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Jardim das Delícias



Segunda-feira, 22.03.21

Sem palavras - Eva Cruz

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Eva Cruz  Sem palavras

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(Miki de Goodboom)

 

Sons de silêncio
nas cores perfumadas dos lilases
ao longe o estalar da casca de um pinheiro
na tranquilidade dos guizos do rebanho que pasta.
Cantar da água pela borda fora
entre manchas de mil verdes
na beleza nua da música a preto e branco
em claves de sol e de cor
e de dor de não ser capaz de a tocar…
Um pombo rolo canta e desafia a timidez da poesia.
Abraçar sonhos solitários
quando na boca morre a palavra da cidade metafísica
ou apenas do pequeno recanto
onde vive o perfume de uma rosa
ou o encanto da mariposa de meados de Abril.
Canta solitário o verdilhão
a canção simples da sedução
em voo ondulante cortejando a fêmea
e sem palavras
no mais calado silêncio
nasce no coração da Primavera a poesia.

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por Augusta Clara às 16:21

Domingo, 21.03.21

Primavera - Adão Cruz

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por Augusta Clara às 18:12

Sábado, 20.03.21

Acordei esta noite - Adão Cruz

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Adão Cruz  Acordei esta noite 

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(Adão Cruz)

 

Acordei esta noite com o gotejar da chuva
monótono
sonolento.
Dormia comigo a saudade e comigo acordou
amargando horas sem raízes
no tecer de angústias e desânimos.
Pura fantasia a textura dos sentimentos!
Os galos cantavam ao longe no romper da madrugada
e a claridade incerta da janela
abria mansamente os meus olhos que sonhavam.
Ousei tocar a tua mão branca
sabendo que tocava o lado esquecido da vida.
Tinhas morrido
já na véspera o sabia
mas esqueceu-mo o dormir.
Fugi para a cidade
vagueei pelas ruas adormecidas
até os galos calarem o seu cantar
e por baixo de um céu de chumbo
levei meus passos para o lado do mar.
As ondas abriam-se nos rochedos negros
e eu não tive medo
deixei que as pernas me pesassem ao longo da praia
arrastando na areia os ossos do meu segredo.

 

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por Augusta Clara às 21:41

Segunda-feira, 15.03.21

Adão Cruz, 2021

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por Augusta Clara às 19:28

Sexta-feira, 12.03.21

O que penso - Adão Cruz

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Adão Cruz  O que penso

 

 

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   É muito difícil saber o que é a Arte. Duvido de quem diz que sabe o que é a Arte. A Arte não tem definição que nos satisfaça, e penso que nunca se saberá, verdadeiramente, o que é a Arte. Por isso, prefiro chamar-lhe sentimento artístico. Mas, mais do que teorizar, o que interessa é a prática da sensibilidade, não só do criador mas do contemplador e da sociedade em geral, bem como a liberdade da constante destruição-criação das raízes do pensamento. Sem sensibilidade e sem curiosidade universal não me parece possível a formação de uma personalidade artística, capaz de entender a Arte como o caminho mais natural para viver a verdade.

 

Muitas vezes dou comigo a pensar que o Homem é um ser uno e indivisível, extremamente complexo. No entanto, ele é composto por uma infinidade de subunidades, todas intimamente ligadas entre si, a mais importante das quais, a unidade soberana, se assim podemos dizer, é o cérebro. Este órgão é constituído por cerca de cem biliões de neurónios em permanente actividade, através dos quais se processam em cada momento, provavelmente, triliões de neuro-transmissões. O nosso esquema cerebral é idêntico em todos nós mas o conteúdo de cada cérebro é totalmente diferente. Daí que o sentimento artístico, pertencendo à espécie, é de cada um na sua individualidade, especificidade e profundidade.

 

Por outro lado, sou levado a pensar que a Humanidade não é um mero conjunto de homens e mulheres, mas uma profunda e intrincada rede de relações, de relações humanas muito diversas e complexas. O cérebro de cada um de nós, apesar de encerrado num compartimento estanque, não se encontra isolado. Relaciona-se, permanentemente e mais ou menos intimamente, com todos os outros, e todos os outros se relacionam com ele, através dos múltiplos canais de comunicação que vão desde a linguagem falada, escrita ou gestual, à mímica, à postura, às atitudes, aos comportamentos. Todavia, o sentimento artístico, seja ele o que for e tome a obra de arte a expressão que tomar, parece-me a forma mais nobre e sublime da comunicação e da relação do homem consigo mesmo e com o mundo. Será, provavelmente, a única que permite ao homem assentar os pés no caminho da universalidade.

 

Todo o homem se relaciona mais ou menos activamente com os inúmeros fenómenos que o rodeiam e com tudo o que vê e ouve, com tudo o que entende e não entende. O diálogo do Homem consigo mesmo e do Homem com o mundo no seio da natureza e da Humanidade é permanente, profundo e inevitável, e constitui a fonte universal e inesgotável de todas as ideias. O Homem tem caminhado ao longo do tempo em profunda relação dialéctica com o meio, confrontando-se com as difíceis questões da sobrevivência, do pensamento, da razão e da difícil descoberta de si próprio. Nesta descoberta do entendimento de si próprio reside, a meu ver, a força que o impele para o infinito e para a sua dimensão universal, dito de outra forma, a força que o projecta nos horizontes da expressão artística. Mas a arte, apesar de ser a voz da alma na vida infinita, nunca atinge a perfeição, por isso ela será sempre eternidade, inquietude e procura constante. Não se compadece nem com a abreviatura do silêncio nem com a amplidão do grito, pois emerge de uma luta permanente entre sonho e pesadelo, o sonho de ser um pássaro voando na proporção do infinito e o pesadelo de ser um Homem feito à medida do vento, arrastando as asas.

 

No meu entendimento, a Arte, ou sentimento artístico, fruto da obediência ao facto de existirmos, é a proclamação da inocência contra as culpas do mundo, é a mais segura tábua de salvação nos naufrágios da fraqueza humana e o melhor antídoto contra as sistemáticas tentativas de cretinização da sociedade. Age sobre a sensibilidade, a imaginação e a inteligência, enriquece o sentido da humanização, ajuda o processo de reflexão, ilumina as emoções e os sentimentos, cria uma poderosa afinidade com a consciência, gera a necessidade de identificação com a verdade e a liberdade, desenvolve o sentido da estética, da beleza, da harmonia e da justiça, e abre a mente do ser humano ao valor da dignidade e à compreensão dos indeléveis mistérios das relações do homem com a natureza, impedindo-o de mastigar crendices, atavismos e superstições absurdas que o escravizam.

 

Penso que qualquer obra de arte tem um sentido para aquele que a produz, sentido que pode não ser o mesmo daquele que a vê, ouve ou contempla. O conceito de sentido é fundamental na comunicação. E o sentido está dentro de cada um e resulta da forma como cada um responde interiormente às suas experiências, forma essa que é diferente em cada pessoa. O sentido é fruto de um complicado processo em constante movimento, e ao transmiti-lo, não se deve esperar uma colagem pura e simples mas sim uma integração consciente nos mecanismos construtivistas do sentido dos outros, isto é, deve haver sempre, tendencialmente, um sentido de obra colectiva. Daí que, tomando como objecto de relação humana a realização de um acto criativo, não nos seja difícil compreender que quando alguém escreve um poema ou um livro, quando escreve uma peça musical ou pinta um quadro, introduz nessa obra, mais ou menos conscientemente, dentro de um real conhecimento das circunstâncias, toda a sua vida, toda a sua estruturação como ser humano individual e livre. A obra é tecida com todas as suas vivências, as suas memorizações, as suas emoções, os seus sentimentos.

 

Quando alguém vai ler, ouvir ou contemplar a obra do autor, não vai apenas ler, ouvir ou contemplar a obra do autor, mas, à luz de toda a sua riqueza espiritual, vai sentir também a sua própria obra, o seu próprio poema, a sua própria música, o seu próprio quadro, já que não é com os olhos, os sentimentos e a vida do autor que ele a vai sentir, mas com a sua própria vida, através das suas próprias emoções e sentimentos. Desta forma, a obra pode desencadear em quem a lê, ouve ou observa, uma imensidade de fenómenos e sensações, uma forte necessidade de sair do vazio, e pode funcionar como um poderoso estímulo, mais penetrante ou menos penetrante, mais revolvente ou menos revolvente, que pode despertar e até desnudar o mais profundo interior de cada um na sua identificação com o que lê, ouve ou observa. Sobretudo, quando a obra for capaz de inquietar o pensamento, criar rupturas, abrir conflitos entre conceitos caducos, levar à meditação e pôr em causa o mundo estreito das velhas ideias. Quando a obra for capaz de nos ensinar que ninguém vê com os nossos olhos, ninguém pensa com o nosso cérebro e ninguém sente com o nosso espírito.

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por Augusta Clara às 15:01

Quarta-feira, 10.03.21

Adão Cruz, 2021

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por Augusta Clara às 18:10

Terça-feira, 09.03.21

A homenagem de INÊS PATRÍCIO a sua mãe

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Chamava-se MARIA IGNEZ DE SOUZA DA CÂMARA E MORAES SARMENTO ( tirou o Patricio depois do divórcio)

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      "Para variar, este é o dia de falar da minha mãe. O tempo dela era o Estado Novo, a ditadura dos homens de suspensórios. Quis trabalhar e não autorizaram. Quis divorciar e não podia, pela lei. Tomou a pílula e disseram que não podia comungar. Esteve a lixar-se para isso. Perguntou porque é que as mulheres de ministros ( ela era) não ganhavam nada mas tinham de comprar vestidos, ir a chazinhos de embaixatrizes, a jantares e viagens de trabalho. Não responderam. Porque sim. Ela foi a Conselho de ministros e de lá de cima ( acho que era um lugar onde os homens ficavam em baixo) gritou: ninguém me contratou mas eu demito-me! ( hoje já há ajuda de custo para mulheres dos caras publicos). Ela ligava para os caras que mandavam e reclamava da falta de direitos das empregadas. Chateava. Ligava para o Veiga Simão que era da educação e reclamava dos lavores para as mulheres. Queria música e carpintaria. Acho que conseguiu música. Tirou-me do colégio de freiras e pôs-nos a mim e minha irmã no liceu. Não acordava de manhã para nos dar bom dia nem nada. Eu reclamei. Disse: tira o curso e trabalha para não ficares sem sono de noite, como eu. Quando prenderam uma moça chamada Dalia passou-se. Foi o fim dos dias lá em casa. Passava o almoço e jantar sem comer, de braços e pernas abertos a simular um tipo de tortura. Emagreceu e ficou doente. Teve sífilis. Pediu ao médico atestado para se divorciar. O médico teve medo e não deu. O medo dos homens era de outros homens. Das mulheres não teriam medo! Foi a Caxias com o senhor Matos chauffeur( um homem bom que chorava) e uma cadeira. Sentou. Esperou. Disse que tinha as mesmas ideias dos presos. Mandou um livro á moça em que a dedicatória era Aqui em Portugal nem as moscas mudam!. O Silva pais, chefe da polícia, ligou a meu pai. A mulher do meu pai incomodava. Não a podiam prender. Deem-lhe uns safanoes, disse alguém. O primeiro ministro ligou e disse Tortura não é assunto para mulheres. São o sexo frágil. E ela: pensam nisso quando se deitam em cima de nós com o vosso peso? O homem era púdico, conservador e cristão. Não gostou da rudeza. Não gostavam dela. Nem ele nem a pide.

 
Como não a podiam prender tacavam-lhe curas de sono. Fez várias. Numa delas, antes de a levarem, disse-me Tira o curso e trabalha! Não dependas de homem nem de família. Assim fiz!
 
Santo conselho!
 
Quando foi a revolução ficou contente. Mas foi solidária. Não se bate em cachorro morto! Nem saiu de casa como lhe pediram. Saímos todos, menos ela. Riu-se de nós porque a nossa fuga foi dois prédios da infante santo. Passamos do número 61 para o 57. Para casa de primos. A família morava toda na mesma rua Rsss.
 
Ela gostava do Otelo e do Vasco Lourenço. Dizia que o Galvão de Melo e o Cunhal eram nossos primos. Quando as brigadas entraram lá em casa a ver se estávamos recebeu-os com cafezinho e batepapo. Foi ao nosso quarto onde dormiamos e disse Não sejam caguinchas. Estes senhores estão a trabalhar.
 
Quando entrei para o partido comunista, no Brasil, fez -me um bolo para levar aos camaradas. Quando fui chamada pelo diretor para explicar as reuniões "clandestinas" debaixo de uma árvore na praia vermelha foi comigo e gritou Se disseres uma palavra que for, deserdo-te! Depois pensou e disse: deserdar não posso mais pois lá em Portugal já houve reforma agrária mas dou-te um par de estalos e deixas de ser minha filha.
 
Cá estou até hoje, filiada à minha mãe!
 
( agora vou publicar e emendar, mãe mãe! Como sabes sofro de ansiedade )"

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por Augusta Clara às 18:05

Terça-feira, 09.03.21

Como vejo a transcendência - Adão Cruz

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Adão Cruz  Como vejo a transcendência

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(Max Ernst)

 

   Sou suficiente humilde para não me considerar sábio em nada. Tudo aquilo que escrevo corresponde à minha maneira de ver as coisas, à minha opinião, àquilo a que eu chamo as minhas verdades. Há quem as aceite e há quem as rejeite.

Não vejo qualquer razão, sendo nós senhores da nossa Liberdade interior, para complicar as coisas. Quanto a mim, Transcendência é igual a desconhecimento. Transcende-nos sempre aquilo que não conhecemos. O Homem primitivo não se questionava, penso eu, sobre a origem do Universo, mas era para ele transcendente o facto de uma pedra cair e o fumo subir. A nós, transcende-nos a origem da vida, por exemplo, embora a Ciência tenha já avançado muito no caminho da sua explicação. Transcende-nos a origem do Universo, porque, embora haja teorias para a explicar, ainda não há nada que permita aceitá-la como Facto Científico. A Gravidade, a esfericidade e a Rotação da Terra, por exemplo, são Factos Científicos, isto é, fenómenos praticamente impossíveis de desmentir. Através dos séculos, especialmente nos últimos tempos, a Ciência, quanto a mim o único caminho da Verdade, sempre com muita humildade e prudência, conseguiu explicar e aceitar como Factos Científicos milhares de fenómenos que nos eram transcendentes, e de cuja origem quase ninguém duvida. Na minha maneira de ver, a complicação está em darmos à palavra Transcendental uma conotação sobrenatural, pondo de lado o pensamento e a razão. Como diz o povo, o mal está em pormos o carro à frente dos bois.

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por Augusta Clara às 13:01

Segunda-feira, 08.03.21

Adão Cruz, 2021

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por Augusta Clara às 16:27

Sábado, 06.03.21

Reflexão sobre a liberdade - Adão Cruz

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Adão Cruz  Reflexão sobre a liberdade

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(Auguste Rodin, O pensador)

 

   A Liberdade é um conceito que não é fácil de entender. A Liberdade é um conceito multifacetado que nos obriga a uma reflexão profunda mas clara, uma reflexão que possa constituir uma espécie de calibração para todos nós.
 
Na minha maneira de ver, a Liberdade, nas suas inúmeras vertentes, não pode existir fora de nós se não existir dentro de nós. E para que ela exista dentro de nós tem de ser racional, tem de assentar em três grandes pilares, o Pensamento, a Razão e o Amor à Verdade, as grandes riquezas do ser humano. O Pensamento como coração e cérebro do discernimento filosófico, a Razão como validação desse pensamento, tendo por base o conhecimento científico, único caminho da Verdade, ainda que muitas vezes difícil e sinuoso. E o Amor à Verdade, como sangue ou seiva que o percorre e alimenta.
 
Só tendo consciência plena dessa Liberdade individual, da nossa Liberdade interior, só tendo consciência de que não nos enganamos a nós mesmos, seremos livres para poder entender e ser capazes de defender a Liberdade ou as liberdades fora de nós, sejam elas de que natureza forem, existenciais, laborais, sociais e políticas. Não falo, propositadamente, em liberdade religiosa ou em liberdade de crenças. Qualquer pessoa tem o pleno direito de acreditar no que quer que seja, no entanto, na minha maneira de ver, não podemos compreender que o faça livremente, dado que qualquer crença ou religião assenta em premissas não racionais, isto é, premissas que tornam impossível a conquista da Liberdade Interior.

 

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por Augusta Clara às 18:21



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