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Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Manuel Alegre
(Adão Cruz)
Como em Agosto, na Ria, quando chegas da Barra e te lanças à água, finges de afogada, eu corro a salvar-te, trago-te ao colo e nado sem esforço, tu não pesas, somos os dois um só, uma só forma. Alquimia, conjunção astral, o que quiserem.
Sempre que vou à Barra vejo ainda a tua casa apesar de demolida, procuro-te nas águas, agora negras, no cheiro às ervas das areias, na maresia e na salsugem, procuro-te na luz, a luz branca das salinas, estás ainda na ponte de madeira que já não há, passa um barco da Capitania, quem sabe se não te leva para a Torreira ou S. Jacinto, procuro-te na maré cheia e na maré baixa, nas gaivinas, nos patos reais, nos maçaricos, nas rolas que passam no fim de Agosto. Há uma gaivota que voa em direcção ao sol.
— Aquela gaivota enlouqueceu, diz Afonso Furtado, meu pai, que é tu cá tu lá com as aves da Ria.
(in A Terceira Rosa, Dom Quixote)
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Texto e foto deliciosos, parabéns!
Palavras como dinamite.E passados 50 anos sobre os...
Lindo!
Um testemunho enternecedor.Eva
Grande texto que nos faz refletir... Muito!