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Jardim das Delícias



Quarta-feira, 16.12.15

"A Grande Beleza" - crítica de cinema por Marcos Cruz

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Marcos Cruz  "A Grande Beleza"

 

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   "A Grande Beleza" está para Paolo Sorrentino como "A Árvore da Vida" para Terrence Malick. São obras de profunda reflexão que representam como nenhuma outra os seus autores, quer em termos filosóficos quer cinematográficos. Depois delas, torna-se difícil reinventarem-se. Malick fez "A Essência do Amor" e concentrou-se mais na poesia. Entendeu que uma forma interessante de se libertar de "A Árvore da Vida" era realizar um filme justamente sobre a libertação do corpo. As voltas e voltas que Olga Kurylenko dá em torno de si mesma são a coreografia de um processo de transformação, de purga. Como os patos batem apressadamente as asas depois de uma luta para se livrarem rápido das más energias, também a actriz que contracena com Ben Affleck roda o corpo para o desprender dos fios que o impedem de ascender a um plano menos denso da existência, onde as necessidades e os desejos se desvaneçam na consciência de que tudo é merecedor de amor. Sorrentino fez "A Juventude" e concentrou-se mais na emoção. Ao criar uma personagem como a de Michael Caine, cuja escolha também não é despicienda, o realizador italiano pretende exorcizar através dela o seu próprio medo de, tendo culminado com "A Grande Beleza" a construção daquilo a que se pode chamar de uma identidade cinematográfica, não ter mais nada para dar que não belisque a obra já feita. E é aí que entra Harvey Keitel, quase o Tyler Durden de Caine. Sorrentino supera a "persona" arriscando ser fiel às emoções, deixando-se guiar por elas sem, claro, pôr em causa o rigorosíssimo critério estético, narrativo e mesmo filosófico do seu percurso. Revela, com isso, amor à arte, o antídoto que escolhe para a tentação do orgulho e da vaidade, mas em dois ou três momentos do filme, paradoxalmente, talvez lhe escape da mão o orgulho de não ter sido orgulhoso: quando a emoção resvala para perto do sentimentalismo. Meros pormenores, danos colaterais numa obra de libertação que a mim, pessoalmente, me descansa sobre o futuro deste grande cineasta.

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por Augusta Clara às 14:00


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