid Al-Farra, 30 years old
Fadi Hassan Abu Salmi, 30 years old
Motaz Bassam Kamil Al-Nunu, 31 years old
Mohammed Riyad Abdulrahman Alamudi, 31 years old
Jihad Mohammed Othman Mousa, 31 years old
Shahir Mahmoud Mohammed Almadhoon, 32 years old
Mousa Jabr Abdulsalam Abu Hasnayn, 35 years old
Mohammed Mahmoud Abdulmoti Abdal’al, 39 years old
Ahmed Mohammed Ibrahim Hamdan, 27 years old
Ismail Khalil Ramadhan Aldaahuk, 30 years old
Ahmed Mahmoud Mohammed Alrantisi, 27 years old
Alaa Alnoor Ahmed Alkhatib, 28 years old
Mahmoud Yahya Abdawahab Hussain, 24 years old
Ahmed Abdullah Aladini, 30 years old
Saadi Said Fahmi Abu Salah, 16 years old
Ahmed Zahir Hamid Alshawa, 24 years old
Mohammed Hani Hosni Alnajjar, 33 years old
Fadl Mohamed Ata Habshy, 34 years old

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por Augusta Clara às 02:17

Sábado, 12.05.18

Poema do desgaste e do contraste - Adão Cruz

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Adão Cruz  Poema do desgaste e do contraste

 

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(Adão Cruz)

 

Há muito que não saía à rua

há muito que não saía fora de mim

em direcção ao meu corpo abandonado

estendido em fria paleta sem cor

sobre um manto de poemas carcomidos

ruídos de musgo e manchas de bolor.

 

Há muito que não saía à rua

há muito que não sentia a dor

do desprezo da poesia

feita espuma de coisas impalpáveis

escaldantes, abertas e sangrantes

no sofrido labirinto da alma vazia.

 

Há muito que não saía à rua

há muito que não me apercebia

um só momento

do cantar bronco do poeta

em perpétuo e estúpido invento.

 

Há muito que não saía à rua

há muito que não dobrava a porta

deste corpo abandonado

na escuridão de uma noite peregrina

de lacrimosas horas perdidas

em poemas de cinza em cada esquina.

 

Há muito que não saía à rua

há muito que não sentia o abrigo dos lençóis

e pisava o chão purulento do degredo

na lama fria dos poemas e do medo

que rompiam as cadeias do meu corpo.

 

Há muito que não saía à rua

há muito que as linfas secaram a felicidade

mudando o cair da noite e o nascer do dia

em matéria grosseiramente física

de versos telúricos, celulósicos, iónicos

sem poesia nem liberdade.

 

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por Augusta Clara às 16:25

Sexta-feira, 11.05.18

Escândalos à medida das necessidades - Carlos Esperança

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Carlos Esperança  Escândalos à medida das necessidades

 

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   À medida que os sucessos no campo económico e no emprego se acumulam, esta direita mobiliza todos os ratos do seu esgoto para a orquestração concertada contra o governo, a que não perdoa o apoio parlamentar do BE, PCP e PEV cuja exclusão governamental julgava legítima e definitiva.

Compreende-se a raiva e uma espécie de ressurreição do ELP e do MDLP, agora com as bombas e assassinatos ausentes. Cerca-se o governo com escândalos políticos, reais ou imaginários, reservados há muito para ocultar os seus e denegrir os resultados nos juros de empréstimos, na criação de emprego, na melhoria da média das remunerações, na confiança internacional e na estabilização da banca.

Hoje, em vez de se lançar uma bomba a uma sede do PCP, dispara-se a suspeição de um lugar num desafio de futebol a um ministro; em vez de se matar um padre de esquerda, divulga-se o vídeo do interrogatório a um arguido da área adversária; por cada notícia benéfica solta-se um primata de Poiares a mandar calar o chefe da Proteção Civil; cada dificuldade da direita reativa os incêndios nos telejornais e, na ausência do PR às missas de sufrágio, publicam-se listas de arguidos relacionados com o partido do Governo.

Em vez de um Ramiro Moreira a pôr bombas, temos a D. Cristas a chamar mentiroso ao PM; não podendo dividir o SNS entre privados e Misericórdias, os partidos que votaram contra a sua criação reclamam dos problemas que deixaram e das faltas para que não há orçamento que resista; os fogos e os escândalos políticos, só dos adversários, são armas sempre à mão para saciar a gula de quem sabe que os últimos sempre foram justificação para golpes da direita. António Costa é a Dilma desta gentalha.

A democracia é, para boa parte desta direita, o compasso de espera para um regime que preferiam a um governo que não seja inteiramente seu. A posse da comunicação social e a atração de trânsfugas garantem a propaganda e a corrupção das consciências venais, que passam despercebidas da opinião pública e não são matéria para os Tribunais.

A asfixia do contraditório perante o garrote demolidor das notícias falsas e das verdades que se ampliam é uma ameaça ao pluralismo e a garantia de que, depois de Cavaco, até o Doutor Passos Coelho pode aspirar a PR, agora que Marcelo, depois de ter jurado que faria um único mandato, anunciou de forma ínvia a recandidatura, que só a repetição da tragédia dos incêndios, no próximo ano, inviabilizaria.
Se António Costa dissesse o mesmo, não faltariam incendiários.

É difícil prever por quanto tempo vão abrir os noticiários e ocupar as primeiras páginas dos jornais os escândalos políticos de figuras maiores ou menores que tenham cometido a imprudência de se associarem ao PS, quer por convicção, quer por se encontrarem em trânsito para a direita.

Desde que se esqueçam os ‘papéis do Panamá’, a divulgação da auditoria de Belém aos mandatos precedentes e as funestas privatizações, chegam os incêndios e os escândalos políticos para neutralizar os êxitos do Governo.

A exigência de divulgação dos devedores, legalmente impossível, apenas da CGD, é o ataque soez ao banco público deixando o BES, BPN, Banif e BPP com o rabo de fora.

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por Augusta Clara às 16:26

Sábado, 05.05.18

Os enigmas da Coreia - José Goulão

 

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José Goulão  Os enigmas da Coreia

 

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abrilabril, Sexta, 4 de Maio de 2018

 

A concretização das intenções manifestadas na Declaração de Panmunjom, implica a independência da Península da Coreia, a desnuclearização do território e a retirada das forças militares estrangeiras.

 

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Coreano-americanos manifestaram-se em diversas cidades americanas contra as ameaças dos EUA e pela paz na Coreia, por ocasião do 72.º aniversário da libertação do jugo colonial japonês, em 14 de Agosto de 2017. CréditosFonte: Zoom in Korea

 

  O comunicado conjunto assinado em 27 de Abril último pelos presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte ainda está fresco mas, como é inevitável para que se cumpram as normas mistificadoras inerentes às mensagens com imprimatur, iniciaram-se as operações interpretativas do texto de modo a que, no limite, ele diga o que não diz e vice-versa.

A deterioração do conteúdo do documento, porém, não é da responsabilidade exclusiva dos agentes de propaganda; estes reflectem, em grande parte, a teia de manobras diplomáticas «correctivas» imediatamente suscitadas pelo texto, onde se misturam imposições, falsificações, oportunismo e má-fé, instrumentos fundamentais para quem gere as coisas do mundo de hoje.

Os coreanos anseiam pela Paz – a Norte ou a Sul do Paralelo 38

A declaração dos dois presidentes e a correspondente aproximação bilateral – a mais significativa em 65 anos de estado de guerra – assenta em bases genuínas, porque traduz os anseios pacifistas e unificadores da esmagadora maioria dos 80 milhões de coreanos. A Coreia é uma nação única no território da península e a divisão em dois Estados, ao contrário do que tanto se diz e escreve, revelando deplorável ignorância, não é um simples produto da guerra fria mas também o resultado de um conflito sangrento – aliás a primeira situação em que as Nações Unidas cobriram com a sua bandeira uma operação militar norte-americana, então para aplicação da «doutrina Truman» – em «defesa dos povos livres do mundo». Truman foi, aliás, um presidente tão recomendável como o que está na Casa Branca, como se percebe relendo algumas das suas frases lapidares: «Deus está do lado da América no que diz respeito às armas nucleares»; por isso, «agradecemos a Deus o facto de as armas nucleares serem nossas e não dos nossos inimigos»; com elas, «Deus pode guiar-nos nos seus caminhos e objectivos».

É fundamental recordar que a agressão internacional contra a Coreia provocou a morte de 30 por cento da população do norte da península, um massacre para o qual a chamada comunidade internacional jamais encarou a possibilidade de estabelecer reparações ou punir «os crimes de guerra». Lembrar essa realidade é uma circunstância que ajuda a perceber melhor, e agora mais do que nunca, as reacções obscurantistas e intriguistas ao objectivo de «desarmamento faseado» da península, «ao ritmo do alívio das tensões militares e dos progressos substanciais das medidas de confiança», definido pelos dois presidentes na cimeira de 27 de Abril. E também permite entender o indisfarçado mal-estar em Washington perante formulações como a construção de «um futuro de prosperidade mútua e unificação, conduzido pelos coreanos».

«a agressão internacional contra a Coreia provocou a morte de 30 por cento da população do norte da península»

As reacções gerais à cimeira entre Kim Jong-un e Moon Jae-in que actualmente se vão sedimentando, depois de ultrapassado o período em que se desgastou um pouco mais o estafado adjectivo «histórico», confirmam que os presidentes das Coreias do Norte e do Sul foram mais longe do que se esperava. Quando as atenções estavam concentradas, principalmente, numa cimeira entre o dirigente da Coreia do Norte e o presidente dos Estados Unidos, prevista para Junho mas ainda de realização duvidosa, eis que a iniciativa intercoreana subverteu a agenda diplomática e mediática, e logo por razões que não deixam dúvidas quanto à intencionalidade dos responsáveis.

A origem de toda a movimentação que veio atenuar um risco de confrontação prolongado durante meses foi o anúncio, pela Coreia do Norte, de que está disposta a suspender os ensaios com armas nucleares como ponto de partida para o restabelecimento de negociações sobre a paz na Península.

A importância da proposta tornou-se ainda mais relevante depois da reunião de Março entre Kim Jong-un e o presidente da China, Xi Jinping, cuja realização só foi tornada pública depois de ter sido concluída com êxito para ambas as partes, e na qual Pequim terá manifestado consonância com o pensamento estratégico do dirigente norte-coreano.

Se o movimento de aproximação de Kim Jong-un  colocou na ordem do dia a possibilidade de um encontro com Trump – depois de ambos se terem confrontado num prolongado, assustador e irresponsável duelo de ameaças – o regime de Seul respondeu de maneira ainda mais decidida e criou espaço para uma cimeira coreana. É inegável que houve desenvolvimentos paralelos e a velocidades diferentes.

Apesar de o acontecimento mais mediatizado ter sido o da visita a Pyongyang do então chefe da CIA e hoje secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, tudo indica que o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in não cedeu toda a representatividade ao enviado de Washington e reservou para si alguma margem de manobra e canais de acesso directo a Kim Jong-un.

Os inimigos da paz na Coreia devem procurar-se fora da península

Os dois dirigentes coreanos criaram, deste modo, um espaço de diálogo nacional. E quando duas partes se entendem, não necessitam de mediadores; três passam a ser de mais, sobretudo quando o participante excedentário tutela um dos lados. O novo cenário, surgindo contra a ordem dominante na região, está a criar choques e fricções dentro da Administração Trump – em remodelação permanente – mas é visto com bons olhos por fiéis aliados de Washington, um dado que pode funcionar como reforço dos sintomas de isolamento norte-americano em relação a alguns focos internacionais. A interpretação da situação na Península da Coreia depois da iniciativa de Kim Jong-un foi mais um ponto entre os vários desacordos que se manifestaram durante as recentes visitas de Macron e Merckel a Washington.

Moon Jae-in não ignora que, devido à tutela militar de Washington sobre Seul, ele próprio pisa um terreno mais minado ainda que o do seu interlocutor do norte. Pelo modo como se envolveu nas negociações nacionais – «ansioso», segundo algumas análises – e, sobretudo, pelo conteúdo da declaração conjunta, deu passos que extravasam o espaço de autonomia que a tutela externa estipulou para um presidente do regime sul-coreano.

Ao longo de décadas, as sucessivas administrações norte-americanas têm encarado os fortuitos períodos de contactos entre o Norte e o Sul da Coreia como movimentos perfeitamente controlados pela envolvente externa, orientados segundo os objectivos estratégicos de Washington não apenas para a península, mas também para toda a Ásia e tendo em conta a relação de forças global. A estrutura de poder que gere efectivamente os Estados Unidos da América, chame-se «Estado profundo» ou «complexo militar e industrial», tem mantido, em relação à Coreia, uma política com duas variáveis estreitas: ou impedir a unificação; ou ditar os termos da unificação, designadamente de maneira a estender a presença militar para norte, em direcção às fronteiras com a China e com o território da Federação Russa.

A recente Declaração de Panmunjom define objectivos dos dois regimes coreanos que são incompatíveis com o status quo. «Paz, prosperidade e unificação» conduzidas «pelos coreanos»; o início de «uma nova era de paz»; a transformação do armistício vigente desde 1953 num «tratado de paz» e num «sólido e permanente regime de paz na Península da Coreia» são metas apenas alcançáveis num cenário sem qualquer tipo de ocupação militar estrangeira.

«[A Coreia do Sul tem] um regime onde os serviços secretos se designam KCIA e as forças armadas estão subordinadas ao comando operacional norte-americano»

É certo que, dias depois da cimeira, o regime sul-coreano emitiu um comunicado afirmando que a retirada das tropas norte-americanas – as únicas estrangeiras presentes na península – não está a ser encarada no âmbito deste processo.

Trata-se de um recuo aparente, uma espécie de abrigo contra os estilhaços da convulsão que a nova situação coreana está a provocar nos círculos de poder norte-americano. Porque, em termos práticos objectivos, não existe réstia de compatibilidade entre um tratado de paz e a manutenção de um contingente militar de ocupação, entre um «desarmamento faseado ao ritmo do alívio das tensões militares» e a continuação de um regime onde os serviços secretos se designam KCIA e as forças armadas estão subordinadas ao comando operacional norte-americano.

Em suma, a concretização das intenções manifestadas pelos presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte na Declaração de Panmunjom, designadamente a unificação, implica a independência da Península da Coreia, a desnuclearização de todo o território e a retirada das forças militares estrangeiras do país.

As «interpretações» ocidentais da Declaração de Panmunjom e a realidade

Na sua letra, a Declaração de Panmunjom manifesta uma intenção de ruptura assumida pelos dois presidentes. Contra a qual se erguem agora as teorias e análises impondo uma «releitura» do texto, algumas delas com tanta credibilidade, por exemplo, como as «provas» do recente ataque químico governamental sírio em Duma. É o caso da interpretação que explica como Kim Jong-un foi obrigado a suspender o programa nuclear porque a montanha que abriga o complexo militar e científico está a desabar; ou então a sua contrária, segundo a qual o presidente norte-coreano promete abdicar dos projectos militares nucleares enquanto continua a desenvolvê-los, e por isso não permitirá quaisquer inspecções internacionais. Um argumento falacioso para esconder a essência do que vai estar verdadeiramente em causa na cimeira entre o presidente norte-coreano e Donald Trump, caso se realize: o encerramento do programa nuclear de Pyongyang sob monitorização internacional em troca da retirada militar norte-americana do Sul da península. Este é o desafio lançado por Kim Jong-un, e cujas implicações Moon Jae-in, certamente, não ignora.

Uma proposta cuja recusa poderá deixar o presidente norte-americano isolado, até do próprio presidente da Coreia do Sul. O qual deve, desde já, precaver-se de quaisquer imprevistos, sendo o menos gravoso para a sua integridade física o pacífico, mas eficaz, golpe palaciano ao estilo paraguaio ou brasileiro.

Mas o que terá levado Donald Trump a aceitar o repto lançado pelo seu inimigo de estimação ao longo do primeiro ano de mandato?

Muito provavelmente porque tal lhe convém, uma vez que outro velho, mas renovado inimigo, entra em cena depois dos comprometedores fracassos dos justiceiros atlantistas na Síria: o Irão.

EUA: repousar na Coreia para atacar no Médio Oriente

Não apenas porque o Irão teve a ousadia de participar na resistência síria à agressão, ao lado da Rússia; também porque Teerão faz frente à reconfiguração do mapa do Médio Oriente, contribuindo para desmontar importantes mecanismos operacionais que a coligação entre Israel e a Arábia Saudita tenta impôr em toda a região, do Iémen ao próprio Irão, passando por Damasco e Beirute.

A agressão contra o Irão, uma obsessão com que Israel há muito tenta contaminar os aliados, e que partilha com o fundamentalismo saudita, estava prevista logo que a Síria se vergasse. Como isto não aconteceu, acumulam-se os indícios de que os dois países sejam agrupados num alvo comum, que provavelmente traduzirá numa catastrófica fuga para a frente. Daí as ameaças cada vez mais consistentes de Trump segundo as quais os Estados Unidos sairão do acordo com o Irão, reforçadas agora que Israel “descobriu”, certamente nos mágicos laboratórios do Mossad, as provas de que além dos tão falados projectos nucleares suspensos, Teerão ainda tem outros – mas esses ultra-secretos.

Na eventualidade de se registar uma maior concentração de esforços de guerra no Médio Oriente, até ao intrépido e omnipresente exército norte-americano convém que a frente da Coreia fique congelada por uns tempos, nem que seja alimentando conversações que darão em nada.

O pior, para as sempre periclitantes estratégias do Pentágono, é se os coreanos conseguirem trilhar em conjunto o caminho que tiveram a ousadia de abrir.

 

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por Augusta Clara às 15:50

Quinta-feira, 03.05.18

Corrupção - ataquem o Cérbero monstro das três cabeças. Não sejam cobardes nem cúmplices - Carlos de Matos Gomes

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Carlos de Matos Gomes  Corrupção - ataquem o Cérbero monstro das três cabeças. Não sejam cobardes nem cúmplice

 

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   Vamos falar de corrupção? A sério?

Podíamos falar da constituição de monopólios do tempo da primeira industrialização de Portugal, a do Marquês de Pombal, mas vamos ao tempo aqui mesmo ao virar da porta. Como se reconstruiram os grupos privados após a nacionalização da banca em 11 de Março de 1975? Como reapareceram os bancos privados, como surgiram o BIP, das confederações do Porto, Santos Silva, o BCP/Millenium da Opus Dei, Jardim Gonçalves, o BPN de Oliveira e Costa, como reapareceram os Espirito Santo, como desapareceram os Burney, os Pinto Basto, o Totta e Açores, o Pinto e Sotto Mayor, o Crédito Predial, como desapareceu o Banco Português do Atlântico de Cupertino de Miranda e o Pinto Magalhães? Como apareceram os Mello /CUF no sector da saúde privada e nas auto-estradas e como desapareceu a CUF, um grupo insustrial? Como desapareceu a SACOR e surgiu a GALP? Como foram atribuídas as concessões de estradas – BRISA e Autoestradas do AtLântico, de portos, de aeroportos?

Em resumo: Como surgiu a Quinta da Marinha após o 25 de Novembro? Como desapareceram a Siderurgia Nacional, a CIMPOR, a CUF /SAPEC- adubos, as papeleiras, as refinarias nacionais – SACOR e surgiram os concessionários das portagens de autoestradas, os comissionistas de taxas de combustíveis e de electricidade, os merceeiros da grande distribuição?

Corrupção. Como se constroem impérios de serviços? A SONAE, ou o Pingo Doce, ou a Brisa, ou a CUF saúde? Como se constrói uma sociedade de rendas, de rentistas, sem pagar comissões ao poder político?

E não só, como se mantém a ficção de que vivemos num regime de seriedade sem uma comunicação social por conta, como as amantes? A comunicação social é corrupta desde o miolo. É a comunicação da corrupção e ao serviço da corrupção!

Existe algum chefe de governo desde 25 de Novembro de 1975 que não tenha sido um avençado dos grupos cuja criação ou recriação promoveu? Mais, existe algum presidente da República que não tenha sido um instrumento destes poderes? Quem não se aboletou com os fundos estruturais da CEE? A UGT nasceu como? Já alguém ouviu o Torres (um peão, é certo) Couto sobre os fundos para a formação? E quanto ao abate da frota pesqueira ? E sobre a destruição do olival? E sobre a plantação do eucalipto? E como foram elaborados os PDM, os planos directores que trouxeram 80% da população para a faixa litoral? Existe alguém nos vários governos com as mãos limpas?

Como surgiram bancos fantasmas do tipo BPN sem corrupção no topo do regime?

Tenho sobre o cristo do momento, Manuel Pinho, a pior das opiniões: enojam-me os zequinhas como ele, os patetas como ele, os pequenos vigaristas como ele, mas falemos então de gente que determinou o que está a acontecer: Julguem o Ricardo Espirito Santo Salgado! Comecem por ele e deixem para já os peixinhos de aquário, como o Pinho dos corninhos a abrir e a fechar a boca e os Sócrates.

Vamos ser sérios: na operação Marquês comecem por Salgado e pelo Banco Espirito Santo. No caso do Pinho, ou do Sócrates, comecem por Espirito Santo. Sentem Ricardo Espirito Santo Salgado no banco e comecem a fazer-lhe perguntas. Quem o trouxe de regresso a Portugal? Que apoios ele teve para reconstituir o seu império? E chamem Jardim Gonçalves! E chamem as famílias Cupertino de Miranda e de Pinto Magalhães!

Mas, antes de tudo tenham a coragem de julgar Ricardo Espirito Santo Salgado! É nele que tudo começa e é aos Espirito Santo que tudo vai dar. Não sejam cobardes e não atirem areia aos olhos dos portugueses!

Tenham os jornalistas a coragem de ir ao centro do vulcão! Ao Espirito Santo! Porque não vão? Medo? Cumplicidade?

O resto, os ataques a Sócrates e a Pinho são demonstrações de rafeiros que ladram mas não mordem. Estamos a ser – os portugueses em geral – sujeitos a uma barreira de mistificadores e de cobardes que nos querem pôr a discutir as gorjetas que os mandaletes de fazer recados, os groom, receberam quando a questão é a do dono do hotel. Mas esse deu muito dinheiro a ganhar. Sabe muitas histórias… Não é?

A história da corrupção que nos está a ser contada é a história da cobardia de jornalistas e de magistrados. De canalhas que estão a apontar para o lado – foi aquele menino - para que não olhemos para eles.

É o desafio, o meu: políticos, jornalistas, magistrados, tenham espinha, encham o peito e vão a ele! Não sejam rafeiros! Não sejam merdas: atirem-se ao Cérbero, ao “demónio do poço” na mitologia grega, ao monstruoso cão de três cabeças que guardava a entrada do mundo inferior, o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. Vão à fonte da corrupção: ao Espírito Santo.

Falta-vos coragem? Comeram desse tacho? Não?

Se não falta coragem, se não comeram desse tacho, atirem-se ao Espírito Santo, ao monstro, ao Cérbero, exijam o seu julgamento! Ele sorri e escarnece de vós à saída das audiências! Vão a ele!

O resto são merdices e areia para os olhos do pagode.

 

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por Augusta Clara às 18:05



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