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Jardim das Delícias


Terça-feira, 03.10.17

Os Burgueses - Augusta Clara de Matos

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Augusta Clara de Matos  Os Burgueses

 

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   Agora que os catalães entraram em luta, apareceu por aí, a torto e a direito, o termo burgueses como se estivéssemos no início da era industrial com a clássica divisão entre burguesia e proletariado.

No início dos anos 1980, Alain Touraine lançou o seu livro "O Pós-Socialismo" onde falava nas alterações que as sociedades estavam a sofrrer, sobretudo as de capitalismo mais desenvolvido, devido ao advento e rápida sofisticação da computerização e da informática. Nos anos 90, assisti a uma interessante conferência sua na Gulbenkian. Aí confirmou a análise que tinha feito no livro e actualizou-a com base em todo o conhecimento sobre as novas tecnologias e no modo como isso tinha influido na alteração do trabalho e das suas relações.

Mais umas décadas passadas e onde estão os burgueses e os proletários?

Os proletários são só os operários fabris? Trabalhadores agrícolas já praticamente não há. E os burgueses onde estão?

Quem leia as notícias que interessam - bem sei que é preciso andar com uma cana de pesca - já deve ter dado conta das inúmeras queixas de licenciados sujeitos a regimes de trabalho escravo pago por miseráveis quantias que pouco mais lhes chegam do que para a alimentação.

E onde andará a burguesia dos trabalhadores dos serviços públicos, por exemplo, ano após ano desapossados de tudo o que tinham sido as melhorias adquiridas após a queda das ditaduras que os tinham tornado reféns a troco da garantia de um posto de trabalho?

A grande maioria da população actualmente está "proletarizada". Aqui como em todo o mundo ocidental. Logo, também, na Catalunha.

Os outros já nem de burgueses merecem o nome. São, maioritariamente, os burlões e corruptos. Como o cunhado do rei Filipe VI, condenado mas que, devido ao seu estatuto familiar, foi cumprir a pena na pacata Suíça. Coitado do Filipe, nem tem coragem para abrir a boca perante as atrocidades do seu amigo franquista Rajoy. 

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por Augusta Clara às 15:36

Sexta-feira, 29.09.17

A Catalunha e os fantasmas de Espanha - José Goulão

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José Goulão  A Catalunha e os fantasmas de Espanha

 

 

Em síntese: a chamada transição para a democracia foi viciada através da reactivação abusiva da monarquia, regime rejeitado em referendo pelos povos de Espanha.

 

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O ditador fascista Francisco Franco, ao centro

 

 

abrilabril, 28 de Setembro de 2017

 

   A violência discricionária de Madrid e a chantagem de Bruxelas, fomentando todo um indisfarçável ambiente de condenação, desde os governos da União Europeia à NATO, são as respostas autistas à intenção das legítimas instituições democráticas catalãs de auscultar o povo sobre a independência da Catalunha, velha, culta e personalizada nação europeia.

O comportamento do governo de Madrid, invocando a autoridade do Estado Espanhol e as normas de uma Constituição que nunca deixou de ser transitória e contrária às vontades em seu tempo manifestadas pelos povos de Espanha, não é surpreendente e está dentro da lógica anacrónica de Rajoy e companhia. Estes não passam de neofranquistas aproveitando-se do facto de a transição política de 1975/1976 e a Constituição dela decorrente serem orientadas pela necessidade de salvaguardar o essencial dos interesses franquistas e da monarquia, embora sob uma capa democrática, perante as urgências suscitadas por dois acontecimentos que desaconselhavam a inércia: a morte de Franco e a revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974.

O franquismo assumiu, por isso, as rédeas da transição fazendo o rei Juan Carlos suceder a Franco assim que este morreu e, com excepção de poucos, incipientes e colaboracionistas intervalos assegurados depois por «terceiras vias» socialistas, mantém-se à frente do Estado, chame-se o presidente do governo Aznar ou Rajoy e o Bourbon de turno Juan Carlos ou Felipe.

Em síntese: a chamada transição para a democracia foi viciada através da reactivação abusiva da monarquia, regime rejeitado em referendo pelos povos de Espanha.

É importante notar, contudo, o empenhamento da União Europeia em travar a simples manifestação democrática de opinião do povo da Catalunha sobre a independência ou não independência. Uma animosidade que teve como sonoro porta-voz o anterior presidente da Comissão, Durão Barroso – ou não fora ele um confrade de Aznar no lançamento da guerra para desmantelamento do Iraque – e que prossegue nas atitudes dos actuais dirigentes.

Apenas por pura ingenuidade poderíamos admitir que figuras como Juncker, Draghi, Mogherini, Georgieva, Dombrowskis, Tusk, Moedas e outros que tais conhecem a história europeia e a importância que nela tem a secular nação catalã, sobretudo quando comparada com Estados de conveniência brotando como cogumelos, aqui e ali, consoante os interesses que determinam o que deve acontecer no continente.

Os tecnocratas citados comportam-se como se a história do velho continente se resumisse às ordens, estatísticas, gráficos e powerpoints que recebem das entidades e interesses que lucram com a existência da União Europeia, a qual tem tanto a ver com a história da Europa como as fábulas difundidas a propósito das intenções atribuídas aos «pais fundadores».

Nessa sabedoria dos eurocratas não cabem, como é óbvio, as razões de ser do que acontece na Catalunha nem o respeito pela vontade dos catalães, ainda que manifestada livremente e através do voto democrático. Pelo contrário, Bruxelas apoia sem rebuço o governo de Madrid quando este viola princípios elementares do Estado de direito para impedir que os cidadãos catalães se pronunciem democraticamente sobre o seu futuro.

Esta União Europeia, no entanto, é a mesma que não teve qualquer hesitação em acolher no seu regaço, apressadamente, sem rigor nem exigências impostas a outros Estados membros, nações separatistas como a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Eslovénia, a Croácia; uma União Europeia que não se privou de, à boleia da NATO, sujar as mãos com sangue de centenas de milhares de inocentes para esfrangalhar a Jugoslávia e criar uma ninhada de Estados, alguns deles aberrações que não passam de simples protectorados sob tutela de exércitos estrangeiros, como são os casos da Bósnia-Herzegovina, do Kosovo ou do Montenegro.

É verdade que estes territórios têm as suas histórias próprias, as suas culturas intrínsecas integradas no todo Europeu; sendo assim, o que dizer então da ancestral Catalunha, da sua essência nacional, da sua riqueza histórica e cultural, da coragem e da capacidade de realização do seu povo?

«Espanha tem pela frente o confronto com os efeitos da bomba de relógio montada há 40 anos por via de um processo de transição egoísta e egocentrista, falso e politicamente desonesto, procurando instaurar um franquismo "renovado" através da imposição autocrática de uma monarquia que fora rejeitada pelo povo.»

O que está em causa, portanto, não é o direito dos povos a terem os seus Estados, a poderem decidir sobre as suas dependências e independências. O que ressalta à vista, de maneira flagrante, é que as entidades com poder de decisão à escala supranacional, neste caso a União Europeia e a NATO, espezinham os princípios pelos quais dizem guiar-se e recorrem à pura e simples arbitrariedade quando lhes convém, negando hoje as certezas em nome das quais ontem até promoveram guerras.

Ora desfazem a Líbia, segmentam o Iraque, esfacelam a Síria, como desmembraram a Jugoslávia – sem curarem de proteger os seres humanos das consequências dos seus actos, nem precaverem o futuro daqueles que ainda o têm – ora recorrem a pressões, sanções e chantagens para impedir o acesso à independência de velhas e históricas nações como são a Catalunha, a Escócia ou o País Basco.

Os contornos do frente-a-frente entre Madrid e Barcelona são bem conhecidos, mas podem atingir agora proporções que ameaçam ressuscitar velhos fantasmas em Espanha, como sempre devido à intransigência e à violência do poder central.

A invocação da Constituição é, em Rajoy e na casa real, a versão moderna do argumentário unificador dos reis católicos, em fins do século XV, continuado por Franco no seu interregno de monarquia com rei entre parêntesis, e reassumido através das habilidades da transição para garantia da sobrevivência do Estado unificado, então envernizado com a democracia e autonomias que não conseguem convencer os «autonomizados».

Pelo meio ficou muito daquilo que dá razão à Catalunha e torna inquestionável a essência de tendências centrífugas de novo vivas em Espanha: continuar o processo sufragado pelos espanhóis nos anos trinta e que foi abruptamente interrompido pela sangrenta irrupção fascista. 

No referendo de 1931 os espanhóis decidiram-se pela república e abriram as portas para que as nações aglutinadas sob a designação de Espanha decidissem elas mesmas sobre os rumos a tomar. Contudo, para restaurar a democracia depois da inquisição franquista, em 1976, instituições e dirigentes não eleitos impuseram-lhes a monarquia como se nada tivesse acontecido – e não se fala mais nisso.

Os franquistas que habilidosa e oportunisticamente assumiram o processo de transição em 1975, de mãos dadas com o rei, com as costas protegidas pelo intocado aparelho repressor militar franquista, e sempre com a bênção da reaccionária hierarquia católica, fizeram de conta que a vontade legitimamente manifestada pelos espanhóis antes do golpe e da guerra civil perdera validade; e proclamaram hipocritamente a restauração plena da monarquia como uma garantia de paz, estabilidade, unidade e democracia.

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É contra este imobilismo anacrónico da trindade rei, pátria e igreja católica que a Catalunha se vem movimentando, tentando retomar o fio à história sem golpes nem violência, apenas através do uso do voto pelos seus cidadãos em referendo decidido pelo Parlamento Autonómico, livre e democraticamente eleito.

Madrid responde procurando eternizar os efeitos do golpe franquista, recorrendo à violência numa escalada provocatória muito bem conhecida e ainda presente na memória de tantos espanhóis, demonstrando que, ao-fim-e-ao-cabo, os interesses por detrás de Rajoy são os mesmos que o Caudillo servia. Uma agressão irresponsável, que provoca reacções do mesmo tipo onde, antes disso, havia mecanismos democráticos em funcionamento e uma sociedade interrogando-se legitimamente sobre a necessidade de mudar, ou não, de rumo.

Na paralela guerra da propaganda nota-se que muitas vezes se agita, de maneira falaciosa, o argumento segundo o qual o processo de consulta popular é um instrumento monopolizado pela direita nacionalista, interpretação objectivamente falsa porque as correntes políticas que apoiam a convocatória, ou não se lhe opõem, percorrem todo o espectro político catalão.

De qualquer modo, achar que existe um pecado original na circunstância de o governo autonómico em funções ser oriundo da direita nacionalista é o mesmo que ilegitimar a restauração da independência portuguesa porque os conjurados, interpretando, sem dúvida, a vontade do povo, eram os Bragança e outros aristocratas, provavelmente muito mais interessados em fazer luzir os seus títulos e interesses de casta do que preocupados com o sofrimento do povo sob o domínio estrangeiro.

«Impedir a realização do referendo, ou declarar a sua nulidade, nunca serão vitórias definitivas do governo de Madrid, mas apenas obstáculos transitórios e traumáticos»

Percebe-se a inquietação dos sectores centralistas espanhóis com a situação na Catalunha. Os acontecimentos actuais desenvolvem-se em território catalão, mas este não é estanque; ali bem perto, na vizinhança e sempre com mil cuidados, outra velha nação, o País Basco, está madura para dar o mesmo passo – também à luz do regresso ao caminho da história, que Guernica relembra inapelavelmente.

Perante a dramática degeneração do conflito ouvem-se apelos frequentes que esbarram em impossibilidades enquistadas: a Madrid pede-se a serenidade, a capacidade de diálogo democrático e o bom senso que Madrid não tem; a Barcelona pede-se o recuo no referendo, quando este é um percurso histórico conscientemente assumido, e com décadas de atraso, que Barcelona não quer abandonar.

Para já, a opção repressiva adoptada pelos sectores centralistas de Madrid pode suscitar um clima de violência de tal modo generalizado que será capaz de acordar velhos e assustadores fantasmas em toda a Espanha, mesmo os mais adormecidos. Impedir a realização do referendo, ou declarar a sua nulidade, nunca serão vitórias definitivas do governo de Madrid, mas apenas obstáculos transitórios e traumáticos – com repercussões no presente e no futuro – num caminho que os catalães já decidiram percorrer.

Além disso, a política autista e trauliteira de Madrid terá como consequência o reforço da mobilização da Catalunha e a intensificação dos esforços para que a questão da independência passe a dominar toda a agenda dos assuntos políticos espanhóis, situação que acabará por se virar contra o governo central e mergulhará o país numa crise de identidade que terá de ser resolvida.

Espanha tem pela frente o confronto com os efeitos da bomba de relógio montada há 40 anos por via de um processo de transição egoísta e egocentrista, falso e politicamente desonesto, procurando instaurar um franquismo «renovado» através da imposição autocrática de uma monarquia que fora rejeitada pelo povo.

Os mentores da transição consumaram a parte política do golpe de Franco em 1936 – liquidar a república – e chamaram democracia a esta manobra. Nenhum país vive em paz e para sempre sob os efeitos de uma mentira com esta envergadura. Com a agravante de a casa real ser um dispositivo luxuoso, provocatório e comprovadamente corrupto.

Pelo que, além das movimentações secessionistas que se registam em nações de Espanha, e não apenas na Catalunha, o que está globalmente em causa, por detrás do clima de degeneração político-policial entre Barcelona e Madrid, continua a ser o confisco da legitimidade aos povos de Espanha quando estes proclamaram a república.

Fizeram-no em referendo, no ano distante de 1931; percebe-se, portanto, por que o centralismo madrileno nem quer ouvir falar em consulta popular que evoque esse tempo histórico, ainda que indirectamente. Porém, fugir ao problema, tal como soltar as hordas fascistas, como fez Franco, não é solução. Ele continua a existir e a assombrar.

Nada mais natural, neste ambiente, que os fantasmas supostamente enterrados com as centenas de milhares de vítimas da guerra civil só sosseguem quando o país regressar aos caminhos históricos legitimamente definidos.

Espanha enfrenta uma hora de grandes e indispensáveis decisões, que apenas foi conseguindo adiar iludindo-se com uma estratégia que tem prazo de validade – mesmo que não inscrito em qualquer rótulo.

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por Augusta Clara às 16:15

Segunda-feira, 06.07.15

O direito à dignidade - José Goulão

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José Goulão  O direito à dignidade

 

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Mundo Cão, 6 de Julho de 2015

 

   De um lado um grito de dignidade; do outro a surdez e o manobrismo irresponsável do costume.

A senhora Merkel e o senhor Hollande responderam à declaração clara e transparente do povo grego de que não aceitam continuar a pagar com austeridade mortal os erros que não lhe podem ser assacados, assumindo que é preciso respeitar a vontade manifestada nas urnas. No entanto, o espectáculo que as instituições europeias estão a dar no arranque do pós-referendo, e ainda a procissão vai no adro, é o de um circo de manobras e declarações onde se percebe tudo menos o desejo de respeitar a mensagem grega.

Isto é, no seu formalismo habitual, os chefes do Directório que dá ordens na União Europeia proclamaram o respeito pela democracia; e logo os seus subordinados voltaram ao mesmo comportamento chantagista, com destaque para o inenarrável socialista holandês Djesselboem, que chefia a Zona Euro – uma espécie de pau mandado do senhor Schauble às ordens dos especuladores financeiros - em cujas declarações apenas se lê um desejo de vingança e de ajuste de contas contra os gregos. Entretanto, em segundo tempo, a senhora Merkel contradiz o que declarou poucas horas antes advogando que “ainda não há condições para recomeçar as negociações entre a União Europeia e a Grécia”. Por outras palavras, quiseram democracia e agora esperem para dançar a música que nós tocamos.

O ministro grego Varoufakis terá sido uma das primeiras vítimas deste manobrismo, a acreditar na versão oficial de Atenas. Não custa nada perceber, relendo declarações proferidas por alguns dirigentes europeus, que o afastamento do ministro que não se arrojava aos pés dos mandantes europeus e do FMI às ordens dos credores seja uma das condições impostas para o reinício das negociações. Os senhores da Europa, que chamam terroristas a quem lhes aprouver e convenha, estão muito indignados por o senhor Varoufakis lhes ter chamado terroristas a propósito da campanha de intimidação, medo e terror que montaram para que os gregos respondessem sim à austeridade. Afinal não é de Varoufakis que pretendem vingar-se, é dos gregos, contra quem o terrorismo não funcionou.

No domingo, a povo grego não se limitou a reabilitar a democracia como instrumento ao serviço de todos os europeus – assim o saibam aproveitar liquidando, país a país, a ditadura do chamado arco da governação.

Os gregos reabilitaram também o direito à dignidade e, para isso, derrotaram a monstruosa campanha de propaganda local, com ecos mundiais, que a si mesma se chama comunicação social; derrotaram a chantagem contra a democracia emitida de Bruxelas, prometendo o caos no caso de o não vencer; torpedearam o terrorismo do Banco Central Europeu, que tentou criar a anarquia nos bancos gregos seguida de um esvaziamento dos cofres através da fuga de capitais em massa; por fim, derrotaram ainda as sondagens – não nos esqueçamos do papel nefasto destas contra a democracia – que prometeram um “empate técnico” até ao derradeiro instante num referendo em que as duas partes ficaram, afinal, separadas por um fosso superior a 22 pontos percentuais. Isto é não “margem de erro”, nem “engano”, nem fruto de “situações imprevisíveis”. Isto foi, sem qualquer margem de erro, uma burla.

Ao darem um tão sonoro grito de dignidade, os gregos vão precisar de ser firmes e de contar com a solidariedade dos outros povos europeus vítimas desta tragédia, porque o contra-ataque vai ser terrível. Não é possível pagar a dívida grega e não é por isso que existe qualquer legitimidade em chamar caloteiros aos cidadãos da Grécia em geral. Em primeiro lugar, as dívidas renegoceiam-se, reestruturam-se de maneira a que seja criadas condições de crescimento económico e de funcionamento pleno das economias para que possam ser amortizadas.

Além disso, não são os gregos em geral, e entre eles as maiores vítimas da austeridade, os responsáveis pelo estado calamitoso a que chegou a dívida soberana do país. Os vícios de corrupção, nepotismo, evasão fiscal, de viver acima das possibilidades são fruto de décadas de governação desempenhada pelas duas famílias políticas que formaram o arco da governação, agora desfeito na Grécia – socialistas (PASOK) e direita - em conluio com os bancos nacionais e internacionais, entre eles o famigerado Goldman Sachs, como se sabe. Foram elas que fizeram chegar a dívida a 120 por cento do PIB, quando soaram as campainhas de alarme, e que depois disso, rastejando perante Bruxelas e a troika, se submeteram a um memorando de “ajuda” que a fez trepar, até agora, para 170 por cento do PIB.

O primeiro ministro de Portugal em exercício disse, a propósito da Grécia, que não se pode ajudar quem não quer ser ajudado. Está a ver o filme ao contrário, tal como lhe acontece em relação a Portugal: a Grécia (e os outros países assim submetidos) não têm recebido ajudas, têm sido assaltados e saqueados. Os gregos limitaram-se a dizer, pela segunda vez em seis meses, que não querem continuar a ser roubados.

 

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por Augusta Clara às 15:50

Segunda-feira, 06.07.15

A Reabilitação da Democracia - José Goulão

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José Goulão  A Reabilitação da Democracia

 

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Mundo Cão, 5 de Julho de 2015

 

   Antes que a realidade dos números seja pasto das análises e da torrente de futurologia que aí vem, vamos aos factos que é fundamental reter desta lição que os gregos e o seu governo deram a toda a Europa.

A geração actual dos gregos mostrou ser digna da herança deixada há mais de 75 anos pela resistência aos invasores alemães. O povo grego não disse apenas não à austeridade, disse não à subserviência, aos governos de protectorado estrangeiro e à troika. E fá-lo pela segunda vez em seis meses, para que não restem dúvidas.

O fosso entre o não e o sim, entre a dignidade e a subserviência, é tanto mais admirável quanto é certo ter sido cavado perante uma poderosíssima campanha de intimidação, terror e mentira com que a Grécia foi bombardeada desde que foi anunciado o referendo. Os gregos não se limitaram a ser dignos e a ter vontade própria. Foram lúcidos e, sobretudo, muito corajosos frente a práticas que decorrem de mentalidades terroristas.

Os dirigentes da União Europeia têm-se escudado numa suposta legitimidade democrática argumentando que além de não haver alternativa à austeridade ela é compreendida pelos povos dos Estados membros. O castelo de cartas da propaganda ruiu.

Uma das circunstâncias que provavelmente inquieta neste momento a clique que manobras as instituições europeias é o facto de este referendo não ter volta. Até agora, sempre que uma consulta popular  no espaço europeu tinha um resultado contrário ao pretendido por Bruxelas repetia-se as vezes necessárias até que os números fossem satisfatórios. Foi assim na Holanda, em França, na Irlanda, onde os governos alinharam nessas mascaradas de democracia. Na Grécia não vai ser assim: o povo decidiu, está decidido.

O que os gregos cometeram nesta jornada memorável no espaço europeu foi o acto heróico de reabilitar a democracia como instrumento contra a viciação austeritária. Fica muito bem terem sido os gregos a fazê-lo. Além da simbologia que traduz, é a mensagem de esperança que o povo mais sacrificado pela crueldade dos especuladores financeiros envia a todas as outras vítimas da mesma tragédia.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Domingo, 05.07.15

Os gregos comemoram na rua a vitória do "NÃO"

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Os gregos comemoram na rua a vitória do "NÃO"

Grande lição de dignidade e democracia!

OBRIGADA GRÉCIA!

 

 

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por Augusta Clara às 20:38

Sábado, 04.07.15

Ontem em Atenas - Discurso de Alexis Tsipras dobrado em inglês

 

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“Virem as costas aos que vos aterrorizam”

 

 

Filmagem aérea da concentração

 

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por Augusta Clara às 08:00

Quinta-feira, 02.07.15

Vivemos numa Europa dominada pelo medo e pela chantagem - Alfredo Barroso

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Alfredo Barroso  Vivemos numa Europa dominada pelo medo e pela chantagem

 

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   Em Atenas, medo e chantagem estão a fazer o seu trabalho. «Madamas» e «escaravelhos» da direita - gentalha que respira ódio contra a esquerda e pouco ou nada sofre com a austeridade - já estão a levantar a cabeça e a proclamar que vão votar «sim» e aceitar às imposições dos credores (UE, FMI, BCE, banca, mercados financeiros) para derrubar o governo de esquerda apoiado pelo Syriza. E o Partido Comunista grego quer dar uma ajuda, apelando à abstenção contra o Syriza.

Eurocratas e plutocratas, que controlam e financiam os partidos de direita - e seus lacaios social-democratas (?), socialistas (?) e trabalhistas (?) - infelizmente no poder em quase todos os países da União Europeia, estão a ganhar a campanha de chantagem e medo para banir o «mau exemplo» dado por um governo corajoso que ousou fazer frente à «muralha do dinheiro» que domina a Europa.

Não me surpreenderia com o regresso ao poder, em Atenas, dos vassalos da eurocracia e da plutocracia - o partido da Nova Democracia, com o PASOK pela arreata - e que esse vírus ultraliberal e reaccionário inoculado por Bruxelas, ou, mais exactamente, pela Alemanha de Merkel e Schäuble, acabe por contaminar os países submetidos a brutais políticas de austeridade.

É tempo de nos prepararmos para o pior e apelar à resistência contra esta direita ultraliberal e reaccionária, que quer intimidar as populações com a linguagem da chantagem e do medo, para assim impor mais austeridade e prosseguir na sua campanha contra o Estado Social e tudo o que é público. Os políticos que nos governam são cruéis e medíocres, a soldo dos plutocratas e eurocratas. Se vencerem, vão fazer-nos penar por muitos e maus anos.

 

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por Augusta Clara às 10:00

Quinta-feira, 02.07.15

Perante a forte campanha da direita e das instituições da UE ...

 

... com o objectivo de derrubar o Governo grego, campanha a que a comunicação social não se tem fartado de dar voz, Alexis Tsipras dirigiu-se ontem aos gregos com as seguintes palavras (tradução em inglês):

 

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por Augusta Clara às 08:00

Terça-feira, 30.06.15

Estratégia golpista de medo e terror - José Goulão

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José Goulão  Estratégia golpista de medo e terror

 

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  Uma primeira informação: o governo grego não decidiu encerrar os bancos durante uma semana porque lhe apeteceu e no âmbito de uma qualquer jogada maquiavélica: foi obrigado a isso devido ao facto de o Banco Central Europeu (BCE), entidade chave de um processo ditatorial instaurado pelos mercados financeiros, ter mantido o programa da troika mas secando a liquidez dos bancos gregos.

O que o BCE fez, como grupo de assalto ao serviço das várias instituições europeias que mais não são do que paus-mandados dos credores extorsionistas, faz parte de um processo de sabotagem económica para aterrorizar o povo grego de modo a que vote “sim” à continuação da austeridade no referendo do próximo domingo. O que o BCE está a fazer, em nome da União Europeia, é terrorismo, bandidismo puro.

O que o governo grego fez, em resposta, foi tentar salvaguardar os salários e poupanças dos cidadãos.

Os portugueses que já têm mais anos e tiveram a sorte de viver o 25 de Abril recordam-se que a sabotagem económica foi um dos processos imediatos de resposta do fascismo para travar a revolução. Da sabotagem económica nasceu, por exemplo, a tentativa de golpe fascista da “maioria silenciosa”, uma maioria que os promotores julgavam aterrorizada, em 28 de Setembro de 1974.

O BCE/UE/agiotas faz agora exactamente a mesma coisa: aplica uma estratégia fascista e terrorista – sem dúvida em clima de golpe de Estado -  para procurar alcançar os objectivos de minorias à custa da miséria, da fome, do descalabro da vida do povo grego. Para os próceres com mentes fascistas que agem em nome da chamada “democracia europeia”, 27 por cento de quebra continuada do PIB grego, uma dívida que não para de crescer devido aos mecanismos impostos para a pagar, um desemprego que atinge mais de um terço da população activa e mais de 55% dos jovens, a razia absoluta nas pensões, nos salários, nos serviços públicos, nos acessos a bens essenciais como água e electricidade ainda não chegam. É preciso vergar mais e mais o povo grego, recorrendo para isso à manobra humilhante de tentar obrigá-lo a pedir de joelhos por favor continuem com a troika, queremos mais austeridade e obrigado por isso.

É nesta Europa que vivemos hoje. Uma Europa onde as instituições que se proclamam “democráticas” atiçam um bando de tecnocratas não eleitos, o BCE, contra um povo indefeso encafuado num beco em que é obrigado a decidir por um problema entre dois: sair do euro ou pedir por amor de deus a continuação da austeridade.

Em minha opinião, mas é a minha e não sou grego embora hoje me sinta como tal, a saída do euro seria a resposta digna, porque a Grécia retomaria instrumentos de decisão que agora não lhe pertencem. Mas é apenas uma opinião, cabe aos gregos decidir num contexto de medo e terror que lhes foi imposto em nome daquilo a que, com a cumplicidade de uma comunicação social que não pensa, apenas papagueia, chamam “ajuda”.

O governo grego fez bem em convocar o referendo. É o recurso à democracia contra mentalidades fascistas. Num duelo desigual de David contra Golias, o mais fraco procura na força da união as energias indispensáveis para enfrentar as armas de terror e liquidação contra as quais é obrigado a combater.

Aconteça o que acontecer, percebamos uma coisa: o que está a acontecer na Grécia tem tudo a ver connosco. Não tenhamos ilusões, a mafia terrorista que montou esta estratégia contra a Grécia aplicá-la-á contra Portugal, contra qualquer outro país que desafie as suas vontades absolutas. Ao tentarem trucidar a dignidade do povo grego, as instituições europeias, minadas por mentalidades fascistas, estão a enviar um recado sangrento em todas as direcções: se não querem que o mesmo vos aconteça portem-se bem, não deixem nunca de escolher o arco da governação e a troika, não pode haver outro caminho. Pelo que a estratégia de terror imposta aos gregos também nos atinge, e não é de raspão. A escolha não é fácil, mas existe: tempos difíceis e sem dignidade dentro do euro; tempos difíceis, mas com dignidade e capacidade de decisão (o mundo não se esgota, felizmente, na União Europeia) fora do euro.

 

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por Augusta Clara às 08:00

Segunda-feira, 29.06.15

O protesto na Grécia é gigantesco - OXI (NÃO à chantagem da UE)

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   A Praça Syntagma, em frente ao Parlamento grego, a Avenida Amalias que parte da praça e todas as ruas adjacentes estão repletas de gente em apoio ao Governo de Tsipras.

 

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por Augusta Clara às 21:30



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