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Jardim das Delícias


Sábado, 05.05.18

Os enigmas da Coreia - José Goulão

 

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José Goulão  Os enigmas da Coreia

 

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abrilabril, Sexta, 4 de Maio de 2018

 

A concretização das intenções manifestadas na Declaração de Panmunjom, implica a independência da Península da Coreia, a desnuclearização do território e a retirada das forças militares estrangeiras.

 

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Coreano-americanos manifestaram-se em diversas cidades americanas contra as ameaças dos EUA e pela paz na Coreia, por ocasião do 72.º aniversário da libertação do jugo colonial japonês, em 14 de Agosto de 2017. CréditosFonte: Zoom in Korea

 

  O comunicado conjunto assinado em 27 de Abril último pelos presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte ainda está fresco mas, como é inevitável para que se cumpram as normas mistificadoras inerentes às mensagens com imprimatur, iniciaram-se as operações interpretativas do texto de modo a que, no limite, ele diga o que não diz e vice-versa.

A deterioração do conteúdo do documento, porém, não é da responsabilidade exclusiva dos agentes de propaganda; estes reflectem, em grande parte, a teia de manobras diplomáticas «correctivas» imediatamente suscitadas pelo texto, onde se misturam imposições, falsificações, oportunismo e má-fé, instrumentos fundamentais para quem gere as coisas do mundo de hoje.

Os coreanos anseiam pela Paz – a Norte ou a Sul do Paralelo 38

A declaração dos dois presidentes e a correspondente aproximação bilateral – a mais significativa em 65 anos de estado de guerra – assenta em bases genuínas, porque traduz os anseios pacifistas e unificadores da esmagadora maioria dos 80 milhões de coreanos. A Coreia é uma nação única no território da península e a divisão em dois Estados, ao contrário do que tanto se diz e escreve, revelando deplorável ignorância, não é um simples produto da guerra fria mas também o resultado de um conflito sangrento – aliás a primeira situação em que as Nações Unidas cobriram com a sua bandeira uma operação militar norte-americana, então para aplicação da «doutrina Truman» – em «defesa dos povos livres do mundo». Truman foi, aliás, um presidente tão recomendável como o que está na Casa Branca, como se percebe relendo algumas das suas frases lapidares: «Deus está do lado da América no que diz respeito às armas nucleares»; por isso, «agradecemos a Deus o facto de as armas nucleares serem nossas e não dos nossos inimigos»; com elas, «Deus pode guiar-nos nos seus caminhos e objectivos».

É fundamental recordar que a agressão internacional contra a Coreia provocou a morte de 30 por cento da população do norte da península, um massacre para o qual a chamada comunidade internacional jamais encarou a possibilidade de estabelecer reparações ou punir «os crimes de guerra». Lembrar essa realidade é uma circunstância que ajuda a perceber melhor, e agora mais do que nunca, as reacções obscurantistas e intriguistas ao objectivo de «desarmamento faseado» da península, «ao ritmo do alívio das tensões militares e dos progressos substanciais das medidas de confiança», definido pelos dois presidentes na cimeira de 27 de Abril. E também permite entender o indisfarçado mal-estar em Washington perante formulações como a construção de «um futuro de prosperidade mútua e unificação, conduzido pelos coreanos».

«a agressão internacional contra a Coreia provocou a morte de 30 por cento da população do norte da península»

As reacções gerais à cimeira entre Kim Jong-un e Moon Jae-in que actualmente se vão sedimentando, depois de ultrapassado o período em que se desgastou um pouco mais o estafado adjectivo «histórico», confirmam que os presidentes das Coreias do Norte e do Sul foram mais longe do que se esperava. Quando as atenções estavam concentradas, principalmente, numa cimeira entre o dirigente da Coreia do Norte e o presidente dos Estados Unidos, prevista para Junho mas ainda de realização duvidosa, eis que a iniciativa intercoreana subverteu a agenda diplomática e mediática, e logo por razões que não deixam dúvidas quanto à intencionalidade dos responsáveis.

A origem de toda a movimentação que veio atenuar um risco de confrontação prolongado durante meses foi o anúncio, pela Coreia do Norte, de que está disposta a suspender os ensaios com armas nucleares como ponto de partida para o restabelecimento de negociações sobre a paz na Península.

A importância da proposta tornou-se ainda mais relevante depois da reunião de Março entre Kim Jong-un e o presidente da China, Xi Jinping, cuja realização só foi tornada pública depois de ter sido concluída com êxito para ambas as partes, e na qual Pequim terá manifestado consonância com o pensamento estratégico do dirigente norte-coreano.

Se o movimento de aproximação de Kim Jong-un  colocou na ordem do dia a possibilidade de um encontro com Trump – depois de ambos se terem confrontado num prolongado, assustador e irresponsável duelo de ameaças – o regime de Seul respondeu de maneira ainda mais decidida e criou espaço para uma cimeira coreana. É inegável que houve desenvolvimentos paralelos e a velocidades diferentes.

Apesar de o acontecimento mais mediatizado ter sido o da visita a Pyongyang do então chefe da CIA e hoje secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, tudo indica que o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in não cedeu toda a representatividade ao enviado de Washington e reservou para si alguma margem de manobra e canais de acesso directo a Kim Jong-un.

Os inimigos da paz na Coreia devem procurar-se fora da península

Os dois dirigentes coreanos criaram, deste modo, um espaço de diálogo nacional. E quando duas partes se entendem, não necessitam de mediadores; três passam a ser de mais, sobretudo quando o participante excedentário tutela um dos lados. O novo cenário, surgindo contra a ordem dominante na região, está a criar choques e fricções dentro da Administração Trump – em remodelação permanente – mas é visto com bons olhos por fiéis aliados de Washington, um dado que pode funcionar como reforço dos sintomas de isolamento norte-americano em relação a alguns focos internacionais. A interpretação da situação na Península da Coreia depois da iniciativa de Kim Jong-un foi mais um ponto entre os vários desacordos que se manifestaram durante as recentes visitas de Macron e Merckel a Washington.

Moon Jae-in não ignora que, devido à tutela militar de Washington sobre Seul, ele próprio pisa um terreno mais minado ainda que o do seu interlocutor do norte. Pelo modo como se envolveu nas negociações nacionais – «ansioso», segundo algumas análises – e, sobretudo, pelo conteúdo da declaração conjunta, deu passos que extravasam o espaço de autonomia que a tutela externa estipulou para um presidente do regime sul-coreano.

Ao longo de décadas, as sucessivas administrações norte-americanas têm encarado os fortuitos períodos de contactos entre o Norte e o Sul da Coreia como movimentos perfeitamente controlados pela envolvente externa, orientados segundo os objectivos estratégicos de Washington não apenas para a península, mas também para toda a Ásia e tendo em conta a relação de forças global. A estrutura de poder que gere efectivamente os Estados Unidos da América, chame-se «Estado profundo» ou «complexo militar e industrial», tem mantido, em relação à Coreia, uma política com duas variáveis estreitas: ou impedir a unificação; ou ditar os termos da unificação, designadamente de maneira a estender a presença militar para norte, em direcção às fronteiras com a China e com o território da Federação Russa.

A recente Declaração de Panmunjom define objectivos dos dois regimes coreanos que são incompatíveis com o status quo. «Paz, prosperidade e unificação» conduzidas «pelos coreanos»; o início de «uma nova era de paz»; a transformação do armistício vigente desde 1953 num «tratado de paz» e num «sólido e permanente regime de paz na Península da Coreia» são metas apenas alcançáveis num cenário sem qualquer tipo de ocupação militar estrangeira.

«[A Coreia do Sul tem] um regime onde os serviços secretos se designam KCIA e as forças armadas estão subordinadas ao comando operacional norte-americano»

É certo que, dias depois da cimeira, o regime sul-coreano emitiu um comunicado afirmando que a retirada das tropas norte-americanas – as únicas estrangeiras presentes na península – não está a ser encarada no âmbito deste processo.

Trata-se de um recuo aparente, uma espécie de abrigo contra os estilhaços da convulsão que a nova situação coreana está a provocar nos círculos de poder norte-americano. Porque, em termos práticos objectivos, não existe réstia de compatibilidade entre um tratado de paz e a manutenção de um contingente militar de ocupação, entre um «desarmamento faseado ao ritmo do alívio das tensões militares» e a continuação de um regime onde os serviços secretos se designam KCIA e as forças armadas estão subordinadas ao comando operacional norte-americano.

Em suma, a concretização das intenções manifestadas pelos presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte na Declaração de Panmunjom, designadamente a unificação, implica a independência da Península da Coreia, a desnuclearização de todo o território e a retirada das forças militares estrangeiras do país.

As «interpretações» ocidentais da Declaração de Panmunjom e a realidade

Na sua letra, a Declaração de Panmunjom manifesta uma intenção de ruptura assumida pelos dois presidentes. Contra a qual se erguem agora as teorias e análises impondo uma «releitura» do texto, algumas delas com tanta credibilidade, por exemplo, como as «provas» do recente ataque químico governamental sírio em Duma. É o caso da interpretação que explica como Kim Jong-un foi obrigado a suspender o programa nuclear porque a montanha que abriga o complexo militar e científico está a desabar; ou então a sua contrária, segundo a qual o presidente norte-coreano promete abdicar dos projectos militares nucleares enquanto continua a desenvolvê-los, e por isso não permitirá quaisquer inspecções internacionais. Um argumento falacioso para esconder a essência do que vai estar verdadeiramente em causa na cimeira entre o presidente norte-coreano e Donald Trump, caso se realize: o encerramento do programa nuclear de Pyongyang sob monitorização internacional em troca da retirada militar norte-americana do Sul da península. Este é o desafio lançado por Kim Jong-un, e cujas implicações Moon Jae-in, certamente, não ignora.

Uma proposta cuja recusa poderá deixar o presidente norte-americano isolado, até do próprio presidente da Coreia do Sul. O qual deve, desde já, precaver-se de quaisquer imprevistos, sendo o menos gravoso para a sua integridade física o pacífico, mas eficaz, golpe palaciano ao estilo paraguaio ou brasileiro.

Mas o que terá levado Donald Trump a aceitar o repto lançado pelo seu inimigo de estimação ao longo do primeiro ano de mandato?

Muito provavelmente porque tal lhe convém, uma vez que outro velho, mas renovado inimigo, entra em cena depois dos comprometedores fracassos dos justiceiros atlantistas na Síria: o Irão.

EUA: repousar na Coreia para atacar no Médio Oriente

Não apenas porque o Irão teve a ousadia de participar na resistência síria à agressão, ao lado da Rússia; também porque Teerão faz frente à reconfiguração do mapa do Médio Oriente, contribuindo para desmontar importantes mecanismos operacionais que a coligação entre Israel e a Arábia Saudita tenta impôr em toda a região, do Iémen ao próprio Irão, passando por Damasco e Beirute.

A agressão contra o Irão, uma obsessão com que Israel há muito tenta contaminar os aliados, e que partilha com o fundamentalismo saudita, estava prevista logo que a Síria se vergasse. Como isto não aconteceu, acumulam-se os indícios de que os dois países sejam agrupados num alvo comum, que provavelmente traduzirá numa catastrófica fuga para a frente. Daí as ameaças cada vez mais consistentes de Trump segundo as quais os Estados Unidos sairão do acordo com o Irão, reforçadas agora que Israel “descobriu”, certamente nos mágicos laboratórios do Mossad, as provas de que além dos tão falados projectos nucleares suspensos, Teerão ainda tem outros – mas esses ultra-secretos.

Na eventualidade de se registar uma maior concentração de esforços de guerra no Médio Oriente, até ao intrépido e omnipresente exército norte-americano convém que a frente da Coreia fique congelada por uns tempos, nem que seja alimentando conversações que darão em nada.

O pior, para as sempre periclitantes estratégias do Pentágono, é se os coreanos conseguirem trilhar em conjunto o caminho que tiveram a ousadia de abrir.

 

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por Augusta Clara às 15:50

Segunda-feira, 14.08.17

Adão Cruz escreve sobre o conflito entre os EUA e a Coreia do Norte

  

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   Nada tenho a ver com a Coreia do Norte, seja de que ponto de vista for, a não ser, como cidadão do mundo, a sua inclusão nos graves problemas que ameaçam, neste momento, o futuro da humanidade. Mas pergunto. Por que razão, a Coreia do Norte há-de ser tida sempre, em qualquer conversa ou opinião como agressora, quando não agrediu ninguém e foi vítima de históricas e indescritíveis agressões, continuando a ser vítima potencial de uma constante ameaça de destruição maciça?

Por que razão, numa tentativa de falso equilíbrio no arame ou na corda bamba, a maioria das pessoas procura dar uma no cravo e outra na ferradura sempre que se referem à loucura de Trump, não deixando de referir, em consciente falsa igualdade de circunstâncias, a loucura do maluquinho nortecoreano? Seria melhor pararem um pouco para pensarem, por respeito a si mesmas.

Sendo eu inimigo de armas, sobretudo armas nucleares, pergunto que direito divino permite a países agressores que tantas tragédias têm provocado, desenvolverem permanentemente e sem limite armas nucleares para liquidarem outros países proibidos de as desenvolverem? Hipocrisia monumental que a minha mente não consegue entender.

Eu penso que se acabasse de uma vez, nem que fosse por milagre, a ganância cleptomaníaca, salteadora e predadora do imperialismo americano, o mundo seria, como pensa Oliver Stone, muito mais pacífico.

 

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por Augusta Clara às 03:50

Sexta-feira, 30.08.13

Hay cosas que dan pena, que dan bronca y ganas de matar - Luís Sepúlveda

 

Luís Sepúlveda  Hay cosas que dan pena, que dan bronca y ganas de matar

 

 

   Hace algunos años estuve en Corea del Sur y mi intérprete, un joven coreano que había estudiado en Salamanca, desde el primer saludo y mientras íbamos del aeropuerto al hotel, intentó hacerme socio en un negocio de lencería  erótica que, según él, haría que nos forráramos en muy poco tiempo. Le dije que gracias,  que lo mío era escribir novelas, y que los negocios y yo estábamos condenados a fracasar. El tipo insistió, y cuando le dije que estaba cansado luego de veinte horas de vuelo, me entregó un catálogo de  lencería erótica recomendándome que pensara en su oferta, y al despedirse me dio un CD. "Es buena música de Corea del Norte", aseguró.

Pasó mucho tiempo hasta que me acordé de aquel CD y lo escuché. Naturalmente no entendí nada, pero la voz de la cantante era bella, muy sugerente, así que le escribí un  email al joven coreano, repitiéndole que no iba a ser su socio en el negocio de lencería erótica, y le pedí que, si todavía se acordaba del CD que me obsequiara, que me dijera el nombre de la cantante , porque en la carátula del CD todo estaba en coreano.

No tardó en responder, insistió en que me estaba perdiendo el negocio del siglo al negarme a ser su representante en España, país que él conocía muy bien, tanto como el frenesí de las españolas por la lencería erótica. Al final de su respuesta me decía que la cantante se llamaba Mun Hyong Jin y, según sus propias palabras- "es tan guapa que no parece coreana".

Con el tiempo, pasé el CD al ipod y de vez en cuando escuché esa voz melodiosa. Y hoy me entero que la cantante, Mun Hyong Jin está muerta, que el 20 de agosto la fusilaron junto a un número indeterminado de músicos de la orquesta Unhasu y de la banda de rock Wangjaesan, acusados de vender videos de contenido sexual en Corea del Norte y China.

Y recién me entero de que Mun Hyong Jin se llamaba en realidad Hyon Song Wol, y había sido novia, amante, compañera  sentimental del gordo hijo de la grandísima puta que dirige y destruye las vidas de los coreanos del norte  en nombre de un comunismo neanderthaliano que es la negación de todo, absolutamente todo el pensamiento comunista.

Así, la pobre Hyon Song Wol fue la  novia de Kim Jong Un ," el prometedor líder", hijo de Kim Jong Il, " el incorruptible líder" y nieto de Kim Il Sung, " el estimado y querido líder" fundador de la dinastía que condujo a Corea del Norte y a los coreanos a la edad de piedra. 

Cuando Kim Jong Il supo que su hijo Kim Jong Un, un gordo de mierda, fofo, patizambo y con un look que va del Frankenstein tarado al cerdito Porky, salía por las noches con la cantante Mun Hyong Jin, le ordenó terminar con esa relación "capitalista", le buscó otra novia que también canta,  y a la chica defenestrada la obligaron a casarse con un militar, posiblemente un  joven seguidor del estilo "Zu Je" de pensamiento político, no menor de setenta años en todo caso.

Y así, el recién pasado 20 de Agosto, el hijo de mil putas de Kim Jong Un , "el prometedor líder" firmó la sentencia de muerte de su ex novia y de un número impreciso de músicos.

Estoy triste, carajo, y bebo una copa de vino a la salud de Hyon Song Wol, que en mi ipod sigue cantando y llamándose Mun Hyong Jin.

 

 Hyon Song Wol, llamada también Mun Hyong Jin

 

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por Augusta Clara às 08:00



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