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Jardim das Delícias


Terça-feira, 02.12.14

Cenas turcas de um tráfico terrorista que oficialmente não existe - Christopher Wadi, Iskanderum, Turquia

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Christopher Wadi, Iskanderum, Turquia  Cenas turcas de um tráfico terrorista que oficialmente não existe

 

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Estado Islâmico em treinos na Turquia

 

   25 de Novembro de 2014

   No porto turco de Iskanderum poucos são os que têm dúvidas: eram mísseis e lançadores de armas pesadas e seguiram em camiões em direcção a zonas onde se sabe existirem bases de terroristas islâmicos, depois de terem sido descarregados de um navio de bandeira norte-americana. Foi há uma semana.
Na zona portuária desta cidade mediterrânica situada na Turquia meridional, muito próximo da Síria, as pessoas são muito reservadas nas suas conversas quando se abordam temas relacionados com a instabilidade militar na região, mas percebe-se que desejam dar a conhecer no exterior do país o facto de também “serem vítimas do terrorismo islâmico e das cumplicidades internas com esses grupos”, de acordo com um homem que apenas declinou o nome próprio, Yildiz.
Os depoimentos recolhidos na zona permitem confirmar declarações feitas há poucos dias pelo deputado Mehmet Ali Ediboglu, eleito pela província de Antioquia em representação do Partido Republicano do Povo, de oposição. “No dia 19 de Novembro”, disse o deputado, “um navio norte-americano entrou no porto de Iskanderum transportando ilegalmente armas” para o terrorismo islâmico.
O transporte é ilegal, de acordo com jurisprudência estabelecida pela justiça turca e que provocou a ira e uma vaga repressiva do então primeiro-ministro Erdogan contra os sectores do aparelho de Estado que apresentaram provas do apoio do regime turco à Al Qaida e grupos afins. No entanto, a operação portuária não foi discreta, porque protegida por contingentes da polícia anti-motins, cuja presença chamou a atenção da população de Iskanderum e também de forasteiros.
Mísseis e lançadores pesados foram descarregados do barco e colocados em camiões que seguiram em comboio para leste, a direcção onde se sabe existirem bases de grupos terroristas, um facto que o governo do agora presidente Erdogan continua a negar.
“O mais provável é que tenham seguido para uma base usada pela Al Qaida e pelo Estado Islâmico na província de Osmanyie, de onde se realizam infiltrações no norte da Síria, na região que serve de suporte à acção do Estado Islâmico”, afirma um activista de oposição.
Segundo a mesma fonte, o terrorismo islâmico “tem bases igualmente nas províncias de Karaman e Sanliurfa, situadas também no sul e sudeste do país, nas imediações do território sírio”. O activista denunciou que a NATO e Israel sabem muito bem disso, “pois o processo funciona em coordenação com o presidente Erdogan, mesmo que para a justiça turca tudo isso seja ilegal”.
Estes assuntos não são segredo na Turquia. “A negação desta realidade é apenas uma grande mentira transformada em verdade oficial num regime cada vez mais autocrático”, diz Rashida, uma professora de passagem por Iskanderum. “Ainda em Setembro último o presidente do Partido Republicano do Povo revelou que o Estado Islâmico tem departamentos em várias cidades turcas para recrutar mercenários para as suas guerras e dispõe bases onde esses indivíduos são treinados com apoios estrangeiros”, acrescentou.
Na mesma declaração proferida em final de Setembro, o presidente do principal partido da oposição afirmou que o ministro-adjunto da Justiça ordenou ao procurador da província de Adana que deixasse de inspecionar os camiões de transporte de armas para os grupos infiltrados na Síria uma vez que esta operação é feita sob a responsabilidade dos serviços secretos turcos, MIT.
“São os que sustentam o terrorismo que dizem combater o terrorismo, isto é tudo uma grande farsa”, denunciou um ancião de Iskanderum, trabalhador portuário reformado, que assistiu a toda a operação de 19 de Novembro.
A revelação de que o primeiro-ministro Erdogan e o filho são interlocutores do tesoureiro da Al Qaida, membro da família real saudita, financiando a organização através de dinheiros públicos turcos, provocou já este ano um grande escândalo na Turquia e a demissão de três ministros.
Erdogan, no entanto, contra-atacou, fez uma grande purga nos sectores dos aparelhos judicial e policial envolvidos nas investigações e meses depois conseguiu fazer-se eleger presidente.
“Na Turquia de hoje, que se faz passar por um país avançado e civilizado, não há dúvida de que o crime compensa”, afirma Kiral, jornalista. “Erdogan costuma dizer que não existe islamismo moderado e islamismo radical, mas apenas islamismo”, acrescentou. “Por uma vez é coerente: não é ele, mas sim os seus aliados ocidentais que lhe chamam ‘moderado’ para lhe permitirem tudo no trabalho sujo de sustentar os ‘radicais’”.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Quarta-feira, 05.11.14

Gaza em asfixia total - Christopher Wadi, Cairo

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Christopher Wadi, Cairo  Gaza em asfixia total

 

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2 de Novembro de 2014

 

   Israel anunciou o encerramento dos postos fronteiriços de Kerem Shalon e Erez, os únicos acessos ainda possíveis à Faixa de Gaza. A partir de agora, o território palestiniano está completamente “fechado ao mundo”, como diz um habitante contactado telefonicamente.
As autoridades israelitas anunciaram a medida poucas horas depois de terem reaberto o acesso à mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, depois de o encerramento ter provocado uma onda mundial de protestos.
O motivo invocado oficialmente pela administração de Telavive para fechar as entradas é o de que da Faixa de Gaza foi disparado um engenho para território israelita. Israel reconhece que o disparo não provocou prejuízos e que a sua autoria não foi reivindicada.
“É a medida punitiva mais grave tomada por Israel até hoje”, diz um professor do território contactado telefonicamente. “Receamos que esteja para acontecer uma nova escalada de violência israelita e agora a nossa asfixia é total, porque nada podemos esperar também do Egipto”.
No Cairo tem subido continuamente de tom a propaganda contra os túneis que ligam o Egipto à Faixa de Gaza, que eram as mais importantes vias de abastecimento de víveres e apoio sanitário ao território onde vivem mais de milhão e meio de pessoas em apenas 320 quilómetros quadrados.
“Os Estados Unidos e Israel não deixam respirar o governo militar de Al Sissi para que este isole ainda mais os palestinianos de Gaza”, diz um activista de um grupo de resistência contra o sistema ditatorial. “O regime de Al Sissi mandou construir uma ‘zona tampão’ entre o território do nosso país e a zona de Rafah, onde o único local de acesso a Gaza a partir do Egipto também está fechado. A partir de agora, Gaza está também bloqueada pelo Egipto e temos conhecimento de que muitas pessoas estão a abandonar Rafah temendo o pior”, informou a mesma fonte.
“Aqui em Gaza não temos dúvida de que o míssil de que Israel fala é um caso mal explicado e não passa de um pretexto para nos bloquear totalmente”, denuncia o professor contactado no território. “Se ninguém reivindicou o seu lançamento qualquer coisa soa a falso, porque os grupos da resistência em Gaza assumem sempre as suas acções. Estamos perante uma vingança sobre as populações palestinianas ainda resultante do golpe sofrido por Israel pelo facto de a Suécia ter reconhecido o Estado da Palestina”, acrescenta a fonte.
Segundo o habitante de Gaza contactado, a “mensagem de Israel ao mundo é simples: se outros países seguirem o exemplo da Suécia serão os palestinianos a sofrer tanto através da colonização, como dos bloqueios, como da guerra”.
“Nós também temos a nossa mensagem”, disse o professor. “Precisamos de mais e mais reconhecimentos de muitos países de todos os continentes; estamos dispostos a resistir para conseguir a nossa libertação. Além disso, estamos conscientes de que os países do mundo têm cada vez mais a noção de que aquilo a que Israel chama ”negociações” ou “processo de paz” não existe, é apenas uma armadilha para fazer passar o tempo até que a criação do nosso Estado seja impossível na prática”.
Segundo os responsáveis israelitas, apenas o que qualificam como “auxílio humanitário crítico” poderá entrar em Gaza. Durante a recente operação de agressão ao território, o exército israelita provocou mais de 2150 mortos, 11 mil feridos e a destruição de 15670 casas.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Segunda-feira, 04.08.14

Quando é que o mundo acorda para o Holocausto de Gaza? - Christopher Wadi, Gaza

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Christopher Wadi, Gaza   Quando é que o mundo acorda para o Holocausto de Gaza?

 

 

30 de Julho de 2014

 

   As sensações perante o que nos é dado ver nos escombros da escola de Al Hussein, no campo de refugiados palestinianos de Jabalia, deveriam ser vividas por todos e cada um dos cidadãos habitando neste planeta. Testemunharíamos globalmente a selvajaria, o desprezo pela vida dos outros, a frieza da mentira assassina a que alguns seres humanos, patrocinados pelos donos do mundo, são capazes de chegar. No meio de restos humanos misturados com destroços, o sofrimento e agonia dos feridos, a angústia de parentes, a impotência de socorristas, temos na escola de Al Hussein o retrato concentrado da chacina de Gaza. Quem pensou alguma vez que acontecimentos horrendos, exemplos da degradação humana, como os do Holocausto não se repetiriam, enganou-se.
Nascia o dia quando três disparos certeiros de artilharia israelita esventraram a escola de Al Hussein e assassinaram pelo menos 15 pessoas – é o balanço provisório até ao momento – todas elas ali refugiadas porque uma das consequências da invasão é a transformação de estabelecimentos de ensino, tornados inúteis pela situação, em locais de acolhimento. Cerca de 3300 pessoas tinham sido recebidas nestas instalações pela agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNRWA), a maioria delas já anteriormente refugiadas de outras áreas da Palestina. Além dos mortos há centenas de feridos. Não há “mares de sangue”, expressão tantas vezes usada num mundo de guerras que perdeu o seu real valor, mas há mesmo poças de sangue humano abertas entre os destroços.
“Os centros de realojamento de refugiados são alvos definidos pelos comandos israelitas”, acusou Patrick, um colaborador da UNRWA, com base na experiência vivida nos últimos dias. “Não tenho qualquer dúvida de que foi um assassínio premeditado”, insistiu. “As coordenadas da escola foram comunicadas 17 vezes ao exército de Israel desde 16 de Julho, exactamente com a advertência de que era um centro de refugiados. Afinal as coordenadas serviram para afinar a pontaria dos criminosos”, conclui Patrick.
As informações de Patrick foram confirmadas pelo próprio director da UNRWA em Gaza, Robert Turner, ao New York Times. Turner não tem dúvidas de que a escola foi atingida por fogo de artilharia israelita, por muito que, como é hábito, as autoridades agressoras prometem “investigar” o que aconteceu. “Estamos no lugar dos acontecimentos, recolhemos provas, comprovámos a trajectória dos projécteis e estamos certos de que foi um ataque israelita”, disse Turner ao jornal norte-americano.
Até ao momento, segundo a agência da ONU, são já 215 mil as pessoas que procuraram refúgio nos centros estabelecidos pela UNRWA, “todas elas vítimas potenciais do massacre, atendendo ao que está a passar-se”, afirma Patrick.
Al Hsssein não foi a primeira escola refúgio destruída pelos invasores. O bombardeamento do centro escolar de Beit Hanun, em 24 de Julho, provocou 16 mortos e mais de 200 feridos e foi seguido por disparos contra o hospital da região onde tinham sido recolhidas as vítimas. Depois de ter garantido que a tragédia foram provocada por um míssil palestiniano, a tropa israelita investigou melhor e deduziu que afinal era um engenho próprio, “mas errante”.
Durante a última noite e  madrugada as tropas israelitas assassinaram mais de 120 palestinianos; os agressores destruíram igualmente a única central eléctrica do território que ainda funcionava.
“Estamos perante a liquidação sistemática e organizada das condições de vida de uma população de mais de milhão e meio de pessoas”, afirma Salem Kelani, médico que acorre onde é necessário e que  lamenta “não ser capaz de me multiplicar por 100 e certamente não seria suficiente”. Explica que “o recurso ao assassínio em massa, ao terror de norte a sul do território, às ordens para a retirada de pessoas de numerosas regiões e à destruição de todas as infraestruturas necessárias à vida humana é uma estratégia cuja crueldade é ainda maior porque se trata de um território de onde ninguém consegue fugir. O que está por detrás disto?” – pergunta Salem Kelani. “Criar condições para que no momento em que se abra um ponto de passagem a maior parte da população não hesite em tentar escapar do Inferno numa operação que será uma nova Nakba (catástrofe) palestiniana, uma limpeza étnica de gigantesca envergadura”. Com “a comunidade internacional a assistir de camarote a uma réplica do Holocausto, como se fizesse parte da ordem natural das coisas”, acusa.
Segundo o dr. Kelani, “diz-se que Israel tem um plano para esvaziar Gaza de palestinianos, ocupar o território e colonizá-lo com israelitas. Pode haver quem não acredite”, acrescenta, “mas tudo o que está a acontecer é compatível com um objectivo como esse”.

 

Christopher Wadi, Gaza

 

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por Augusta Clara às 08:00

Sexta-feira, 25.07.14

Israel tem um plano: conquistar e reocupar Gaza - José Goulão, Christopher Wadi (Gaza), Sara A. Oliveira (Jerusalém)

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José Goulão, Christopher Wadi (Gaza), Sara A. Oliveira (Jerusalém)  Israel tem um plano: conquistar e reocupar Gaza

2014-07-25

 

 

   Fontes políticas israelitas admitem que o primeiro ministro Netanyahu está a cumprir, ponto por ponto, um plano elaborado pelo seu companheiro de partido e principal rival na direcção do Likud, o vice-presidente do Knesset (Parlamento), Moshe Feiglin. Segundo este plano, retirar o poder ao Hamas no território é apenas um ponto de um projecto que culmina na limpeza étnica da Faixa de Gaza através da conquista militar, ocupação e repovoamento por israelitas.

“Se olharmos em conjunto o plano que circula que entre os dirigentes israelitas e a operação militar que está a ser desenvolvida em Gaza ficamos sem dúvida de que ambos obedecem ao mesmo contexto, declara um general na reserva cujo repúdio pelas práticas políticas e militares do actual governo o “têm aproximado do Meretz”, uma esquerda trabalhista tradicional que apoia os Acordos de Oslo e a solução de dois Estados na Palestina.

“O que Feiglin pretende, e que não encontra qualquer oposição nos mais actuais comportamentos de Netanyahu”, diz o general, “é um dos maiores crimes da história recente da humanidade: impor a milhão e meio de pessoas a fuga para o deserto do Sinai, provavelmente com a cumplicidade do Egipto”.

Não existem actualmente dúvidas em Israel, tanto entre os círculos de poder como na fragilizada oposição, de que o primeiro ministro tornou sua a agenda da extrema direita e dos grupos fundamentalistas religiosos sionistas associada à criação do Grande Israel e à liquidação definitiva da possibilidade de criar um Estado Palestiniano na Palestina. “Aparentemente, esta operação em Gaza destinava-se a impedir o desmantelamento da coligação governamental, ameaçada pelas divergências entre Netasnyahu e o siofascista Lierberman, ministro dos Negócios Estrangeiros, mas agora não existem quaisquer dúvidas de que o chefe do governo cavalga a onda do extremismo”, analisa Judith Rosenfeld, professora israelita de ciências políticas. “Quero dizer com isto”, acrescenta, “que Netanyahu substituiu o processo gradual de colonização, uma expansão forçosamente mais lenta, pela guerra contra o Hamas matando dois coelhos de uma cajadada: impede o governo palestiniano de unidade e desmantela o maior partido palestiniano,  aquele que tende a recolher mais apoios entre os sectores jovens e mais activos da sociedade”. Judith Rosenfeld explica que “se Netanyahu tem estado a assumir o programa da extremíssima direita muito mais facilmente, por razões do seu próprio poder interno no Likud, adoptará os planos da facção Feiglin, a que mais condições tem para lhe disputar o poder, fragilizando assim a influência desta no Comité Central.”

O general na reserva “próximo do Meretz” expôs em resumo o plano de Feiglin, vice-presidente do Knesset e membro da estratégica Comissão de Negócios Estrangeiros e de Defesa: “obrigar a população das zonas mais controladas pelo Hamas a abandonar os locais; estender a operação a toda a Faixa de Gaza, sem contemplação com “escudos humanos” ou “questões ambientais e patrimoniais”; bloqueio total do território; ocupar toda a  faixa depois de neutralizados os principais centros de resistência do Hamas e tendo como única consideração evitar ao máximo a perda de soldados israelitas; aniquilação de todos os grupos armados; repovoamento de Gaza por judeus, oferta de recompensas financeiras a todos os cidadãos árabes que saiam do território, desde que não estejam implicados em actos de resistência; os que ficarem, “após alguns anos poderão receber a cidadania israelita desde que aceitem a nova soberania”.

O general sublinha que, “sem qualquer dúvida, os primeiros pontos estão em curso na operação Barreira de Protecção: observe-se que nem hospitais, nem escolas, nem residências são poupados, como a operação se estende a todo o território, apesar do objectivo proclamado de destruir os túneis, e como as populações de muitas zonas têm sido ‘aconselhadas’ a abandoná-las tanto através de lançamento de panfletos, ameaças de drones ou bombardeamentos directos”.

O Sinai, território sob administração egípcia, seria o principal destino dos refugiados de Gaza, de acordo com os projectos dos dirigentes israelitas, o que implicaria “cumplicidade do regime egípcio”, diz a professora Judith Rosenfeld. Fala-se igualmente na Jordânia, que nos círculos de poder de Netanyahu é encarada como a futura “Palestina Oriental”. “Perante estes factos vem-me à memória uma declaração do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, Abdul Gheit, que atribui o derrube de Mubarak, em 2011, ao facto de se ter recusado permitir a imigração dos cidadãos de Gaza para o Sinai”, recorda o jornalista egípcio Hashem Sharabi, em serviço no território. “Foram os americanos que fizeram o pedido a Mubarak e não lhe perdoaram tê-lo recusado”, acrescenta.   Depois dos assassínios em massa na região de Shezhaia, na periferia da cidade de Gaza, e no piso de cuidados intensivos e das salas de cirurgia do hospital de Deir Balah, as tropas israelitas abateram sexta-feira pelo menos 16 pessoas ao destruírem a escola primária de Beit Hanun, no norte da faixa, portanto na extremidade oposta à da localização dos túneis.

“Era uma das escolas que tínhamos adaptado para acolher algumas das 100 mil pessoas que ficaram desalojadas desde o início da operação”, explica um funcionário sobrevivente da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), que não escondia a indignação. “Aquilo não é um exército, isto não é uma guerra, estamos perante um bando organizado de assassinos e uma matança de inocentes”, testemunha.

A UNRWA está a utilizar cerca de 100 escolas do território como alojamento provisório das pessoas que continuam a ser sistematicamente expulsas das suas casas, muitas das quais já destruídas, por supostamente viverem em zonas onde o Hamas tem estruturas militares. O bombardeamento da escola provocou 16 mortos e mais de 200 feridos, sobretudo mulheres, crianças e trabalhadores da UNRWA. Houve famílias que perderam seis dos seus membros. Estes números foram divulgados pelo próprio secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que anunciou o encerramento da escola e continua a solicitar “contenção” a Israel durante a operação.

O modo como a escola foi destruída corresponde ao conteúdo do plano Feiglin, que recomenda que não haja contemplações perante escolas, hospitais, edifícios religiosos e habitações desde que o exército os considere a funcionar como “escudos humanos”.

Autoridades de Israel, tal como acontece regularmente desde o fuzilamento de quatro crianças que jogavam futebol numa praia de Gaza, anunciaram a instauração de mais um inquérito, mas ainda antes de se iniciarem os procedimentos atribuíram a tragédia a um míssil do Hamas que “caiu pelo caminho” antes de atigir Israel. Logo a seguir a dedução foi alterada: tratou-se afinal de uma “resposta” do exército a um míssil lançado das imediações da escola da ONU.

“Muitas das pessoas que estavam alojadas na escola refugiaram-se no hospital de Beit Hanun, mas ignora-se quanto mais tempo ali permanecerão com vida. Logo a seguir, um disparo feito pelos invasores provocou uma explosão a 50 metros da entrada do hospital, lançando o pânico em todas as instalações. O número de mortos provocados pela agressão israelita subiu para mais de 800, cerca de um quarto dos quais são crianças.

Israel perdeu 32 soldados – quatro dos quais vítimas de “fogo amigo” – quatro vezes mais do que os registados em 2008 na operação “Chumbo Fundido”.

“Estando ainda, por certo, longe do fim, estas perdas são um elevado preço para os padrões israelitas”, sublinha a professora Judith Rosenfeld. “Isto significa que a operação tem uma importância estratégica que não está a ser explicada em todas as suas dimensões ao povo israelita”, acrescenta. Isto “leva-nos a temer”, sublinha a professora, “que o plano Feiglin seja a verdadeira cartilha de Netanyahu nesta guerra”.

José Goulão, Christopher Wadi, Gaza, Sara A. Oliveira, Jerusalém

 

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por Augusta Clara às 23:00



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