Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Delícias são tudo o que nos faz felizes: um livro, a magia dum poema ou duma música, as cores duma paleta ... No jardim o sol não raia sempre mas pulsa a vida, premente.
Augusta Clara de Matos O QUE EU QUERIA VER (E DEVIA SER) DISCUTIDO NA CAMPANHA PARA AS ELEIÇÕES EUROPEIAS (independentemente das questões económicas e financeiras de que toda a gente fala)
- O combate intenso e coordenado ao avanço da extrema-direita na Europa e uma campanha de esclarecimento às populações sobre as consequências do retorno de governos fascistas;
- A expulsão da União de países onde se instalem governos com políticas e práticas fascistas e que permitam a livre expressão de grupos que defendem a ideologia nazi e cometem crimes com base nesta ideologia;
- O acolhimento e integração de refugiados e suas famílias como cidadãos europeus de iguais direitos, desmontando a ideia ainda reinante em muitas cabeças de que são todos terroristas;
- O fim da venda de armas por países da EU a países, grupos e coligações que as têm utilizado para destruir países através de guerras que tiveram unicamente como fim roubar-lhes as matérias primas, sabendo nós que foram essas guerras a origem da fuga em massa dos seus habitantes em direcção à Europa nas trágicas condições que levaram a milhares de afogamentos;
- A uniformização de leis em todo o espaço da UE que penalizem sem condescendência a corrupção e as grandes fraudes financeiras que enfraquecem e deterioram a economia dos países;
- Como consequência do afirmado no parágrafo anterior, a luta por uma Justiça igual para todos os cidadãos e não diferenciada entre os que têm dinheiro para se defender e os outros;
- O combate sério e generalizado a todo o tipo de descriminação com base na opção sexual, política, de credo religioso ou outra;
- Exigência da protecção dos mais frágeis como as crianças, os deficientes e os idosos;
- Combate à violência doméstica e, especificamente, que seja dada maior atenção à violência contra as mulheres que tem assumido contornos escabrosos em vários países europeus;
- Acérrima exigência pela liberdade de opinião e de expressão.
Créditos / Agência Lusa
E a verdade chegou pelo rosto e pela voz que não encobrem as normas escabrosas regedoras do mundo, aplicadas por estruturas dominantes sem princípios nem valores, mesquinhas, desumanas, xenófobas, hipócritas. No seu discurso boçal, mas franco, Donald Trump disse que o rei ia nu, isto é, proclamou o que toda a gente sabia mas nenhum dos seus parceiros ousava admitir: não há lugar para a solução de dois Estados na Palestina. Ou seja, nega-se ao povo palestiniano o direito ao seu Estado. É uma cruel ignomínia; mas também é, por ora, a realidade dos factos.
Milhões de dedos escandalizados espetaram-se na figura odienta do novo presidente dos Estados Unidos da América, autor de uma blasfémia contra o direito internacional e, sobretudo, inquietador das boas consciências dos chefes da ONU, da União Europeia, de todos os «quartetos para a paz» feitos e desfeitos, de quantos se contentam em garantir a criação de dois Estados na Palestina enquanto o único existente, protegido a qualquer preço pelos poderes dominantes – vai engolindo palmo-a-palmo, traulitada-a-traulitada, todo o pedaço de terra onde deveria nascer o outro.
Avaliando, sem rodeios nem sob o efeito de melífluas declarações diplomáticas, a situação no Médio Oriente, apenas pode concluir-se que a solução de dois Estados na Palestina fracassou há muito. Terá morrido até à nascença, há 70 anos, quando as Nações Unidas, na vetusta e incumprida resolução 181, de 27 de Novembro de 1947, aprovaram o plano de partilha da Palestina, então sob mandato britânico.
Talvez seja este, afinal, o histórico, magno e escandaloso alcance da polémica proclamação de Trump. Apenas recordou e reafirmou as exigências impostas, em seu tempo, pelos Rockfellers, Rostchilds e quejandos, permanentemente lembradas ao complexo militar, industrial e tecnológico dos Estados Unidos pelos todo-poderosos lobbies judaicos.
O óbito da solução de dois Estados não foi declarado só agora. A resolução da ONU estabelecendo a partilha da Palestina foi logo sabotada pelo recém-nascido Estado de Israel, quando iniciou a limpeza étnica das populações árabes, a rapina dos seus bens, a destruição dos seus lares, vilas, aldeias e propriedades; prosseguiu com as deportações e anexações contínuas, as guerras de 1968, 1973, 1982, 1986, 1996...
A possibilidade de existência de um Estado Palestiniano ressurgiu vagamente com os acordos Rabin-Arafat de 1993, logo desmantelada pelo assassínio do então primeiro-ministro israelita e pela sequente sabotagem das negociações de paz por Peres, Sharon, Netanyahu, os beneficiários políticos da liquidação de Isaac Rabin por um criminoso saído das suas fileiras.
«A arrastada coexistência de falsas negociações com a colonização israelita da Cisjordânia, sempre em crescendo, e o sangrento desmantelamento de Gaza, inviabiliza, de facto, a existência de um Estado independente que tenha condições para sobreviver.»
A arrastada coexistência de falsas negociações com a colonização israelita da Cisjordânia, sempre em crescendo, e o sangrento desmantelamento de Gaza, inviabiliza, de facto, a existência de um Estado independente que tenha condições para sobreviver. Resta o gueto dito «autónomo» de Ramallah, preso nas suas próprias malhas, submetido ao ocupante sionista, mergulhado nos vícios da pequena e baixa política, joguete de interesses de uma aliança espúria entre o Estado segregacionista de Israel, agora plenamente racista e fascizante, e as petroditaduras do Golfo, com a Arábia Saudita à cabeça.
A tudo isto o mundo assistiu nos últimos 25 anos, repetindo a ladainha dos dois Estados como um mantra – enquanto Israel prosseguia tranquilamente a colonização/ocupação, acusando os palestinianos de se recusarem a negociar por contestarem as ininterruptas invasões dos destacamentos de assalto colonizadores.
A opinião pública deixou-se embalar nesta espécie de determinismo dos dois Estados, crente de que um dia qualquer veria nascer um Estado Palestiniano, espécie de sucedâneo dos milagres criadores de Bósnias, Kosovos, Sudões do Sul, Somalilândias; até que Trump estilhaçou o limbo com a crueza da verdade repelente: não há – nem nunca houve – ideia de cumprir a promessa da existência de dois Estados na Palestina.
A União Europeia, a ONU, as famílias Bush e Clinton, o próprio Obama sobem então ao palco exibindo consciências virginais, clamando contra o maléfico atrevimento do novo presidente norte-americano. Contudo, eles sabem como ninguém do que fala Trump.
Com eles esfumou-se a possível criação de um Estado palestiniano, porque cobriram, toleraram e encorajaram sempre a estratégia dilatória e as práticas criminosas de Israel. E a Obama, que se ufana de ter permitido a primeira resolução do Conselho de Segurança contra a colonização, há que recordar que o fez com oito anos de atraso. O ex-presidente sabia perfeitamente que qualquer dos seus sucessores – fosse Hillary Clinton ou Trump – inverteria tal posição, assumida já em fase de transição de mandato.
A proclamação sionista de Donald Trump tem ainda um outro significado, que não pode ficar soterrado nos escombros dos inflamados, hipócritas e inócuos protestos da chamada «comunidade internacional». O seu tom e conteúdo provam que o actual presidente norte-americano não surge do exterior do establishment e à margem do complexo militar, industrial e tecnológico que domina o sistema de poder federal e imperial.
Trump é o homem escolhido para o actual momento de crise e contradições da desordem capitalista neoliberal. As proclamações trovejantes por ele proferidas, em sintonia com as vontades da teia financeira, económica e política dos lobbies judaicos, confirmam-no – caso houvesse dúvidas.
Trump é a verdadeira imagem da América e do capitalismo de hoje.
José Goulão O caso bárbaro de Mohamed Suleiman
Mundo Cão, 8 de Dezembro de 2015
Poucos conhecerão as notícias abjectas sobre Mohamed Suleiman nestas horas em que tanto se fala de terrorismo, barbárie e selvajaria como contraponto à nossa superioridade civilizacional plena de virtudes e bênçãos divinas, provenham elas de entidades supremas ou dos não menos supremos mercados.
Não, Mohamed Suleiman não é nenhum dos bandidos armados que praticaram as chacinas de Paris ou Madrid ou Nova Iorque, ou decapitaram um qualquer “cidadão ocidental”; estes são os verdadeiros terroristas, assim definidos pelos lugares onde actuam e as vítimas que provocam, mas de que ninguém ouviria falar entre nós caso se ficassem pelos massacres simultâneos de centenas de sírios e iraquianos, previamente forçados a cavaram as valas comuns para nelas partirem em busca da eternidade, porque isso era assunto lá entre eles, entre bárbaros, que não encaixa nos padrões exigentes e ilustrados de direitos humanos.
Mohamed Suleiman tem 15 anos, é um adolescente palestiniano de Hares, perto de Nablus, na Cisjordânia, detido numa masmorra israelita desde os 13 anos por “atirar pedras”, pecado gravíssimo porque cometido numa estrada reservada a colonos – a designação verdadeira, ocupantes, é politicamente incorrecta – exemplo das obras públicas israelitas que institucionalizam um civilizado regime de apartheid um quarto de século depois de o apartheid original ter sido extinto.
As autoridades israelitas foram buscar Mohamed Suleiman a casa há dois anos, não havendo qualquer flagrante a invocar, e mantiveram-no na cadeia até completar 15 anos. Torturaram-no, juntamente com mais quatro jovens, até confessarem o crime de “atirar pedras” e agora, que já tem idade para ser “julgado”, um tribunal militar israelita condenou-o a 15 anos de prisão por “25 tentativas de assassínio”, judiciosa versão da acusação original baseada no arremesso de calhaus; mas se a família não conseguir pagar uma multa de sete mil euros até 26 de Janeiro a pena transforma-se automaticamente em prisão perpétua. Como os parentes do garoto não têm esse dinheiro – vivem sob ocupação numa terra submetida à violência sádica e fundamentalista dos colonos, espoliados de todos os meios de sobrevivência pelo Estado de Israel - Mohamed Suleiman corre o sério risco de passar o resto dos seus dias que vão para lá dos 15 anos, idade dos sonhos para os adolescentes livres, numa masmorra às ordens dos civilizados esbirros ocupantes.
Esta é a história de Mohamed Suleiman. Ela não corre nos nossos tão informados telejornais, nos nossos periódicos ditos de referência, nas nossas rádios inundadas de cachas, apesar de tais meios não descansarem um segundo na denúncia do terrorismo, do terrorismo mau, pois claro, mas onde deveria caber, por simples misericórdia, um cantinho para Mohamed Suleiman, ao que parece insuspeito de ser do Estado Islâmico ou da Al-Qaida, cujos mercenários às vezes podem ser terroristas, outras nem tanto, depende.
Tão pouco a ONU, a UNICEF, a omnipresente e justiceira NATO, a democratíssima e vigilante União Europeia, tantos observatórios e organizações não-governamentais parecem conhecer a barbárie terrorista de que é vítima Mohamed Suleiman e os seus companheiros. Já me esquecia das boas razões para tal alheamento: Israel, tal como esse farol da democracia que é a Arábia Saudita e também a fraternal Turquia, agora às portas da União Europeia desde que sirva de tampão à entrada de refugiados na Europa, enquanto nutre bandos terroristas, são exemplos brilhantes de civilização e de respeito pelos direitos humanos. Os amigos e aliados jamais praticam terrorismo, tratam da nossa “segurança”.
O caso de que são vítimas Mohamed Suleiman e os cinco de Hares é um exemplo de terrorismo puro e duro, sem adjectivação porque o terrorismo é um fenómeno único, não existem terroristas bons ou maus, civilizados ou bárbaros. Mas esta é uma tese vinda dos bas-fonds da teoria da conspiração, não conta para a vida nos nossos dias.
Ainda sobram no mundo, porém, algumas organizações solidárias que, enquanto denunciam esta aberração selvática, procuram, para já, ajudar a reunir os sete mil euros necessários para tentar travar, no mínimo, a perpetuidade da prisão do jovem.
Quanto ao resto, a história de Mohamed Suleiman e tantas outras histórias que preenchem o quotidiano trágico de Jerusalém Leste, Cisjordânia e Gaza, as histórias de degredos, demolição de casas, assassínios selectivos, escolas e hospitais arrasados, asfixia económica, privação de água e energia, checkpoints e rusgas arbitrárias, muros e outras formas de segregação física e psicológica, mais não é do que exposição da hipocrisia terrorista pela qual se guia a chamada “comunidade internacional”.
Agora que a bandeira da Palestina, Estado fantasma, ondula junto ao palácio de vidro da ONU as boas consciências dos nossos civilizados e democráticos dirigentes sentem-se apaziguadas. Casos escabrosos de terrorismo como o de Mohamed Suleiman poderia, é certo, mascarar essa “paz” tão laboriosamente aparentada, mas que não haja problema: varre-se para o fundo dos tapetes da diplomacia e do desconhecimento, com a prestimosa colaboração do amestrado aparelho de propaganda.
Em Gaza a vida morre a todos as horas Em Gaza as horas não contam a vida Em Gaza todas as horas contam a morte Em Gaza todas as horas são horas da morte Em Gaza a vida está pelas horas da morte Em Gaza não há vida que não enfrente as horas da morte Em Gaza a morte não tem horas Em Gaza a morte não é natural Em Gaza a morte não é natureza Em Gaza a morte é intemporal Em Gaza a morte é artificial Em Gaza a morte é certeza
Em Gaza a morte vem de tanques e aviões Em Gaza a morte está na farda dos soldados Em Gaza a morte está nos corações Em Gaza a morte está no medo Em Gaza a morte está nas prisões Em Gaza a morte está no horizonte Em Gaza a morte está à porta Em Gaza a morte vem de noite Em Gaza a morte vem de dia Em Gaza o sol não nasce Em Gaza o sol nasce sombra e frio Em Gaza o sol é uma criança a chorar Em Gaza o sol é uma criança a morrer
Em Gaza não há luar Em Gaza a lua é de chumbo Em Gaza não há tempo de sentir Em Gaza não há forma de fugir Em Gaza não há tempo de ficar Em Gaza só há tempo de morrer Em Gaza as estrelas não cintilam Em Gaza as estrelas tremem Em Gaza não há vento Em Gaza o vento é das balas Em Gaza não há sonhos Em Gaza não há crianças Em Gaza os sonhos são escolas Em Gaza as escolas e as crianças são alvos da morte Em Gaza a morte ceifa as crianças e os pais e os avós das crianças Em Gaza a morte arrasa Em Gaza a morte arrasa escolas e hospitais Em Gaza a morte vem do inferno Em Gaza a morte é tempestade Em Gaza a morte é sôfrega Em Gaza a morte é maciça Em Gaza a morte é poderosa Em Gaza a morte é moderna Em Gaza a morte é digital Em Gaza a morte é matemática Em Gaza a morte é de rajada Em Gaza a morte é fulminante Em Gaza a morte despedaça Em Gaza a morte é devastadora Em Gaza a morte é uma desgraça Em Gaza a morte são rios de sangue Em Gaza a morte vem do céu Em Gaza a morte não vem por ordem do céu Em Gaza a morte vem do inferno Em Gaza a morte vem do outro lado Em Gaza a morte vem do lado de lá do muro Em Gaza a morte vem do povo eleito.
José Goulão Uma bandeira virtual
Mundo Cão, 13 de Setembro de 2015
A ONU vai hastear a bandeira da Palestina entre as dos membros da organização em frente ao palácio de vídeo em Nova Iorque, por decisão da Assembleia Geral. Acontecimento histórico, dizem uns; decisão tardia, argumentam outros; movimento simbólico, asseguram uns tantos; faz-se justiça, consideram mais alguns.
A verdade é que todos e nenhum têm razão. A iniciativa é tudo isso, histórica, tardia, simbólica, justa, mas nada altera. A decisão da Assembleia Geral, como muitas aprovadas por este órgão que deveria representar a vontade dos povos do mundo, é ineficaz – mais do que isso, inútil.
Será importante, sem dúvida, para os palestinianos e todos os que com eles se solidarizam na luta pelos seus inalienáveis direitos, ver a bandeira da Palestina reflectida nos vidros do palácio que deveria representar o respeito pela vontade e os direitos de todos os cidadãos da Terra. Mais importante seria, porém, que a presença dessa bandeira correspondesse à concretização absoluta e sem ambiguidades de um Estado da Palestina - um Estado viável, é claro - um conceito que a ONU aprovou há 77 anos em decisão inscrita no direito internacional e a cujo cumprimento se tem furtado durante as quase oito décadas transcorridas.
Os palestinianos revêem-se, orgulhosos, nessa bandeira. Acreditam que talvez a nova realidade, simbólica e formal, possa acelerar a instauração do Estado viável que lhes é devido pela chamada comunidade internacional, mas isso não determina que alguma coisa mude. A bandeira é virtual e tudo indica que continue a sê-lo por muitos e maus tempos.
Porque a ONU é uma farsa. Quase sempre o foi, mas o quadro tem-se degradado para patamares inconcebíveis, sobretudo desde que há um quarto de século acabou a bipolaridade como sistema não convencionado, mas real, de funcionamento das coisas internacionais.
Observando como este caso da bandeira da Palestina simboliza a degeneração da ONU em relação aos seus princípios fundadores avulta, desde logo, o facto de a Assembleia Geral, o órgão de estatuto mais democrático da instituição, não mandar nada. Vota e pronto; depois nada acontece, porque os países supostamente mais democratas de todos – a democracia da força em vez da força da democracia -, os membros permanentes do Conselho de Segurança, que se barricam atrás de normas por si estabelecidas para proveito próprio, mandam e desmandam em tudo o que acontece ou há-de acontecer no mundo.
Assim sucede, uma vez mais, por detrás da decisão sobre a bandeira da Palestina. Os Estados Unidos da América votaram contra – enquanto dizem que são a favor de um Estado da Palestina, ironia das ironias – porque para que tal aconteça é preciso levar a bom porto o “processo de paz” que eles e o seu “inseparável aliado” Israel patrocinam e ao mesmo tempo sabotam. Um processo de paz cuja invocação é caricata, mas cujo conceito serve para que se vá consumando a ocupação israelita de toda a Palestina, invalidando a criação do tal Estado – viável, repete-se, porque nenhuma outra coisa será admissível, muito menos uma caricatura - cuja bandeira virtual irá agora ondular em frente à sede da ONU. Anoto que o governo português se absteve nesta matéria, isto é, tomou a posição dos cobardes num assunto com tal gravidade, como quem se refugia num canto para não incomodar seus amos: a Alemanha, que também se absteve; e os Estados Unidos, que chefiam os anglo-saxónicos e seus apêndices secundando a sanha terrorista de Israel.
Pela ordem natural – e aberrante – das coisas, quando a bandeira da Palestina for hasteada em Manhattan o povo de Gaza continuará a tentar sobreviver no campo de concentração em que o território foi transformado pelo regime de Israel, com beneplácito das principais potências da ONU; o muro que confina o povo da Palestina a bantustões miseráveis, isolados, verdadeiros campos de morte lenta, estará ainda mais sólido e longo; milhares de palestinianos continuarão a penar nas prisões israelitas, vítimas de actos arbitrários e cruéis que violam quaisquer compêndios de direito, mesmo os coligidos pelos mais sórdidos regimes; os colonatos sionistas estarão, ainda e sempre, absorvendo metro a metro o território da Palestina, numa ocupação para já irreversível que desmonta qualquer “processo de paz”; uma nova cerca ou muro já em construção – estão na moda – tornará estanque a transição de seres humanos entre a Palestina ocupada e a Jordânia; os militares israelitas continuarão a fazer o que muito bem lhes apetece contra os indefesos palestinianos; as deportações prosseguirão. A Nakba, a catástrofe do povo da Palestina, segue o seu caminho sinistro.
Uma bandeira, por muito orgulhosa e legítima que seja, não elimina nada disto. Porque tudo isto faz dela uma bandeira justa e insubstituível, mas ainda virtual.
http://www.jornalistassemfronteiras.com/index.php
Sara A. Oliveira, Jerusalém Governo israelita avança na anexação da Cisjordânia
A colonização e o seu muro
11 de Novembro de 2014
O gabinete restrito do governo de Israel aprovou uma lei que estende a aplicação de todas as novas leis israelitas aos colonatos de Jerusalém Leste e da Cisjordânia, decisão que é mais um passo para a anexação de facto desses territórios e viola o direito internacional, nomeadamente através das Convenções de Genebra.
Quatro dos dez membros do gabinete votaram contra, mas impôs-se o peso de decisão da aliança entre Benjamin Netanyahu, a extrema direita racista e o fundamentalismo religioso. A ministra da Justiça, Tzipi Livni, que chefiou a delegação israelita a conversações com os palestinianos, afirmou que apelará contra a decisão. Segundo a ministra, “a decisão pretende tornar normal uma situação anormal através de uma mascarada de direitos civis”.
Nos termos da decisão do gabinete, qualquer lei que seja aprovada pelo Knesset, o Parlamento israelita, será transformada ipsis litris numa directiva militar para ser aplicada nos colonatos num prazo máximo de 45 dias.
“Esta norma é uma consequência natural de tudo quanto tem vindo a ser permitido ao governo israelita em termos de violação do direito internacional”, comentou o jurista Amos Rubinstein. “O mundo inteiro sabe, tal como sabe o maior aliado de Israel, os Estados Unidos da América”, acrescentou Rubinstein, “que sobretudo o actual governo israelita não descansa um momento no processo de anexação dos territórios através da colonização, do roubo de terras e da destruição de casas, árvores e colheitas dos palestinianos. Por muito menos há países que sofrem pesadas sanções impostas pelos Estados Unidos da América e a União Europei”.
Amos Rubinstein recordou a existência de relatórios comprovando que o governo israelita ordenou a construção de 14 mil residências em colonatos durante as conversações com os palestinianos “e continua a confiscar hectare atrás de hectare da Cisjordânia sob pretextos militares e os que lhe aprouver. O objectivo está à vista de toda a gente, mas os principais dirigentes mundiais fingem que não é nada: liquidar a criação de um Estado Palestiniano por não haver territórios onde instalá-lo. Continuar a falar na ‘solução de dois Estados’ começa a ser um exercício de hipocrisia”, denunciou o jurista israelita.
Sara A. Oliveira, Jerusalém
Robert Fisk A mais nova provocação de Israel
Após arrasar Gaza, Telaviv quer construir colônia gigante de ocupação na Cisjordânia, desalojando palestinos e violando Direito internacional
(tradução do The Independent feita por Vila Vudu)
OutrasPalavras, 2 de Setembro de 2014
Visão de mundo? Israel rouba terras, os palestinos são roubados. Não há outra coisa para ver.
E assim mais uma fatia da terra palestina escorregou pelo ralo. Mais uns mil acres de terra palestina roubada pelo governo de Israel – porque… “apropriação” é roubo, não é? – e o mundo já apareceu com as desculpas de sempre.
Os norte-americanos acharam o roubo “contraproducente” para a paz, o que é reação bastante amena, se se considera o que os EUA diriam/fariam se o México roubasse 1.000 acres de terra do Texas e resolvesse construir casas ali para imigrantes mexicanos ilegais nos EUA.
Mas, não. Foi na ‘Palestina’ (país inexistente, daí as aspas simples). E Israel conseguiu safar-se, terras roubadas e tudo, embora o roubo alcance agora escala inusitada – foi a maior quantidade de roubo de terra em 30 anos, desde que foi assinado o Acordo de Oslo em 1993.
O aperto de mão Rabin-Arafat, as promessas e trocas de territórios e retiradas militares, e a determinação de deixar tudo de importante (Jerusalém, refugiados, o direito de retorno) para o fim, até que todos confiassem tanto uns nos outros que a coisa seria facílima… não surpreende que o mundo tenha feito descer sobre os dois sua generosidade financeira.
Mas esse mais recente roubo de terra não apenas reduz a “Palestina”: também mantém o círculo de concreto armado em torno de Jerusalém, para manter os palestinos bem distantes, tanto da capital que se espera que eles partilhem com israelenses, como de Belém.
Foi instrutivo saber que o conselho Etzion israelense-judeu considerou o roubo como castigo pelo assassinato de três adolescentes israelenses em junho. “O objetivo dos assassinatos dos três jovens foi semear o medo entre nós, interromper nossa vida diária e pôr em dúvida nosso direito [sic] à terra” – anunciou o conselho Etzion. “Nossa resposta é reforçar a colônia”.
Deve ser a primeira vez que alguém ‘adquiriu’ terras na “Palestina” sem usar desculpas sobre segurança ou direitos de nascimento – ou por decisão-autorização direta de Deus. Dessa vez, o motivo para roubar terra palestina foi declaradamente vingança. Assim se cria interessante precedente.
Se a vida de um israelense inocente – cruelmente ceifada – vale cerca de 330 acres de terra, a vida de um palestino inocente – também cruelmente ceifada – vale a mesma porção de terra.
E se metade, que seja, dos 2.200 palestinos mortos em Gaza mês passado – e esse é número conservador – fossem inocentes, nesse caso os palestinos hoje teriam direito assegurado a 330 mil acres de terra israelense; na realidade, muito mais. Mas por mais “contraproducente” que essa conta seja, com certeza os EUA não aprovariam. Israel rouba terra, palestinos perdem terra; é assim que funciona. É assim desde 1948, e assim continuará.
Jamais existirá ‘Palestina’ alguma, e o mais recente roubo de terra palestina é apenas mais um ponto acrescentado no livro dos padecimentos que os palestinos têm de ler, enquanto seus sonhos de terem estado seu se vão diluindo. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do ‘presidente’ palestino Mahmoud Abbas, disse que o chefe dele e as forças moderadas na Palestina haviam sido “apunhalados pelas costas” pela decisão dos israelenses, o que é dizer pouco, praticamente nada. Abbas tem as costas completamente apunhaladas, de cima a baixo. E esperava o quê, da vida, quando escreveu um livro sobre as relações palestinos-israelenses no qual não escreveu nem uma única vez, uma, que fosse, a palavra “ocupação”?
O que significa que voltamos ao velho joguinho. Abbas não pode negociar com ninguém a menos que fale pelo Hamás, tanto quanto pela Autoridade Palestina. Como Israel sabe. Como os EUA sabem. Como a União Europeia sabe. Mas cada vez que Abbas tenta construir governo de unidade nacional, todos nós nos pomos a guinchar que o Hamás é organização “terrorista”.
E Israel argumenta que não pode conversar com uma organização “terrorista” que exige a destruição de Israel – por mais que Israel costumasse conversar muito com Arafat e, naqueles dias, tenha ajudado o Hamás a construir mais mesquitas em Gaza e na Cisjordânia, para servirem como contrapeso ao Fatah e a todos os outros então “terroristas” lá de Beirute.
Claro, se Abbas fala só por ele mesmo, Israel então diz o que já disse: que se Abbas não fala por Gaza, Israel não tem com quem negociar. Mas… isso realmente ainda interessa? Todas as manchetes do mundo, sobre esse assunto, deveriam exibir uma tarja de luto: “Adeus, Palestina”.
Ilan Pappe Israeli Myths & Propaganda
O Professor israelita Ilan Pappe revela a verdade sobre a guerra Israelo-Árabe de 1948 e a limpeza étnica da Palestina
Uma reportagem filmada da BBC que mostra, de forma mais completa, o estado da destruição que se seguiu ao massacre de Gaza pelo exército fascista de Israel, seguida da entrevista feita a um oficial israelita que comandou crimes de guerra que ali tiveram lugar.
Isto é auto-defesa? É admissível esta ocupação e esta barbárie?! Não! Israel tem de ser julgado por crimes de guerra e crimes ontra a humanidade.
Aconselho que vejam em écran pleno.
Peço desculpa pela não tradução mas foi completamente impossível fazê-la. Como se trata de documentos importantes, decidi publicá-los mesmo assim.
http://www.bbc.com/news/world-middle-east-29074260?post_id=100004800092586_343591509144183
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Porto é melhor que Benfica, isto é uma prova clara
Magnífica verdade,"[...] que viver dos outros impl...
Obrigada! Texto maravilhoso a ler e reler! Desde p...
Muito interessante este texto do Raul Brandão. Que...
Desculpe, mas isto é demasiado grande para ser o c...