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Jardim das Delícias


Segunda-feira, 24.07.17

Não ando muito de escritas,... - Marcos Cruz

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Marcos Cruz  Não ando muito de escritas,...

 

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(actuação de Manel Cruz em Amarante, 23 Julho 2017)

   Não ando muito de escritas, há fases assim, mas até por me ser improvável gostava de rasgar este interregno com um testemunho sobre o momento artístico do meu irmão, Manel Cruz. Durante 16 anos, mais coisa menos coisa, cobri a cultura aqui a Norte pelo Diário de Notícias, tendo o início desse ciclo coincidido com o aparecimento dos Ornatos, a que nunca pude, como parte interessada que me reconhecia, dar atenção jornalística. Atravessei então toda a vida dessa primeira banda na qualidade de irmão, um privilégio, julgo eu, em face do que senti. Foram muitos momentos de arrepio, entre concertos incríveis, muito bons, bons, menos bons e até maus, foi um curso de emoções. Aquilo acabou, não interessa agora revisitar os porquês, e cada um deles, mais cedo ou mais tarde, se fez ao caminho. O Manel criou os Pluto, os Supernada, o Foge Foge Bandido e, após ter-se experimentado de forma diversa em todos esses projectos, assumiu-se finalmente em nome próprio. Não que andasse à procura de um novo registo onde pudesse fincar bandeira, isso não é, nunca foi e arrisco dizer que nunca será a cara do Manel. Tenho algum pudor neste tipo de discurso quando falo do meu mano, mas porque o amor é forte e ontem me emocionei vou deixar sair: o Manel é um artista. Um puto dum artista. Um gajo corajoso, bom, verdadeiro, que não desiste de lutar por aquilo em que acredita. Há poucos assim – eu, como ele, não conheço.

Para que não descambe aqui em lamechices, fico-me pela partilha de um texto que lhe enviei há uns meses e de que me lembrei ontem, com um sorriso na cara, a ver o concerto. E desculpem o tom de tudo isto.

"Pediu-me o Manel para escrever umas linhas sobre ele, por ser esse um palco a que não gosta de subir. O pudor da autorreferência sempre caracterizou o meu irmão, o que encerra um paradoxo interessante, na medida em que se há música reveladora da pessoa que a faz é a dele. Se recuar à nossa infância consigo vê-lo outra vez a brincar com os bonecos, empreendendo lutas, diálogos, celebrações e sonhos como quem constrói o seu próprio mundo. O desenho, que apareceu mais tarde, e a música, depois ainda, obedeceram à mesma pulsão: criar ilusões. Acontece que quando se é criança nos legitimam o espaço ilusório e, assim, mesmo brincando sozinhos estamos com os outros, somos o que é suposto sermos. Crescer implica, de certo modo, aceitar que há uma realidade, um planeta, mas a violência desse processo depende do que cada um de nós vai deixando em planetas anteriores. Ora, eu acredito que o Manel, tendo comprovadamente crescido e sustentado a sua residência neste chão, sente muitas vezes saudades das migalhas que de si foram voando pelo “existido”, como ele dizia quando era pequeno. Talvez, então, a arte seja para ele, entre os modelos de actividade que o planeta compreende, mais do que uma escolha, uma inevitabilidade. A nave onde rasga o universo à procura dos bonecos perdidos, dos desenhos perdidos, dos versos perdidos, das melodias perdidas, na esperança que não se lhe apaga de os poder vir a reunir, outra vez, lá mais à frente, e acabar a vida como a começou: brincando sozinho, com todos."

 

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por Augusta Clara às 15:49

Domingo, 12.07.15

ESPECTÁCULO - Carta de Amor Ao Vivo - Maria Bethânia

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Maria Bethânia  Carta de Amor Ao Vivo

 

 

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por Augusta Clara às 14:00

Quinta-feira, 29.08.13

Espectáculo no Arco da Rua Augusta

 

"Arco de Luz"

 

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por Augusta Clara às 17:00



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